Presidentes dos EUA, Barack Obama, e da China, Xi Jinping, em Pequim.

 

Vai ser no próximo dia 22 o início da assinatura dos países que ajudaram a bater o martelo do Acordo Climático em Paris, no fim do ano passado, para baixar as emissões de carbono e, assim, tentar conter o aquecimento a um limite de 1,5 grau Celsius até o fim do século. 

E, numa espécie de recado para os demais países, Estados Unidos e China, que juntos emitem 40% de gases poluentes de todo o planeta, já fizeram um anúncio oficial, no fim da semana passada, afirmando que serão os primeiros a assinar. O anúncio, que corrobora o pacto feito pelos dois países em novembro de 2014 e reanunciado em setembro de 2015, foi recebido com euforia por Ban Ki-Moon, secretário das Nações Unidas.

“O Secretário Ban Ki-Moon congratula os dois líderes e incita os demais a aderirem ao Acordo a partir do dia 22, quando será aberto para as assinaturas. É preciso isso para que o Acordo de Paris possa entrar em vigor o mais cedo possível”, escreveu Ban no site da ONU.

Vale lembrar que o Acordo pode entrar em vigor desde que tenha a confirmação de pelo menos 55 países, que respondam por 55% das emissões mundiais de Gases do Efeito Estufa.

No site da Casa Branca , o texto sobre o anúncio da assinatura do Acordo convida os outros líderes a juntarem-se aos dois para “promover a plena implementação do Acordo de Paris e vencer a luta  contra a ameaça climática”. E traça algumas linhas sobre medidas que podem ser tomadas a fim de, efetivamente, e para além de uma assinatura e de um encorajamento de outros presidentes, fazer baixar as emissões. 


Entre elas, está o compromisso de colocar o tema na pauta da reunião do G20 (grupo formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia)  que, este ano, vai acontecer na China em setembro.

Os dois presidentes dos países mais poluentes do mundo pretendem também ampliar a cooperação bilateral em grupos de trabalho como o US-China Climate Change Working Group, criado em 2013, quando o secretário John Kerry visitou o país. O foco de China e Estados Unidos é tentar diminuir a pegada de carbono usando fontes de energia mais limpas. Os norte-americanos ainda são petróleo dependentes, embora tenha uma promessa de investir em eólicas a ponto de torná-la a principal fonte energética até 2050. Já a China possui uma das maiores reservas de  carvão do mundo, e usa o mineral para fornecer cerca de 70% de sua energia nacional. No pacto com os Estados Unidos, ela se comprometeu a começar a mexer nisso a partir de 2020.

Mas um estudo encomendado pelo Sierra Club e pelo Greenpeace internacional, publicado na quarta-feira (30) revelou que vai ser preciso, de fato, um grande esforço internacional para diminuir as emissões de carbono. Já houve diminuição do consumo real de carvão em 2015 no mundo, mostram os dados. No entanto, há 1.500 usinas de carvão que estão ou em fase de construção ou ainda em fase de planejamento. Isso, é óbvio, não demonstra proatividade no sentido de se baixar a poluição provocada com o uso desse combustível.

O governo chinês, segundo o relatório, se preocupou com esses números e fez uma mudança no processo de licenciamento. Determinou, entre outras coisas, que 15 províncias travassem o início de novas construções de usinas.

Apesar da queda de geração de energia a partir do carvão, ainda segundo o estudo, o setor de energia global acrescentou pelo menos 84 gigawatts de capacidade energética usando esta fonte, ou seja, 25% a mais do que no ano de 2014.

Um dado assustador do relatório mostra que a poluição do ar pelo uso do carvão causa cerca de 800 mil mortes prematuras por ano e, se tais usinas pré-planejadas realmente entrarem em ação, a este número seria possível acrescentar outros 130 mil. E mais: a indústria de energia tem planos de gastar US$ 981 bilhões  em novas usinas. Este investimento poderia fornecer energia para 1,2 bilhão de pessoas  que hoje não têm acesso a nenhuma fonte, bem como aumentar em 39% a quantidade de energia solar e eólica hoje usadas no mundo.

O Brasil, ainda segundo os dados do relatório, tinha 350 usinas de carvão em 2010, construiu mais 365 em 2012; 1090 em 2013, o que o fez terminar 2015 com um número estimado de 1.805 dessas usinas operando atualmente. Mas o governo brasileiro cancelou a instalação de 2.100.  Para se ter uma ideia de outros padrões, a China, que é o país que mais tem usinas de carvão do mundo, construiu  mais de 297 mil no período de 2010 a 2015.

Segundo outro estudo publicado no site Climatehome, para se alcançar a meta do Acordo de Paris, nenhum país do mundo poderia permitir a construção de uma única usina a carvão sequer depois de 2017. Cameron Hepburn, um dos responsáveis por este relatório, chama a atenção para o fato de que os políticos e formadores de opinião ainda estão pensando que a questão das mudanças climáticas é algo que se vai enfrentar no futuro.  Não é. Cientistas da Nasa publicaram no dia 29 de março o resultado de uma pesquisa mostrando que o gelo do Mar Ártico caiu este ano para seu menor grau em toda a história. E as temperaturas aumentarem de 2 a 6 graus em todas as regiões.
 
Além disso, hoje, somente hoje, uma rápida pesquisa pelos sites já revela uma drástica consequência das mudanças climáticas. No Paquistão, ao menos 55 pessoas morreram e milhares ficaram afetadas pelas inundações e deslizamentos de terra causadas por um temporal “anormalmente intenso”.  Quando o tema é clima, o inesperado se tornou óbvio. E, isso, com toda a tecnologia de que se dispõe.

Aqui no Brasil, segundo a Coalização Brasil – grupo composto por mais de 120 empresas, associações empresariais, centros de pesquisa e organizações da sociedade civil – o reflorestamento e a restauração de 12 milhões de hectares são metas que se precisa atingir para cumprir o que a presidente Dilma Roussef prometeu durante a COP-21 : reduzir em 43% as emissões em comparação aos níveis de 2005.  Para isso, um dos processos que está sendo tocado é o mapeamento de propriedades rurais, o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que deve ser feito até dia 5 de maio se não tiver prorrogação.

A questão é que um Acordo como o que China e Estados Unidos vão assinar no dia 22, se levado a sério, pode mudar muita coisa. E vai precisar de comprometimento de todo mundo, de políticos a cidadãos comuns, academia, organizações civis.  Mas no Brasil, do jeito que as coisas andam, vai ficar difícil tentar puxar este tema sem correr o risco de parecer fora do contexto...  E vida que segue.