sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Tese de doutorado revela o potencial turístico e econômico das unidades de conservação

Parque Nacional Lencois Maranhenses. Foto: João Freire/ICMBio
Parque Nacional Lencois Maranhenses. Foto: João Freire/ICMBio


A recém-publicada tese de doutorado em Ecologia de Thiago Beraldo, analista ambiental do ICMBio, concluiu o seguinte: o uso público é um serviço ambiental e cultural oferecido pelas unidades de conservação que, além de movimentar a economia, deve ser encarado como um aliado da natureza – afinal, quanto mais as pessoas têm acesso e conhecem estas áreas protegidas, mais elas advogarão a favor do meio ambiente.


A tese Avaliação da oferta, demanda e impactos econômicos do turismo em unidades de conservação federais do Brasil é resultado de um abrangente projeto de pesquisa realizado pelo analista ambiental na Universidade da Flórida (EUA). O trabalho já foi apresentado em importantes eventos internacionais, como o Congresso Mundial da Conservação, realizado em setembro de 2016 no Havaí, e a 13ª Conferência das Partes sobre Diversidade Biológica (COP 13), que aconteceu no último mês de dezembro em Cancun, no México.


“Eu procurei analisar a oferta e demanda de todo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Meu objetivo era entender a dinâmica do uso público nas áreas protegidas e os impactos econômicos da visitação, isto é, quanto o gasto do visitante gera para a economia local”, destaca o pesquisador. Os resultados numéricos do estudo surpreendem: o turismo em unidades de conservação movimenta aproximadamente R$ 4 bilhões por ano, gera 43 mil empregos e agrega R$ 1,5 bilhão ao Produto Interno Bruto (PIB).


Atrativos turísticos
O trabalho identificou 36 classes de atrativos turísticos nas nossas áreas protegidas, entre naturais (praias, montanhas, florestas e até mesmo neve, no Parque Nacional de São Joaquim) e culturais (parques arqueológicos, patrimônios arquitetônicos, comunidades tradicionais, etc). “Outro dado interessante é que o Brasil já conta com mais de 1.600 km de trilhas disponíveis para uso público”, ressalta Beraldo.

Além das tradicionais trilhas, outras 57 atividades menos convencionais estão em curso e podem ser exploradas pelos visitantes. Interação com golfinhos, arvorismo, observação de fauna, camping, rapel, visitas a comunidades, passeios a cavalo e canoagem são alguns exemplos do que já vem sendo oferecido aos turistas.
Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha. Foto: Acervo ICMBio
Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha. Foto: Acervo ICMBio


Potencial brasileiro
O pesquisador explica que sua análise da visitação em UCs teve como base dois eixos principais: o interno, que avalia potenciais da área como belezas cênicas, atividades e serviços oferecidos na unidade; e o externo, que avalia o local em que a unidade está situada. “De modo geral, as pessoas buscam um destino turístico que inclui diversos atrativos – entre eles a unidade de conservação (UC). As UCs que atraem o turista apenas por elas mesmas, a exemplo do Parque Nacional do Monte Roraima (RR), são exceções à regra”, afirma.


Nesse sentido, Beraldo aponta para o fato de que o Brasil possui diversas áreas protegidas ainda não tão valorizadas, mas com grande potencial de atração de visitantes justamente pelos locais onde se encontram. A Floresta Nacional de Brasília (DF), a Floresta Nacional de Canela (RS) e o Parque Nacional da Serra do Itajaí (SC), podem ser citados como exemplos desse potencial a ser explorado.


Outro aspecto analisado no trabalho é o tempo de duração das visitas. Segundo o pesquisador, ainda estamos muito limitados aos passeios de apenas um dia. “Basta comparar com os Estados Unidos, onde boa parte dos visitantes dorme e passa pelo menos dois dias na unidade. Para seguirmos essa tendência, precisamos ampliar a oferta de campings nas nossas UCs”, argumenta.


Ao longo dos quatro anos de construção da sua tese, Beraldo constatou que o uso público é, na verdade, mais simples do que se pensa. “Os visitantes de unidades de conservação querem somente ter o direito de realizar algumas atividades em contato direto com a natureza”, conclui.

*Com informações da Comunicação Social ICMBio

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