Publicado em julho 26, 2016 por Redação
Vistoria realizada por analistas do Ibama no trecho de 102 quilômetros da barragem de Fundão, em Mariana (MG), até a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga), em Santa Cruz do Escalvado (MG), aponta que 64% das áreas afetadas pela tragédia de 5 de novembro de 2015 ainda não receberam obras para contenção de rejeitos.
As equipes vistoriaram 96 pontos nos rios Doce, Santarém, Gualaxo do Norte e do Carmo na primeira quinzena de junho. Os técnicos fizeram um balanço dos danos socioambientais causados pelo rompimento da barragem das medidas adotadas até o momento pela mineradora Samarco e por suas sócias, a Vale e a BHP.
Foram avaliadas cinco ações: contenção de rejeitos; reconformação do traçado dos rios; drenagem; proteção de plantas com malhas (bioengenharia); e semeaduras (replantio) de espécies gramíneas e leguminosas.
De acordo com o relatório técnico, além de não ter executado várias medidas, a mineradora deverá refazer intervenções que foram realizadas de forma equivocada. São necessárias ações em pelo menos 78% dos pontos vistoriados. Destaca-se a necessidade emergencial de obras físicas de drenagem para diminuir o impacto das águas pluviais e a erosão nas áreas, além da contenção, com o objetivo de reter os sedimentos.
Os rejeitos não foram removidos em mais de 96% da área vistoriada – deste total, 53% dos pontos possuem lama com espessura acima de 50 centímetros de altura. A mineradora foi informada de que deverá realizar as ações emergenciais de drenagem e de contenção até 01/09, pois o período chuvoso na região começa em setembro. A Samarco realizou apenas 31% das obras de drenagem. Na época de chuva, há risco elevado de carreamento dos sedimentos para os corpos hídricos.
A semeadura foi a técnica mais observada nas áreas vistoriadas. No entanto, metade deste trabalho foi considerado insatisfatório, ruim ou péssimo. O relatório aponta que a revegetação não formou cobertura satisfatória a ponto de se considerar segura a fixação de rejeitos pelas raízes, entre outros métodos. Além disso, o uso da chamada biomanta nos canais deve ser revisto, pois está abafando algumas espécies de plantas.
Uma das equipes vistoriou Candonga. O reservatório da usina está completamente assoreado pelos rejeitos de mineração decorrentes do desastre. Cerca de 10,5 milhões de metros cúbicos pressionam a estrutura da barragem, e esse volume deverá aumentar com o carreamento previsto para o período chuvoso, caso a Samarco não atenda as determinações do Ibama.
Todas as comportas estão abertas e o nível da cota é de 317 metros de altura, próximo ao limite para operação, de 327 metros. Estão previstas atividades de dragagem para retirar os rejeitos, mas o ritmo não é adequado e a empresa ainda deverá definir onde o material será depositado.
Durante a operação, as equipes do Ibama percorreram 83 tributários (afluentes dos rios principais) afetados pelo desastre. A Samarco havia informado anteriormente que 68 precisariam ser recuperados. Após identificar a divergência, o Ibama determinou que a mineradora apresente mapeamento completo e projetos específicos de intervenções nestes locais. A empresa também deverá apresentar, até 31/07, os resultados já obtidos dos estudos sobre os rejeitos depositados na região para avaliação sobre o manejo e a destinação dos sedimentos.
Operação Áugias
O objetivo da Operação Áugias é realizar um diagnóstico completo das áreas afetadas e acompanhar sistematicamente as atividades desenvolvidas pela Samarco. As equipes do Ibama deverão se revezar em campo até dezembro.Na primeira fase, denominada “Hélios”, 16 analistas dividiram-se em quatro equipes e percorreram 96 pontos.
A vistoria abrangeu os municípios de Mariana, Barra Longa, Ponte Nova, Santa Cruz do Escalvado e Rio Doce, todos em Minas Gerais. De acordo com o Ibama, esta foi a região mais devastada pela tragédia, que resultou na morte de 19 pessoas. Em alguns pontos, o volume de rejeitos ultrapassa 50 centímetros de altura.
O relatório divulgado pelo Ibama é resultado de vistoria realizada entre o complexo de Germano e a usina de Candonga. Foram vistoriadas estruturas remanescentes, sistemas de bombeamento de águas pluviais, trechos do córrego Santarém, do Rio Gualaxo do Norte, do Rio do Carmo, do Rio Doce e de córregos afluentes.
Mais informações
Relatório Fase Hélios da Operação Áugias – Julho de 2016 (PDF, 16.4 MB)Anexo Mapas e Fotografias dos Pontos Vistoriados pela Equipe Santarém – Julho de 2016 (PDF, 26.2 MB)
Anexo Mapas e Fotografias dos Pontos Vistoriados pela Equipe Gualaxo – Julho de 2016 (PDF, 23.4 MB)
Anexo Mapas e Fotografias dos Pontos Vistoriados pela Equipe Carmo – Julho de 2016 (PDF, 18.8 MB)
Anexo Mapas e Fotografias dos Pontos Vistoriados pela Equipe Doce – Julho de 2016 (PDF, 24.6 MB)
Informe do Ibama, in EcoDebate, 26/07/2016
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