Brasil não vai cumprir meta de universalizar saneamento básico, diz CNI
- 12/01/2016 21h58
- Brasília
Gilberto Costa - Repórter do Radiojornalismo
“No ritmo atual, vai demorar muito para o Brasil ter a universalização, especialmente na coleta de esgoto, que é a coisa mais grave. 2054 a Deus pertence, está muito longe”, lamenta o gerente de Infraestrutura da CNI, Wagner Cardoso, responsável pelo estudo Burocracia e Entraves no Setor de Saneamento.
A data prevista pelo governo federal para a universalização é 2033, último ano do Plano Nacional de Saneamento Básico.
De acordo com o estudo da CNI, com base no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, 52,4% dos municípios da Região Norte têm água encanada e 6,5% têm rede para coleta de esgoto. O índice de tratamento do esgoto gerado na região é inferior a 15%. A média nacional é 82,5% de água encanada, 48,6% de coleta de esgoto e 39% de tratamento.
Diante do contexto de aumento de casos de dengue, febre chikungunya e vírus Zika, o gerente de Infraestrutura da CNI avalia que “custa muito caro não ter saneamento no país, principalmente nas internações hospitalares”. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cada dólar gasto com saneamento básico economiza US$ 4,3 em gastos com saúde.
Desperdício
Além dos problemas de acesso ao saneamento, o estudo da CNI aponta o elevado índice de perda na distribuição de água. Em valores monetários, o desperdício e o roubo de água fazem com que de cada R$ 100 gastos para fornecer água, apenas R$ 63 sejam faturados pelas companhias de abastecimento. Segundo Wagner Cardoso, a água é perdida por causa da falta de junta nas tubulações, canos furados e uso de equipamentos velhos na distribuição.
A perda de água é ainda pior na Região Norte, onde mais da metade da água captada (50,8%) não chega aos domicílios, aponta o levantamento.
Para o gerente de Infraestrutura da CNI, há um “círculo vicioso” que perpetua os problemas de fornecimento de água. “Nós temos um sério problema de planejamento urbano e esse é um dos problemas que afeta a eficiência também. Não é só um problema, a gente tem burocracia, tem falta de recurso, tem perdas, tem roubo de água, tem um planejamento muito ruim, tem baixa eficiência das empresas de saneamento”, listou.
No estudo, a CNI também faz críticas à “falta de estrutura na regulação”, relata “dificuldades de financiamento”, reclama do “excesso de tributação” e aponta para a “baixa qualidade dos projetos de engenharia e lentidão nas obras” do setor de saneamento no país.
“Entre o projeto ser descrito no papel e começar demoram 22 meses em média. É um tempo muito longo para o financiamento e a cidade vai se transformando”, descreve Cardoso.
Procurado pela reportagem, o Ministério das Cidades, responsável pelas políticas de saneamento, não comentou as informações divulgadas pela CNI até o fechamento desta matéria.
Edição: Luana Lourenço
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