No meio rural é comum um buraco simples cavado ao lado da casa servir de
depósito para o esgoto doméstico, a chamada fossa negra. Com o tempo,
os dejetos desaparecem e os usuários interpretam que o sistema é limpo e
seguro. Longe disso, o material não desaparece, ele penetra em regiões
mais profundas contaminando solo e lençóis freáticos. Ao usar água de
poços próximos, a família começa a ficar doente.
A história acima é contada pelo pesquisador Wilson Tadeu Lopes da Silva,
da Embrapa Instrumentação (SP), e ilustra uma lamentável realidade de
grande parte das famílias que vivem no campo. “O esgoto doméstico jogado
em fossas negras ou em córregos é um problema sério que afeta
diretamente a qualidade da água”, aponta Silva.
Pensando nisso, o pesquisador desenvolveu um meio de levar saneamento
básico à área rural e ainda transformar o esgoto doméstico em adubo
orgânico. A solução foi desenvolver um tratamento complementar ao
saneamento básico na zona rural. Trata-se de um conjunto de tecnologias
batizado de jardim filtrante o qual inclui a fossa séptica biodigestora e
o clorador Embrapa.
Como a fossa trata apenas o esgoto humano, o jardim filtrante surgiu
como uma alternativa para dar um destino adequado à água cinza da
residência, constituída de efluentes provenientes de pias, tanques,
chuveiros e o efluente tratado da fossa. Apesar do seu poder
contaminante ser bem menor que a água negra, a água cinza também merece
atenção, já que vem impregnada de sabões e detergentes, bem como de
restos de alimentos e gorduras.
A fossa séptica biodigestora é um sistema que o produtor rural pode
fazer. O esgoto doméstico é desviado do vaso sanitário por meio de uma
tubulação que vai até caixas de fibra de vidro praticamente enterradas
no chão. Para uma família de cinco pessoas, a sugestão é instalar de
três a quatro caixas de fibra de vidro. O adubo orgânico gerado pela
fossa séptica biodigestora deve ser aplicado somente no solo, em pomares
e outras plantas onde o biofertilizante não entre em contato direto com
alimentos que sejam ingeridos crus.
O clorador Embrapa é um complemento do sistema de saneamento básico na
área rural. Fácil de ser montado e de baixo custo. Com peças e conexões
encontradas em casas de material de construção, o produtor pode montar o
clorador, que é instalado entre a captação de água e o reservatório.
Para clorar a água é preciso colocar uma colher rasa de café, de
hipoclorito de cálcio, no receptor de cloro. Depois de 30 minutos, a
água já está clorada, livre de germes e pronta para beber.
Em agosto de 2014, durante a Feira de Agricultura Familiar – Agrifam, em
Lençóis Paulista (SP), a Embrapa assinou contrato para transferência de
know-how do Jardim Filtrante com a empresa Ecosys, que comercializará a
tecnologia.
O primeiro passo para a instalação do jardim filtrante é a escolha do
local, depois abre-se uma cova com dez metros quadrados. Esse tamanho é
ideal para uma família de cinco pessoas. A cova terá o fundo
impermeabilizado com uma geomembrana de polietileno de alta densidade ou
equivalente, preferencialmente protegida por mantas de bidim – manta
geotêxtil de drenagem utilizada na construção civil.
Antes da entrada do jardim filtrante, o esgoto passa por uma caixa de
retenção de sólidos e uma caixa de gordura. A saída do líquido tratado
ocorre por uma tubulação em forma de cachimbo (conhecido popularmente
como monge), que também regula o nível da água no jardim. A entrada e a
saída serão instaladas em pontos opostos da caixa.
O local do jardim filtrante será preenchido com brita e areia grossa. Em
seguida, é feita uma pequena curva de nível em torno do jardim, sob a
geomembrana e o bidim, para evitar a entrada de enxurrada no sistema. O
penúltimo passo é colocar a água. O jardim filtrante deve ficar saturado
com água, mas deve-se evitar a formação de lâmina d´água, para não
permitir a procriação de mosquitos.
Por último, são inseridas plantas macrófitas aquáticas que irão retirar
nutrientes da água para depurá-la e proporcionar um ambiente visualmente
agradável. Podem ser colocadas flores que suportem um meio saturado com
água, como copo de leite e lírio-do-brejo e ornamentos com pedras.
O Dia de Campo na TV sobre Jardim filtrante – saneamento básico na área rural foi produzido pela Embrapa Instrumentação (São Carlos/SP) e pela Embrapa Informação Tecnológica (Brasília/DF), unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
O Dia de Campo na TV sobre Jardim filtrante – saneamento básico na área rural foi produzido pela Embrapa Instrumentação (São Carlos/SP) e pela Embrapa Informação Tecnológica (Brasília/DF), unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
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