FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A OSLO (NORUEGA)
O clima na Noruega tampouco está favorável para o presidente Michel Temer (PMDB), que desembarca em Oslo nesta quinta-feira (22) para uma viagem de dois dias.
Insatisfeito com o salto no desmatamento nos últimos dois anos, o principal doador internacional para projetos na Amazônia questionará o mandatário brasileiro sobre os rumos da política ambiental do país.
O tom da recepção está em carta enviada ao governo brasileiro pelo ministro do Clima e Meio Ambiente norueguês, Vidar Helgesen, na qual demonstra preocupação com propostas como a implantação de regras mais frouxas de licenciamento ambiental e a redução na proteção de unidades de conservação.
Em tom duro raramente usado na linguagem diplomática, o ministro afirmou que "aparenta ser falsa" a dicotomia do debate brasileiro que opõe preservação ambiental ao desenvolvimento econômico.
"O Brasil demonstrou na última década que não é necessário haver uma dicotomia entre expandir a produtividade agrícola e a proteção das florestas. E ainda que seja compreensível a pressão pela execução mais eficiente de investimentos em infraestrutura, tampouco precisa ocorrer à custa de normas ambientais", escreveu.
Em entrevista à Folha em Oslo, Helgesen diz que o Brasil progrediu muito no combate ao desmatamento na última década, mas que vê "tendências preocupantes". "Se o desmatamento cair, haverá fundos noruegueses."
Folha - Como o sr. analisa as recentes políticas brasileiras com relação à floresta?
Vidar Helgesen - Em linhas gerais, a última década é muito positiva. O Brasil criou um exemplo para o mundo combatendo o desmatamento. Mas temos visto um desenvolvimento preocupante nos últimos dois anos. Temos um diálogo muito bom e franco com as autoridades brasileiras sobre o que pode ser feito para voltar ao rumo correto.
A Noruega não está implantando políticas públicas no Brasil, esse papel cabe apenas ao governo brasileiro. A nossa abordagem é baseada apenas em resultados.
Se o desmatamento cair, haverá fundos noruegueses. Caso cresça, haverá muito menos ajuda, porque se trata de honrar resultados baseados em políticas públicas nacionais.
O Brasil é o país que mais recebe de ajuda norueguesa. Qual é a importância do país no contexto global?
O Brasil tem a maior floresta tropical do mundo. Além disso, dado o progresso da última década, estabeleceu um exemplo para outros países. É por isso é que temos um bom diálogo com o Brasil sobre a República Democrática do Congo e outros lugares, esperando ver a repetição de algumas boas práticas.
O Fundo Amazônia é realmente um modelo fantástico para outros países.
Esperamos que o que vimos recentemente no Brasil não venha a alterar a imagem global de um país bem-sucedido no combate ao desmatamento.
Qual será a mensagem para Michel Temer durante a visita?
Será reconhecer as conquistas sólidas do Brasil na última década, ressaltar que vemos tendências preocupantes neste momento e que há iniciativas políticas que podem também ter um efeito adverso na floresta.
Queremos ouvir sua perspectiva sobre isso e, obviamente, vamos ressaltar que, com relação ao financiamento, a Iniciativa Clima e Floresta é baseada em resultados.
Como a opinião pública norueguesa tem reagido à ajuda ao Brasil?
Em geral, há um forte apoio à iniciativa, mas, com os recentes acontecimentos, temos sido cada vez mais questionados sobre como o crescimento no desmatamento no Brasil vai impactar essa iniciativa. Isso não surpreende, estamos investindo um montante significativo nisso. O escrutínio da mídia é uma parte importante da nossa democracia.
Investigações no Brasil têm revelado práticas de corrupção em quase todos os níveis governamentais. Isso é uma preocupação?
A corrupção é uma grande preocupação em geral. Em muitos países onde temos a Iniciativa Clima e Floresta a corrupção é um grande desafio. Estamos lidando com isso por meio de um sistema muito criterioso: seleção de parceria, escrutínio e prestação de contas cuidadosos.
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