quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Políticos e partidos repercutem delação de Cerveró




  • 12/01/2016 20h23
  • Brasília
Mariana Jungmann – Repórter da Agência Brasil
A divulgação recente de trechos do depoimento, em delação premiada, do ex-diretor da Petrobras e da BR Distribuidora Nestor Cerveró, no qual cita pagamentos de propina e distribuição de cargos das estatais a partidos e políticos, provocou a divulgação de diversas notas públicas hoje (12).


O presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL), negou que tenha participado das reuniões mencionadas por Cerveró e disse que já prestou as “informações requeridas”, mas que está à disposição para “quaisquer novos esclarecimentos”.

Depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) Mista da Petrobras do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró (Wilson Dias/Agência Braisl)
 Ex-diretor da Petrobras e da BR Distribuidora Nestor CerveróArquivo/Agência Brasil
O depoimento de Cerveró é o primeiro que cita que Renan participou, pessoalmente, de reuniões para tratar do repasse de propinas da Petrobras. Segundo o delator, foram duas reuniões, uma em 2009, no Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, e outra em 2012, no gabinete do senador.


Nesta última, segundo o delator, Renan reclamou da suspensão do repasse de propinas e foi comunicado, por Cerveró, de que não estava mais arrecadando dinheiro, depois de ter saído da diretoria da Petrobras e passado para a diretoria da BR Distribuidora. Neste momento, segundo divulgado pela imprensa, Renan teria anunciado que não ofereceria mais apoio político a ele. O presidente do Senado nega tudo.


O depoimento de Cerveró também cita o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o delator, Lula era-lhe grato por ter ajudado a quitar um empréstimo do PT de R$ 12 milhões e, por isso, o colocou no cargo de diretor financeiro da BR Distribuidora, em 2008. Cerveró teria intermediado para que o Grupo Shahin fechasse um contrato de R$ 1,6 bilhão com a Petrobras, na época em que era diretor da estatal. O empréstimo do PT havia sido contratado pelo pecuarista José Carlos Bumlai com o Banco Shahin.


Por nota, o Instituto Lula disse que o ex-presidente já prestou todos os esclarecimentos à Polícia Federal referentes a esse assunto. Ouvido na condição de informante – “já que não é investigado e sequer foi arrolado como testemunha na chamada Operação Lava Jato” – Lula afirmou que Cerveró foi nomeado diretor da Petrobrás e da BR Distribuidora por indicação de partido da base aliada, segundo a nota.


O instituto negou, ainda, que Lula tenha tido qualquer relação pessoal com Cerveró, bem como qualquer sentimento de gratidão por ele.


Outro citado, que rechaçou as informações vazadas à imprensa, do depoimento de Nestor Cerveró, foi o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL). O delator relatou ter participado de reunião na Casa da Dinda, residência do senador, em Brasília, em 2013, quando era diretor da BR Distribuidora. Na ocasião, ele disse que Collor declarou ter tido reunião com a presidenta Dilma Rousseff na qual ela havia repassado ao senador o controle sobre as indicações para a presidência e diretorias da subsidiária da Petrobras.



Por nota, a assessoria de Fernando Collor disse que ele só esteve nas dependências da BR Distribuidora uma vez, para tratar de assunto de interesse do estado de Alagoas, que passava por situação de “calamidade pública de repercussão nacional”.


“Registre-se que, na ocasião, o pleito de interesse do estado não foi atendido, o que dá a justa medida da nenhuma influência do senador sobre a diretoria da referida empresa”, afirmou, em nota.


Segundo informações divulgadas pela imprensa, Cerveró fez ainda menção a cargos distribuídos para PMDB, PT e PTB. Os dois primeiros partidos não quiseram comentar, e o PTB informou que não faz indicações de cargos no governo e, ainda, que eventuais indicações feitas por parlamentares são de responsabilidade pessoal de quem o fizer.



Ontem, reportagens sobre a delação do ex-diretor da Pebrobras e da BR Distribuidora informaram, também, que ele relatou que a compra de uma empresa argentina pela petroleira brasileira envolveu o pagamento de propina de R$ 100 milhões ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Nesse caso, o delator não disse ter participado das negociações, mas ouvido falar sobre as mesmas, de um diretor da companhia vendida à Petrobras.


Em sua página no Facebook, Fernando Henrique Cardoso classificou a declaração de “vaga” e disse que esse tipo de depoimento tem o intuito de confundir as investigações.


“Afirmações vagas como essa, que se referem genericamente a um período no qual eu era presidente e a um ex-presidente da Petrobras já falecido, sem especificar pessoas envolvidas, servem apenas para confundir e não trazem elementos que permitam verificação”, disse, em sua página pessoal.


Edição: Maria Claudia

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