terça-feira, 19 de julho de 2016
Galerias abertas para extração de carvão podem inundar a qualquer hora.
Segundo MPF, local é bomba-relógio e ameaça Criciúma e Forquilhinha.
Com mina abandonada no Sul de SC, água ácida vai parar direto em rio
Galerias abertas para extração de carvão podem inundar a qualquer hora.
Segundo MPF, local é bomba-relógio e ameaça Criciúma e Forquilhinha.
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Uma mina abandonada no Sul de Santa Catarina desde junho de 2015 se
tornou um dos maiores problemas ambientais do estado. As galerias
abertas para a extração de carvão podem inundar a qualquer momento,
segundo o Ministério Público Federal (MPF).
Com isso, a água ácida da mina pode atingir diversas áreas de Criciúma e
Forquilhinha, como mostrou a primeira reportagem de uma série especial
do RBS Notícias, nesta quarta-feira (13).
Santa Catarina produz quase metade de todo o carvão mineral do país. A
mina, com 10 quilômetros de extensão, já produziu um milhão de toneladas
de carvão por ano.
Abandonada e sem um plano de fechamento das galerias, a mina é atualmente uma bomba-relógio, segundo o MPF.
Risco de inundação
"Se essa mina inundar de forma irregular, há grande chance de uma área
rural que atinge o município de Criciúma e Forquilhinha, de
aproximadamente de 300 hectares, se transformar num grande vertedouro de
água ácida e provocar um grande dano ambiental sem a mínima capacidade
de regressão", afirmou o procurador do Ministério Público Federal (MPF)
Anderson Lodetti Oliveira.
Durante os últimos 40 anos, para extrair carvão, as empresas escavaram
até atingir o lençol freático e os poços artesianos. Toda a água vai
parar na mina.
"Uma mina de carvão não pode parar de operar. Tem uma série de coisas
que têm que ser feitas visando o fechamento", afirmou o geólogo do MPF
Sidnei Zomer.
Bombeamento feito por mineiros
Porém, nada foi feito e o bombeamento da água só continua porque 47
mineiros fazem isso de forma improvisada para salvar os equipamentos.
Mais tarde, essas máquinas podem servir para eles receberem parte das
dívidas trabalhistas.
"É tudo precário, pode ver. Nós mesmos que estamos fazendo a manutenção
das máquinas, de bomba, essas coisas", disse o mineiro Edson Miranda dos
Santos.
As bombas drenam 180 litros por segundo. Se esse trabalho for
interrompido, a mina pode alagar completamente em 40 dias. Mais de 15
milhões de litros com alta concentração de ferro e manganês saem da
tubulação todos os dias.
Água ácida no rio
Com a desativação da estação de tratamento, toda a água ácida que vem de
baixo da mina, antes tratada, vai direto para o rio Sangão, que tem
coloração amarelada.
"A gente tem uma mina drenando obrigatoriamente essa água do subsolo e
jogando no rio. Isso significa um revés para qualidade da água desse
rio, da fauna aquática", disse o geólogo do MPF. A água ácida que vai
direto para o Rio Sangão pode chegar até o Rio Araranguá, um dos maiores
da região.
Resíduos e falta de abastecimento
A água faz falta para a comunidade de São Gabriel, onde 20 famílias já
viviam antes da mina ser aberta. A mineração secou os poços artesianos.
Como medida compensatória, a Carbonífera Criciúma era obrigada a trazer
água num caminhão pipa. Mas, agora que a mina está abandonada, os
moradores estão sem abastecimento.
"A mina eu vejo hoje como uma desgraça. Alguns ganharam dinheiro e os
outros estão pagando por isso", afirmou o agricultor Mário Westrup.
Outro problema é o depósito de resíduos. Durante as vistorias, os
técnicos do MPF descobriram que esse depósito não tem uma camada
impermeabilizante de argila. Além disso, as pilhas de resíduos estão a
céu aberto. Em uma imagem aérea, é possível se ver uma imensa área negra
de 50 hectares. Pilhas e mais pilhas de resíduos de carvão.
Caso está na Justiça
O MPF tenta obrigar na Justiça os responsáveis a corrigir o que ainda
está em tempo de ser feito. Mas não há prazo para uma sentença
definitiva.
A reportagem procurou a Fundação do Meio Ambiente (Fatma) e a assessoria
de imprensa informou que só pode se pronunciar após fazer uma vistoria,
marcada para esta quinta (14).
A RBS TV também procurou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (Ibama), mas não obteve resposta até a
publicação desta reportagem.
A Carbonífera Criciúma não quis comentar sobre a mina.
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