Os dois apresentaram projetos de suas áreas de atuação e competiram com outros 757 candidatos de mais de 104 países.
Anualmente o Ministério Federal da Educação e Pesquisa da Alemanha
(BMBF) realiza o concurso Green Talents. A proposta é incentivar
iniciativas com capacidade inovadora de tornar a sociedade mais
sustentável, abrangendo diversas áreas da economia, com ideias criativas
capazes de responder as questões atuais mais urgentes sobre proteção
ambiental. Na edição deste ano, dois brasileiros tiveram destaque e
foram premiados: Marina Demaria Venâncio e Hani Rocha El Bizri.
Os dois apresentaram projetos diferentes, dentro de suas áreas de
atuação e competiram com outros 757 candidatos de mais de 104 países.
Hani, de 29 anos, mestrando em Saúde e Produção Animal pela Universidade
Federal Rural da Amazônia (UFRA) e pesquisador associado do Instituto
de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), apresentou uma
iniciativa focada na sustentabilidade da caça na Amazônia. Enquanto
Marina, de 23 anos, estudante de Mestrado do Programa de Pós-Graduação
em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), tem como
foco de sua pesquisa as interconexões entre mudanças climáticas,
agricultura e os sistemas alimentares sob uma perspectiva do direito,
com ênfase nas políticas públicas agroecológicas brasileiras e suas
implicações jurídicas.
O projeto de Hani
A carne de caça, tema estudado por Hani, tem uma importância notável na
subsistência das famílias de baixa renda que vivem na região, como as
populações indígenas, ribeirinhas e quilombolas.
Porém, a caça tem
afetado fortemente os animais silvestres, pois a atividade contribui
para a diminuição de suas populações, o que gera tanto um problema de
preservação da biodiversidade como também à segurança alimentar das
comunidades. Assim, o projeto do pesquisador visa obter informações
reprodutivas desses animais na busca do manejo sustentável desses
recursos.
“A nossa técnica inovadora envolve os moradores locais, que nos fornecem
os órgãos reprodutivos dos animais que eles caçam habitualmente, partes
raramente consumidas. Trata-se de um sistema de fornecimento voluntário
que ocorre no dia a dia da vida do morador. Até o momento, obtivemos
mais de 1.700 doações em 10 anos de estudos conduzidos na Amazônia
brasileira e peruana”, conta o pesquisador.
A partir desses dados, a equipe do pesquisador trabalha com as amostras
em laboratório para refinar as informações reprodutivas de mais de 10
espécies de mamíferos (por exemplo, anta, paca, queixada, catitu, cutia,
espécies de macacos, etc.), comparando com resultados anteriores e que
hoje são obsoletos, já que foram gerados há mais de 30 anos com base em
poucos animais de cativeiro.
Com isso, novos resultados foram gerados.
Esses dados reprodutivos representam uma das informações mais essenciais
para nutrir modelos matemáticos de sustentabilidade, os quais estimam
taxas sustentáveis de caça e as melhores técnicas a serem aplicadas para
manter as populações de animais estáveis. Esse trabalho também poderá
ser usado para definir estratégias de manejo a serem adotadas pelas
comunidades e, assim, garantir uma de suas principais fontes de
proteína.
A pesquisa de Marina
O trabalho desenvolvido pela mestranda tem como foco de sua pesquisa as
interconexões entre mudanças climáticas, agricultura e os sistemas
alimentares sob uma perspectiva do direito, com ênfase nas políticas
públicas agroecológicas brasileiras e suas implicações jurídicas.
“Mudanças climáticas, agricultura industrial e insegurança alimentar são
apenas alguns dos exemplos das diversas questões que atualmente
demandam soluções e abordagens inovadoras, interdisciplinares e
integradas no contexto de uma sociedade global que se modifica
rapidamente”, coloca a pesquisadora. Tem-se, assim, que a Agroecologia é
uma ciência transdisciplinar que também ficou conhecida na América
Latina como uma teoria crítica e um movimento social, que advogam para o
estabelecimento de um sistema de produção mais sustentável e
socialmente inclusivo.
Recentemente no Brasil foram promulgadas variadas leis relacionadas à
temática, com destaque à Política Nacional de Agroecologia e Produção
Orgânica. Neste âmbito, enquadra-se a sua pesquisa atual, cujos
principais objetivos são melhor compreender e delimitar os princípios,
direitos e deveres trazidos ao mundo jurídico por estas novas políticas
públicas, bem como sua extensão e mecanismos de cumprimento; revisitar o
direito ambiental brasileiro à luz do novo paradigma estabelecido pela
Agroecologia, repensando a atual divisão entre as nossas especializadas
disciplinas jurídicas e discutir as interconexões entre a recente
legislação agroecológica brasileira com as leis existentes relacionadas à
agricultura familiar, segurança alimentar e produção
orgânico-ecológica, delineando um manual para auxiliar na construção de
políticas agroecológicas mais compreensivas e efetivas.
Fonte: Ciclo Vivo
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