No dia 17 de setembro duas associações indígenas brasileiras participavam de uma cerimônia em New York como vencedores do Prêmio Equatorial 2017 promovido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e que consagrou as 15 melhores iniciativas de solução sustentável para desafios voltados à proteção e promoção de pessoas, comunidades e do meio ambiente. Duas associações indígenas brasileiras no topo do mundo por atuarem em projetos de desenvolvimento sustentável na Amazônia brasileira. E pouco se falou sobre isso por aqui.
Criado em 2002, o concurso bianual recebeu mais de 800 inscrições de 120 países. Os vencedores brasileiros foram a Associação Ashaninka do rio Amônia, da aldeia Apiwtxa, localizada no estado do Acre na fronteira com o Peru, e também a Associação Terra Indígena Xingu (Atix), que está localizada no estado do Mato Grosso. Cada um recebeu dez mil dólares para serem investidos na continuidade dos trabalhos.
Em tempos de retrocesso contra os povos indígenas, nunca é demais lembrar que as áreas de floresta dentro das Terras Indígenas estão mais protegidas do que em locais não-demarcados. E esse prêmio é capaz de mostrar ao mundo aquilo que muitas vezes o Brasil não enxerga.
De acordo com estudo publicado em 2015, realizado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), em parceria com a Agência Alemã de Cooperação Internacional – GIZ e a Funai, com apoio da Embaixada da Noruega, na Amazônia brasileira, o conjunto de terras indígenas cobre cerca de 110 milhões de hectares e agrega aproximadamente 30% do carbono florestal da região, o que corresponde a algo por volta de 13 bilhões de toneladas de carbono. Pesquisas recentes mostram ainda que somente por ser uma TI homologada diminui de 20 a 30 vezes a chance de ocorrer desmatamento, quando comparada com áreas adjacentes a estes territórios.
A Apiwtxa, que na língua indígena Aruak significa união, candidatou-se apresentando os trabalhos de formação de jovens, trocas de conhecimentos, reflorestamento e conservação da Floresta Amazônica, na Yoreka Ãtame, um Centro de Saberes da Floresta, construído pela própria comunidade, bem como sua atuação junto a comunidades indígenas e extrativistas vizinhas, no âmbito do Projeto Alto Juruá, financiado com recursos do Fundo Amazônia. Por meio de suas diversas iniciativas, a Apiwtxa desenvolveu uma estratégia coesa para defender as terras indígenas e melhorar os meios de subsistência da comunidade.
Já a Atix foi premiada por ter proporcionado que diversas comunidades produzam, conjunta e anualmente, cerca de duas toneladas de mel orgânico certificado. Fundada em 2004, a entidade conta, há anos, com a parceria do Instituto Socioambiental (ISA) no projeto que envolve cerca de 100 apicultores de 39 aldeias dos povos Kawaiwete, Yudja, Kisêdjê e Ikpeng.
Não tive a chance ainda de conhecer a Atix, mas na Apiwtxa estive três vezes em um ano em momentos diferentes. Lembro bem da primeira entrevista que fiz com Moisés Piyako (clique para ler), uma das lideranças, sobre como eles atuavam para protegerem a floresta. E Moisés contou sobre o trabalho realizado com a comunidade ribeirinha que vive no entorno da Terra Indígena, na Reserva Extrativista Alto Juruá, a primeira criada no Brasil após a morte do líder seringueiro Chico Mendes.
Naquele momento não entendi porque atuar fora da área demarcada com o reflorestamento se a própria terra deles já estava garantida. Não com essas palavras que escrevo agora, ele respondeu que isso era necessário porque quando os não-índios percebessem que área degradada não traz sustento e nem renda, a terra Ashaninka poderia estar ameaçada. Portanto, é prudente ensinar para quem não sabe que o melhor mesmo para uma comunidade se manter sustentável é manter a floresta em pé.
E foi então que entendi o porquê de os povos indígenas serem considerados verdadeiros guardiões da Amazônia. Que esse prêmio em reconhecimento ao trabalho dos nossos povos originários e outras iniciativas que acontecem dentro de terras indígenas por toda a floresta sejam um alento da esperança que nos falta. Da nossa parte, só nos resta aprender e nos aliar a eles na luta pela preservação da Amazônia.
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