Publicado em julho 15, 2016 por Redação
A água é fundamental para a dinâmica da natureza. Impulsiona todos
os ciclos, sustenta a vida e é o solvente universal. Sem água, a vida na
Terra seria impossível. Além de usá-la para suas funções vitais, como
todos os outros seres vivos, os humanos utilizam os recursos hídricos
para a produção de energia, de alimentos, para navegação,
desenvolvimento industrial, agrícola e econômico.
Entretanto, 97% da água do planeta Terra está nos oceanos e não
pode ser utilizada para irrigação, uso doméstico ou para beber. Os 3%
restantes têm cerca de 35 milhões de quilômetros cúbicos de volume,
sendo que, em grande parte, está congelada na Antártida ou na
Groenlândia. Então, na verdade somente 100 mil km 3 , ou seja, 0,3% do
total de recursos de água doce no planeta está disponível nos lagos,
rios, embaixo da terra, e pode ser utilizado pelas pessoas.
À medida em que a economia foi se tornando mais complexa e
diversificada, o uso dos recursos hídricos aumentou. E aumentou de tal
forma que, hoje, o ciclo da água é profundamente alterado pela atividade
humana, ao ponto de podermos dizer que o ciclo hidrológico foi alterado
para um ciclo hidrossocial. As pressões sobre os usos dos recursos
hídricos provêm de três grandes ocorrências globais, que continuam sendo
tendências para as próximas décadas: o crescimento da populacional, da
urbanização e da produção de alimentos.
A dependência dos recursos hídricos aumentou em todo o mundo,
afetando especialmente as regiões onde a disponibilidade de água varia
muito durante o ano e nas regiões áridas.
Também tem gerado grandes
alterações nos ciclos hidrológicos regionais: por exemplo, a construção
de barragens aumenta a taxa de evaporação, já a construção de canais
para distribuição produz desequilíbrios no balanço hídrico, enquanto a
retirada de água para irrigação em excesso diminui o volume dos rios e
lagos. Igualmente importante, o grau de urbanização interfere na
drenagem e aumenta o escoamento superficial, diminuindo a capacidade de
reserva de água na superfície e nos aquíferos.
Tantas alterações têm conseqüências ecológicas, econômicas, sociais
e na saúde humana. Por exemplo, o lançamento de esgoto não tratado e de
fertilizantes nos rios, lagos e represas produz o fenômeno de
eutrofização, cujos efeitos ecológicos, na saúde humana e nos custos do
tratamento de água são relevantes, principalmente em grandes e
megacidades, como, por exemplo, São Paulo.
O aumento extraordinário do consumo de água em todos os continentes
também tem levado à escassez, ao aumento da vulnerabilidade das
populações e à falta de recursos hídricos. Assim como a escassez, o
excesso de precipitação com grandes extremos hidrológicos também
éprejudicial, atingindo populações urbanas e rurais com a disseminação
de doenças de veiculação hídrica, que afetam um grande número de pessoas
em todo planeta.
Para controlar o excesso de uso da água, é necessário
estimular os usuários de todos os níveis: industriais, agricultores,
população em geral. Todos devem ser instruídos a reduzir amplamente os
gastos de água. Reúso de água tratada também é uma importante medida de
redução do consumo.
O tratamento de esgotos é outra medida importante na
gestão das águas e no aumento da reciclagem. No Brasil, apenas 40% do
esgoto é tratado e isto provoca perda de recursos hídricos, por
impossibilidade do uso, além de disseminar doenças, causando prejuízos
econômicos e sociais. A redução desta contaminação recompõe o ciclo
hidrossocial, eliminando ou reduzindo o risco à saúde e estimulando a
economia.
As pressões crescentes sobre os recursos hídricos têm provocado
inúmeros problemas de segurança hídrica, ou seja, o acesso a água de boa
qualidade e o suprimento adequado a cada habitante do planeta: 20
litros por pessoa por dia, segundo as Nações Unidas. Como já foi dito, a
água é um recurso vital para as pessoas e os ecossistemas.
Além disso, é
fundamental para o enfrentamento dos desafios globais. Segurança
alimentar, redução da pobreza, crescimento econômico, saúde humana,
todos estes processos dependem da quantidade e qualidade da água.
O
gerenciamento das águas superficiais, subterrâneas e do ciclo
hidrológico pressupõe a atenção à segurança hídrica, a diminuição à
vulnerabilidade das populações e o suprimento adequado dos recursos
hídricos à população, sendo que o controle da poluição, monitoramento e a
gestão de bacias hidrográficas são algumas das ações mais importantes.
É necessário investir em saneamento básico, o que implica o
recolhimento e tratamento de esgotos, de resíduos sólidos, além de
melhores condições de vida nas regiões periurbanas das grandes cidades,
porque estas são as mais afetadas pelos fatores de degradação que
influenciam as águas superficiais e subterrâneas. Além de todas as
consequências da oferta de água de má qualidade mencionadas, atualmente
800 milhões de pessoas não tem acesso à água em todo o planeta.
Artigo socializado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e reproduzido in EcoDebate, 15/07/2016
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