quarta-feira, 3 de maio de 2017
Um amigo sulista, ao conhecer mais detalhes das violações
socioambientais ocorridas no território do Complexo Industrial Portuário
de Suape (CIPS), cunhou a frase utilizada como titulo deste artigo.
Sem dúvida a comparação entre as duas realidades destas megaobras tem
tudo a ver. Refletem a crueldade, perversidade, destruição, truculência,
barbaridade, improbidade, desumanidade , indignidade, crime; cometido
contra as populações nativas/tradicionais e contra a natureza. O que
deve ser ressaltado é o papel do Estado brasileiro; por um lado o
governo federal e por outro o governo de Pernambuco, como o grande e
maior violador de direitos humanos e da natureza. Sem dúvida, não
esquecendo a responsabilidade das empresas
Com relação ao número de trabalhadores envolvidos nestas duas mega
obras, a de Suape foi o dobro de Belo Monte. No ápice das obras de Belo
Monte, em outubro de 2013, atingiu 25 mil pessoas; e em Suape, entre
2012 e 2013 superou 50 mil pessoas (segunda maior desmobilização de
trabalhadores depois da construção de Brasília). O que existe em comum
neste caso foi a total falta de planejamento na desmobilização dos
trabalhadores finda a parte da construção civil destes empreendimentos.
Diferentemente do que prometiam os governos, a grande maioria dos
empregados das construtoras contratadas não eram da região, vinham de
toda parte do Brasil. E nada foi feito para realoca-los em outras
atividades econômicas. O que gerou, e tem gerado um alto desemprego,
resultando em graves problemas nas áreas urbanas dos municípios onde se
encontra o Complexo Suape, como a favelização, violência, prostituição,
aumento significativo da criminalidade. Além de déficits em áreas como
saúde, saneamento, moradia, etc, etc. Nada diferente do que ocorreu em
Altamira.
Foi incalculável a destruição ambiental promovida, tanto na construção
da hidrelétrica, a terceira maior do mundo, quanto na instalação das
indústrias no CIPS. Neste caso atingindo mangues (mais de 1.000 ha foram
e continuam sendo destruídos), restinga, resquícios da Mata Atlântica,
corais marinhos. Ademais a poluição de riachos, rios, e nascentes que
compõem a bacia hidrográfica da região metropolitana do Recife.
É de ressaltar a atração e o incentivo para que as indústrias sujas
viessem se instalar em Suape. Como é o caso de termoelétricas a
combustíveis fósseis, estaleiros, refinaria, petroquímica, parque de
armazenamento de derivados de petróleo.
Hoje estes dois territórios, o de Belo Monte, e o de Suape sofrem as
perversas consequências de um desenvolvimento predatório, excludente e
concentrador de renda. Cuja principal característica comum é a
destruição da vida.
Enquanto acontecem estes crimes contra as populações nativas e
tradicionais (índios, ribeirinhos, pescadores catadores de mariscos,
agricultores familiares), com reflexos nas áreas urbanas; a sociedade
brasileira, em sua maioria, finge em desconhecer esta triste realidade
cometida pelo poder público com cumplicidade das empresas. Tudo em nome
do “progresso”. De alguns, evidentemente.
Até quando?
Heitor Scalambrini Costa, Articulista do EcoDebate, é Professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco
Fonte: EcoDebate
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