Flor típica do Cerrado
*Por Flávia Maia
Dessa forma, o esforço atual das entidades de classe e das associações de defesa do cerrado estão em conscientizar o produtor rural de que o esgotamento do bioma é prejudicial para a própria produção agrícola. “O agricultor pensa em cuidar da terra porque necessita dela. O pecuarista ainda tem muito de exaurir o solo.
Precisamos mudar esse conceito e mostrar que é possível produzir mais e conservar o cerrado. Porque a gente precisa da agricultura e do bioma”, defende Júlio César Sampaio, coordenador do programa Cerrado-Pantanal da WWF-Brasil.
Tecnologia a favor
Ambientalistas e ruralistas buscam técnicas para
combater a baixa produtividade por área do bioma. Pesquisas mostram que cerca
de 150 milhões de hectares, já desmatados, estão subaproveitados
*Por Flávia Maia
O cerrado tornou-se o celeiro da
produção agropecuária. No bioma, o Brasil vem colecionando safras recordes de
grãos. Este ano, agricultores vão colher 114 milhões de toneladas de soja, por
exemplo. No entanto, é possível ir além. E o melhor: sem derrubar uma só árvore
nativa. Pesquisas mostram que cerca de 150 milhões de hectares, já desmatados,
estão subaproveitados.
Combater a baixa produtividade por
hectare tornou-se a perseguição de ambientalistas e ruralistas. Os
ambientalistas lutam para reduzir o desmatamento e as emissões de carbono. Os
ruralistas esperam aumentar a produção das culturas e da criação de animais na
mesma propriedade.
Mineiro radicado em
Goiás, pequeno produtor aprendeu que o desmatamento estraga o solo
Dados da organização não-governamental
WWF-Brasil indicam que as pastagens ocupam 79% da área desmatada de cerrado e é
justamente nessa atividade que os índices de produtividade são os mais baixos.
As culturas irrigadas ocupam 0,1% do cerrado; as plantações de grãos e de
algodão sem irrigação, 14%, e a cana-de açúcar, 4%. Dessa forma, o desafio está
em melhorar o uso da terra, principalmente, onde tem criação de animais como o
boi. Conforme o Correio mostrou ontem, o gado foi uma das primeiras atividades econômicas
que se desenvolveu no bioma. Mas a produção rústica permanece em várias
regiões.
Estudos do Laboratório de Processamento
de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da Universidade Federal de Goiás (UFG)
mostram que o cerrado é o bioma com a maior área convertida em pastagem no
Brasil: são 58,93 milhões de hectares destinados a essa produção; um terço
poderia ser melhor manejada. As áreas degradadas são aquelas em que a pastagem
vai perdendo o vigor vegetativo e a capacidade de alimentar o gado.
Com isso, a estimativa é de que 20 milhões de hectares de pastagem possam ser usados para colocar soja.
Com isso, a estimativa é de que 20 milhões de hectares de pastagem possam ser usados para colocar soja.
Atualmente, são 1,11 animais por
hectare, índice considerado muito baixo por especialistas. Esse número poderia
chegar a 2,56, segundo alguns estudos. “Isso significa ser possível dobrar a
produção na mesma área existente. Ou então, se mantivermos o mesmo tamanho de
rebanho, podemos liberar metade da área de pastagem para outros usos, como a
plantação de outras culturas, como soja, e replantio de áreas degradadas”,
explica Laerte Guimarães Ferreira, coordenador do Lapig.
“A forma como se faz pasto no Brasil ainda degrada muito. O produtor de gado não se considera um produtor. É preciso mudar esse pensamento”, analisa José Felipe Ribeiro, pesquisador da Embrapa Cerrados.
“A forma como se faz pasto no Brasil ainda degrada muito. O produtor de gado não se considera um produtor. É preciso mudar esse pensamento”, analisa José Felipe Ribeiro, pesquisador da Embrapa Cerrados.
Dessa forma, o esforço atual das entidades de classe e das associações de defesa do cerrado estão em conscientizar o produtor rural de que o esgotamento do bioma é prejudicial para a própria produção agrícola. “O agricultor pensa em cuidar da terra porque necessita dela. O pecuarista ainda tem muito de exaurir o solo.
Precisamos mudar esse conceito e mostrar que é possível produzir mais e conservar o cerrado. Porque a gente precisa da agricultura e do bioma”, defende Júlio César Sampaio, coordenador do programa Cerrado-Pantanal da WWF-Brasil.
Tecnologia a favor
A agropecuária é responsável por 20%
das emissões de carbono brasileiras. Quando o Brasil assumiu o compromisso de
reduzir a emissão de gás carbônico na atmosfera, o Banco Mundial, por meio do
projeto Forest Investment Plan (FIP), doou 10 milhões de dólares para o Brasil
investir em disseminar práticas de agricultura de baixa emissão de carbono e
sensibilizar os produtores rurais para que invistam em sua propriedade visando
obter retorno econômico e preservando o meio ambiente.
Assim nasceu o ABC Cerrado, o projeto começou em 2014 e se estenderá até 2019. Entre os vários atores envolvidos no programa estão a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e a Embrapa.
Assim nasceu o ABC Cerrado, o projeto começou em 2014 e se estenderá até 2019. Entre os vários atores envolvidos no programa estão a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e a Embrapa.
O programa está centrado em quatro
frentes: recuperar pastagens degradadas, integrar lavoura-pecuária-floresta,
fazer florestas plantadas e desenvolver o sistema de plantio direto – que
consiste em não deixar o solo descoberto, sem algum tipo de plantação ou capim,
evitando, assim, erosões. A ideia é trabalhar na capacitação do produtor e com
assistência técnica.
De acordo com a CNA, desde o início do projeto, 313 turmas de capacitação já foram concluídas e há 16 turmas em andamento. Quase 4 mil produtores rurais já foram capacitados no Distrito Federal e em sete estados brasileiros: Tocantins, Goiás, Minas Gerais, Maranhão, Bahia, Mato Grosso do Sul e Piauí.
De acordo com a CNA, desde o início do projeto, 313 turmas de capacitação já foram concluídas e há 16 turmas em andamento. Quase 4 mil produtores rurais já foram capacitados no Distrito Federal e em sete estados brasileiros: Tocantins, Goiás, Minas Gerais, Maranhão, Bahia, Mato Grosso do Sul e Piauí.
A opção foi focar no médio produtor
rural, com propriedades de até 70 módulos fiscais. “O grande produtor tem meios
próprios para conseguir o acesso à informação. O pequeno é alvo de outras ações
de políticas públicas. O médio ainda é o mais desassistido”, justifica Mateus
Moraes Tavares, coordenador técnico do projeto ABC Cerrado.
Na assistência técnica são 1,6 mil
produtores atendidos e 76,5 mil hectares foram recuperados. Segundo cálculos da
CNA, a cada R$ 1 que o projeto coloca, o produtor coloca R$ 10. “É uma
contrapartida forte do produtor, mas a gente precisa convencer o produtor rural
dos benefícios. Tem que mostrar pelos resultados: investimento baixo, aumento
de renda. Se o produtor rural não observar os benefícios, ele não vai fazer”,
completa Mateus.
De acordo com Mateus, a preocupação com
o projeto está principalmente na região que engloba Maranhão, Tocantins, Piauí
e Bahia (Matopiba). “A gente tem que trabalhar em áreas convertidas, sem
precisar abrir novas áreas”, explica Mateus.
"Quem quisé tocá seu gado
Chama um vaqueiro daqui,
Que saino desse lado
Nunca que chega daí;
O gado que sai contado
Dana logo pra sumi”
(Conto João Boi, Bernardo
Élis)
1,1
Quantidade de cabeça de gado por
hectare no cerrado
As lições de Argemiro
Argemiro Ribeiro Dias está sempre
arrumado. O chapéu de feltro, a camisa social e o sapato de bico fino
acompanham a cordialidade para receber as visitas. Em 79 anos de vida, ele aprendeu
que o respeito é fundamental em qualquer relação. Com o cerrado, não poderia
ser diferente.
Ele mora em Monte Alto, um distrito de
Padre Bernardo (GO). Há 20 anos, tem um sítio que conseguiu via reforma
agrária. Argemiro fez do cerrado o jardim de sua propriedade. Nos 18 hectares
de terra que a família possui, ele optou por preservar 14. Nos outros quatro,
concentra a sua casa e as dos filhos e a plantação de frutas e verduras
orgânicas.
“Sou de Montes Claros (MG), mas fui
criado em Unaí (MG). Lá tinha de tudo, tinha muito pequizeiro. Comecei a
perceber que o desmatamento estraga o solo, afasta a umidade da terra e abaixa
as águas, por isso, deixamos a mata de pé”, explica Argemiro.
(*) Flávia Maia – Fotos – Arthur
Menescal – Google – Correio Braziliense - Ilustração: Blog - Google
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