segunda-feira, 26 de junho de 2017

Valor Econômico – Países debatem em Brasília estratégias de longo prazo para desafios climáticos

MEIO AMBIENTE E ENERGIA




Por Daniela Chiaretti | De São Paulo

Os governantes brasileiros precisam vencer uma barreira cultural para dar conta do desafio da mudança do clima - começar a planejar hoje onde o país deseja estar na metade do século. Este é o cerne do "Encontro Internacional sobre Estratégias de Desenvolvimento de Longo Prazo e Mudanças Climáticas" que acontece amanhã em Brasília, promovido pela Embaixada da Alemanha e pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS).




O Acordo do Clima de Paris convida países signatários a elaboraram planos de redução de emissão de gases-estufa para 2050. Alemanha, França, Estados Unidos, México Canadá e o Benim foram os primeiros a elaborarem suas estratégias. "O desafio climático que enfrentamos exige total transformação da forma como produzimos energia, comida e do nosso sistema de transporte", diz Karsten Sach, diretor de Política Climática do Ministério do Meio Ambiente alemão. A Alemanha divulgou o "Klimaschutzplan 2050" em novembro, na conferência da ONU de Marrakesh. O país quer reduzir entre 80% e 95% as emissões em 2050.


O plano é setorial e prevê revisões a cada cinco anos para ajustes de rumo e investimentos, diz Sach. "Não temos bola de cristal. Mas sabemos que é do nosso interesse econômico e social ter visão clara de onde queremos estar em 2050. E discutir com a sociedade, ter decisões políticas e leis que nos permitam alcançar nossas metas", diz.





A meta do setor de transportes, por exemplo, é reduzir emissões entre 40% e 42% em 2050 em relação a 1990. A redução na indústria será de 49% a 51%. O setor de energia terá que fazer cortes radicais - entre 61% e 62% - e deixar de usar carvão, um ponto delicado do plano alemão. "Já sabemos hoje que as usinas a carvão terão que sair da rede antes que termine sua vida útil. O futuro da mobilidade é principalmente elétrico e é ali que teremos que investir", afirma. A discussão, agora, é o que fazer com os empregados do setor de carvão.



Experiências como a alemã são a base da "Caminhos para 2050", plataforma também lançada em Marrakesh por Laurence Tubiana, pessoa-chave do governo francês para fechar o Acordo de Paris em 2015 e hoje CEO da European Climate Foundation, fundação que lida com o tema.



Na ocasião, 22 países, 15 cidades, 17 regiões e estados e 192 empresas se uniram ao esforço de ter planos de longo prazo. "Esta plataforma é o lugar onde empresas e governos irão trocar práticas e tentar aumentar a ambição", disse ela. O Brasil faz parte da iniciativa. "É desafiador fazer planos de longo prazo, mas é útil para as nossas sociedades. Pode significar grandes oportunidades de crescimento."



"A ideia deste seminário é inspirar o Brasil a se planejar a longo prazo", diz Ana Toni, diretora executiva do iCS. "Temos que fazer opções de investimento, tecnológicas, de infraestrutura", continua. "Vale a pena investir em biodiesel ou seria melhor investir em eletrificação na rede de transporte? Nosso futuro depende de decisões que temos que começar a fazer agora", diz.



Com ela concorda Branca Americano, coordenadora da câmara de estratégias de longo prazo do Fórum Brasileiro de Mudança Climática, onde este debate já iniciou. "Para que o Brasil se descarbonize na metade do século, temos que tomar decisões estratégicas de curto prazo", argumenta.

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