Giovana Girardi
Uma das regiões que mais têm sofrido com a seca, o semiárido radical, onde estão os focos de desertificação no Nordeste, pode enfrentar um cenário ainda mais dramático em um futuro de mudanças climáticas.
É o que alerta um trabalho feito pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV), que analisou o custo-benefício de medidas de adaptação para a bacia dos Rios Piancó-Piranhas-Açu, entre o sertão da Paraíba e do Rio Grande do Norte. A região, que abriga cerca de 1,6 milhão de pessoas, já tem sofrido com seca severa nos últimos cinco anos. O trabalho, encomendado pela Agência Nacional de Águas (ANA), e coordenado pelo pesquisador Alexandre Gross, calculou como esse quadro pode evoluir nos próximos 50 anos com a mudança do clima.
No planejamento de riscos futuros tradicional, é normal considerar somente as séries históricas do passado e projetar o mesmo comportamento para frente. Por essa conta, até 2065 (o estudo usa 2016 como ponto de partida), a pesquisa estima que haveria déficit hídrico acumulado de cerca de 1.250 m³/s.
O trabalho calculou, então, como o quadro pode se alterar em três cenários de mudanças: um moderado; um com eventos extremos – em que há muita seca, mas também eventos de chuvas fortes; e um realmente árido. Esse déficit pode saltar para 14%, 84% e 133%, respectivamente.
Do ponto de vista econômico, o quadro sem mudança do clima indica perda de cerca de R$ 17,5 bilhões em 50 anos. O incremento com a mudança do clima pode variar de 7% (cenário moderado) a 97% (árido), atingindo cerca de R$ 35 bilhões.
“A mensagem é simples: planejar o futuro sem pensar nas mudanças climáticas pode significar uma negligência de cerca de 100% das perdas econômicas”, diz Gross. “Sabíamos que poderia haver um déficit maior, mas a magnitude foi surpreendente. E, consequentemente, as perdas econômicas. A ideia é que o comitê de bacias leve isso em consideração”, diz Carlos Perdigão, coordenador da superintendência de planejamento de recursos hídricos da ANA.
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