March 29, 2016
Do
ponto de vista ambiental, a conta da agropecuária simplesmente não
fecha. Na verdade, a médio prazo, essa indústria está gerando um
prejuízo enorme – e irreparável.
É
absolutamente necessário revermos, com extrema urgência, a forma como o
governo utiliza o dinheiro público para a obtenção de novas receitas
sem a menor preocupação com o planeta e os recursos naturais dos quais
depende a nossa existência.
Inacreditavelmente,
três empresas no mundo detêm o incrível poder de determinar como se dá a
utilização dos principais recursos do planeta (solo, água, florestas,
rios, oceanos, atmosfera e toda a biosfera). São elas a Cargill, Tyson e
a brasileira JBS (dona da Friboi, Swift, Seara e outras). O grande
problema é que o lucro, para elas, está acima de qualquer outro fator, e
isso está causando prejuízos irreversíveis para o planeta. (Conheça aqui alguns dos maiores prejuízos causados por essa indústria).
O
mais assustador é o fato de essa indústria ser tão monstruosamente
grande e poderosa que chega a pesar de forma bastante significativa no
PIB de alguns países. Esse mesmo poder econômico que assusta
ambientalistas atrai a atenção de governantes que, movidos a uma visão
estreita e obsoleta da realidade, colocam seus esforços no que dá
retorno imediato, sem se preocuparem com as consequências a médio e
longo prazo.
Um levantamento feito pelo
Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
(CEBDS) e pela Agência Alemã para a Cooperação Internacional (GIZ)
mostrou que, para cada R$1 milhão faturado pela pecuária, são gerados
R$22 milhões em impactos ambientais. Estamos simplesmente empurrando com
a barriga problemas sérios que se agravarão nos próximos anos. A
agropecuária é responsável por 90% do desmatamento da Amazônia, por pelo
menos 50% de toda água doce consumida no mundo, e ainda é a maior
responsável pela poluição de rios e pelo processo de degradação e
desertificação do solo (que já chega a 1/3 de toda superfície
terrestre). Veja a íntegra do documento do estudo aqui (em inglês).
A
agropecuária hoje é responsável por quase 5% do PIB brasileiro, o que
significa algo em torno de R$240 bilhões – isso requer um investimento
equivalente a R$10 trilhões de reais em reparos ambientais ao ano (se de
todo possíveis). Com projetos em busca de retorno financeiro imediato, o
governo vê o setor como a menina dos olhos de ouro. Entre 2015 e 2016
os cofres públicos irão disponibilizar R$187 BI em crédito para o setor.
É importante enfatizar que, além da facilidade na obtenção de valores
tão altos em condições extremamente favoráveis, o Brasil ainda oferece
um dos maiores subsídios do mundo para a pecuária. Quem paga a conta
disso é a totalidade da população: quem apoia e quem não apoia essa
indústria, e principalmente as futuras gerações, que poderão não ter um
planeta habitável para viver.
No
momento em que o país enfrenta sua pior crise moral, é alarmante ver
que o governo utiliza seus esforços e recursos para patrocinar e
incentivar uma prática tão antiética e insustentável, pensando
unicamente no lucro a curto prazo. Nos últimos sete anos, por exemplo,
somente os frigoríficos receberam do BNDES R$12,8 BI em compras de ações
mais R$3,2 BI em empréstimos diretos.
Segundo
informações da Bloomberg e do El Pais, após uma década de aquisições, a
JBS hoje é um império com um faturamento anual de 92,9 bilhões de reais.
Mas essa década de expansão teve efeitos negativos para o grupo,
principalmente no que se refere ao endividamento. No fim do exercício de
2013, a dívida líquida da JBS era de 23,748 bilhões de reais, ou 102,7%
de sua capitalização em bolsa.
O Estado
brasileiro é o credor de grande parte dessa dívida, pois respaldou o
crescimento da empresa por meio da compra de títulos. Isso também se
reflete na composição do capital. O Estado é o segundo acionista da JBS,
depois da família Batista: 25% dos títulos são propriedade da divisão
de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) e 10% está nas mãos da Caixa Econômica Federal. Em 31 de
dezembro de 2013, 35% das ações do grupo tinham valor de mercado
superior a 2,6 bilhões de euros.”
O BNDES
afirma que na Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) do Governo
Federal, o setor de carnes ocupa lugar de destaque nas “estratégias de
desenvolvimento de empresas e sistemas produtivos”.
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