De olho em 2020, quando os países signatários da Convenção da Diversidade Biológica (CDB) das Nações Unidas terão de fazer o balanço das metas globais estabelecidas para a conservação dos ecossistemas em todo o mundo, começou nesta segunda-feira, em La Serena-Coquimbo, no litoral do Chile, um dos principais encontros para discutir o futuro das áreas protegidas marinhas.
Organizado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês) e Ministério do Meio Ambiente do Chile, o 4o Congresso Internacional de Áreas Protegidas Marinhas (IMPAC4) reúne cientistas, pesquisadores, governos, comunidades e ONGs de 80 países. O evento tem o apoio do WWF Internacional.
São cerca de mil participantes que discutirão esta semana o que foi possível fazer até aqui para proteger mares e oceanos, quais as estratégias que mais deram certo e como ampliar a proteção a esses ecossistemas, tão vasto quanto desconhecidos.
Mas a discussão de fundo é como conectar as pessoas ao trabalho de conservação das áreas marinhas em âmbito global. Algumas pistas vêm do país anfitrião do congresso.
O Chile tem se notabilizado internacionalmente na proteção marinha. E consegue fazer isso integrando as comunidades tradicionais ao processo de criação e gestão dessas áreas. Mas é uma excessão.
Em termos globais, apenas cerca de 5 % dos mares e oceanos estão sob proteção. A meta estabelecida pela CDB em 2010 em Nagoya, no Japão, é o dobro disso.
Para se ter uma ideia do tamanho da tarefa, o Brasil – com uma costa de quase 11 mil quilômetros de extensão – atingiu apenas um e meio por cento de sua meta de conservação para esses ecossistemas.
“E não se trata apenas de ampliar as áreas no papel. É preciso que as áreas protegidas marinhas sejam manejadas de modo eficiente, para beneficiar toda a sociedade”, disse a colombiana Yolanda Kakabadse, presidente do WWF Internacional, na abertura do evento.
Segundo ela, é preciso avançar para novas formas de gestão das áreas protegidas marinhas e criar modelos que possam abarcar a complexidade que é o tema marinho.
Por um triz
Os ambientes costeiros e marinhos são berçários de vida, abrigam tanta ou mais biodiversidade que as florestas, têm papel chave no equilíbrio climático e ainda abastecem a humanidade de alimentos e uma infinidade de recursos naturais.
Mesmo assim, esses ambientes estão gravemente ameaçados.
Estima-se que quase a metade dos mares e oceanos que circundam ilhas e continentes já estejam altamente impactados pelo homem.
Uma das razões é o excesso de pesca. Mais de 75% dos estoques pesqueiros marinhos com valor comercial estão em franco declínio em todo o mundo devido ao excesso de captura.
O aquecimento global provocado pelas emissões de CO2 altera a química das águas, tornando-as mais ácidas, com consequente branqueamento dos corais. Se o ritmo de poluição continuar, os cientistas estimam que até 2030, cerca de 90% dos corais do mundo vão branquear, ameaçando de morte a vida marinha no planeta.
“Não podemos prever o tamanho do colapso que virá da degradação costeira e marinha. O que podemos fazer é agir rapidamente, repensar os sistemas de pesca e ampliar a proteção desses ambientes”, adverte Ana Carolina Lobo, coordenadora do Programa Marinho do WWF-Brasil.
No caso brasileiro, segundo ela, o país precisa aumentar urgentemente sua rede de áreas protegidas marinhas. E mais: diversificar ao máximo as categorias de áreas protegidas ao longo da costa e nas águas jurisdicionais.
“As áreas de proteção integral são fundamentais para a conservação, mas temos de pensar cada vez mais em áreas que permitam o manejo sustentável dos recursos marinhos, incluindo as comunidades que vivem diretamente nesses ambientes e tiram dele o seu sustento”, diz Ana Carolina, fazendo coro com o mote do encontro no Chile.
Segundo ela, outra estratégia necessária para o Brasil cuidar de sua zona costeira é estabelecer áreas em que a pesca fique temporariamente suspensa até a recuperação dos estoques.
Uma das expectativas durante o IMPAC4 é o anúncio pelo governo brasileiro de medidas capazes de acelerar o cumprimento das metas da CDB assumidas internacionalmente pelo Brasil.
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