quarta-feira, 6 de setembro de 2017
Centenas de espécies da fauna marinha, como peixes, moluscos e outras,
estão sendo ameaças pela ingestão do lixo que se acumula no mar em forma
de microplásticos, sem que até o momento se saiba a fundo suas causas e
consequências. Os últimos estudos apontam que até 529 espécies
selvagens já foram afetadas pelos resíduos, um risco mortal que se soma
aos outros já enfrentados por dezenas delas em perigo de extinção. A
informação é da EFE.
Por menores que sejam, os microplásticos (de até cinco milímetros de
diâmetro e presentes em vários produtos, como os cosméticos) representam
uma ameaça para as mais de 220 espécies que os absorvem, algumas delas
muito importantes no comércio mundial, como os mexilhões, as lagostas,
os camarões, as sardinhas e o bacalhau.
Relatório recente da Organização da ONU para a Alimentação e a
Agricultura (FAO) alertou para as consequências desses resíduos para a
pesca e a aquicultura. “Ainda que nos preocupe a ingestão de
microplásticos por parte das pessoas através dos frutos do mar, ainda
não temos evidências científicas que confirmem os efeitos prejudiciais
em animais selvagens”, explicou à Agência EFE uma das autoras do estudo,
a pesquisadora Amy Lusher.
Ela acredita que ainda faltam muitos anos de estudos, dado o vazio de
informação que existe sobre o assunto e as muitas inconsistências nos
dados disponíveis. Para contribuir com o debate, uma revista
especializada em biologia da Royal Society, de Londres, publicou
recentemente um estudo que sugere que certos peixes estão predispostos a
confundir o plástico com o alimento, por terem um cheiro parecido.
Matthew Savoca, líder de um trabalho realizado em colaboração com um
aquário de San Francisco (Estados Unidos), explica que foram
apresentadas a vários grupos de anchovas substâncias com o cheiro de
resíduos plásticos recolhidos do mar e outras com o cheiro de plásticos
limpos.
As anchovas reagiram ao lixo de forma similar à que fariam com o
alimento, já que esses resíduos estão cobertos de material biológico,
como algas, que têm cheiro de comida.
“Muitos animais marítimos dependem muito do seu olfato para encontrar
comida, muito mais que os humanos”, afirmou Savoca, ressaltando que o
plástico “parece enganar” os animais que o encontram no mar, sendo
“muito difícil para eles ver que não é um alimento”.
A FAO lembra que os efeitos adversos dos microplásticos na fauna marinha
são observados em experiências em laboratórios, normalmente com um grau
de exposição a estas substâncias “muito maior” que o encontrado no
ambiente.
Até então, estas partículas só apareceram no aparelho digestivo dos
animais, que as pessoas “costumam retirar antes de consumir”, apontou a
pesquisadora Amy Lusher.
Substâncias contaminantes
No pior dos cenários, o problema seria a presença de substâncias
contaminantes e de aditivos que são acrescentados aos plásticos durante
sua fabricação ou são absorvidos no mar, ainda que não se saiba muito
sobre o seu impacto e o dos plásticos menores na alimentação.
Para os cientistas, é preciso estudar mais a fundo a distribuição desses
resíduos a nível global, por mais que se movam de um lado a outro, e o
processo de acumulação de lixo, ao qual contribuem a pesca e a
aquicultura quando seus equipamentos de plástico acabam perdidos ou
abandonados nos oceanos.
Em um mundo onde há cada vez mais plástico (322 milhões de toneladas
produzidas em 2015), estima-se que a poluição continuará aumentando nos
oceanos, onde em 2010 foram despejados entre 4,8 milhões e 12,7 milhões
de toneladas desse tipo de lixo.
Fonte: EcoDebate
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