Suposta queda teria ocorrido depois de um aumento de 27% na área de florestas devastadas entre agosto de 2015 e julho de 2016
Cláudia Trevisan ENVIADA ESPECIAL / NOVA YORK Giovana Girardi
O presidente Michel Temer usou dados de uma organização desacreditada pelo governo federal no passado para sustentar em seu discurso na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) que o desmatamento na Amazônia caiu 20% nos 12 meses encerrados em julho. Segundo a assessoria do Palácio do Planalto, a estatística é de levantamento preliminar da ONG Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
O Ministério do Meio Ambiente disse ao Estado que a estatística oficial relativa ao período de agosto de 2016 e julho de 2017 só será divulgada em outubro. Os dados do Imazon indicam que houve redução de 21% do desmatamento nesse período. Mas eles também revelam que o resultado de julho foi semelhante ao registrado em igual mês do ano passado, o que pode indicar tendência de estabilidade ou de aumento do desmatamento.
Além disso, a eventual redução teria ocorrido depois de um aumento de 27% na área de florestas devastadas entre agosto de 2015 e julho de 2016. O gover- no federal rejeitou os dados do Imazon nos momentos em que eles demonstraram expansão do desmatamento.
Ambientalistas criticaram o discurso. André Ferretti, gerente na Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, coordenador-geral do Observatório do Clima, lembrou as ameaças de redução de áreas protegidas na Amazônia. “Essas ações, que atendem ao interesse de uma minoria que detém poder no Congresso, põem em risco justamente o que se diz ser a maior riqueza do Brasil – o agronegócio. São exatamente os produtores rurais que necessitam dos serviços prestados por áreas naturais preservadas.”
No plano internacional, o presidente defendeu o desarmamento nuclear, manifestou-se contra o nacionalismo exacerbado e o protecionismo e pro- moveu a acolhida de imigrantes e refugiados. Também reafirmou o compromisso do Brasil com o Acordo de Paris sobre mudança do clima.
Temer observou que o momento atual de “incerteza e instabilidade” exige mais diplomacia, negociação, multilateralismo e diálogo. “Certamente necessitamos de mais ONU – e de uma ONU que tenha cada vez mais legitimidade e eficácia”, afirmou o presidente, que reiterou o pleito antigo do Brasil de reforma do Conselho de Segurança.
Em seu discurso, Temer não fez referência à corrupção ou à instabilidade política do Brasil. Ele mencionou o processo de reformas e de recuperação da economia. À noite, o que seria uma entrevista coletiva de Temer se transformou em uma declaração de 1 minuto. Ele ignorou perguntas sobre a Lava Jato e a queda de sua popularidade para 3%.
Temer falou sobre encontro que teve com investidores americanos, nos quais exaltou reformas aprovadas por seu governo e as que ainda estão sob análise do Congresso, como a tributária e previdenciária. Ele virou as costas no momento em que um repórter perguntava se a nova procuradora-geral da República, Raquel Dodge, deve reavaliar a denúncia contra ele apresentada por Rodrigo Janot.
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