quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Estudo mostra aumento de migrações por causa das mudanças climáticas

Sexta-feira, 22/12/2017, às 21:57, por Amelia Gonzalez
Novo estudo divulgado nesta sexta-feira (22) no site da revista "Science" mostra um dos muitos efeitos devastadores que as mudanças climáticas já causam e vão continuar trazendo para os humanos.Até o final do século, o número de migrantes, pessoas que vão fugir de seus territórios e tentar entrar na União Europeia, vai triplicar. Mesmo que todos os esforços para reduzir o aquecimento global surjam efeitos satisfatórios, não vai adiantar. O número de pedidos de asilo pode aumentar em um quarto:

“Examinamos como, no passado recente, período entre os anos 2000 e 2014, as variações climáticas em 103 países traduziram-se em pedidos de asilo para a União Europeia. Em média, 350 mil por ano em nossa amostra. Descobrimos que as temperaturas que se desviaram do ótimo moderado (cerca de 20 graus) aumentaram os pedidos de asilo e que, mantendo-se este fenômeno de forma constante, até o final do século o aumento será, em média, de 28%”, diz o texto da revista.

Um dos autores do estudo, o professor da escola de assuntos internacionais e públicos da Universidade de Columbia, em Nova York, WolframSchlenker disse à reportagem do jornal britânico "The Guardian" que “A Europa verá um número crescente de pessoas desesperadas que fogem de seus países de origem".

Outro pesquisador ouvido pelo jornal, Bob Ward, diretor de políticas e comunicações do Grantham Research Institute sobre Mudanças Climáticas e Meio Ambiente, na London School of Economics and Political Science, aposta que centenas de milhões de pessoas serão expostas ao aumento do nível do mar e vão procurar se mudar, o que causará migrações em massa para longe dos locais mais vulneráveis.

"Sabemos que, na história da humanidade, as migrações muitas vezes levam a conflitos e guerras, com consequências devastadoras. E os enormes custos dos conflitos relacionados com a migração geralmente são omitidos nos modelos econômicos dos impactos das mudanças climáticas no futuro", alertou ele.

Como já se sabe, as mudanças do clima vão resultar em mais secas, inundações, ondas de calor e outros eventos extremos, como tempestades, tufões, furacões, além do aumento do nível do mar. Tudo isso vai tornar a agricultura mais difícil em todo o mundo. Ocorre que em lugares pobres e sem recursos, da África e da Ásia, por exemplo, essa dificuldade vai ser muito mais sentida. A Europa também vai sentir os efeitos, mas como os países do continente são mais prósperos, os danos podem ser mais contidos, tornando-o um destino atraente para quem foge dos horrores do aquecimento global.

O resultado deste e de outros tantos estudos que mostram a ligação direta entre aquecimento global e crise em diversos países dão conta, ainda, de como esta é uma questão que mexe com o planeta como um todo. É o motivo de tantas reuniões, encontros, conferências mundiais convocada pelas Nações Unidas para debater a melhor maneira de enfrentar o problema. Um estudo acadêmico realizado em 2015, por exemplo,  mostra  que a guerra civil da Síria tem como pano de fundo uma seca que durou de 2006 a 2010.

"Foi a pior seca registrada no mundo, o que causou privações  generalizadas e uma migração em massa de famílias de agricultores para centros urbanos.  Concluímos que as influências humanas no sistema climático estão implicadas no atual conflito sírio", conclui o estudo.

Outro professor entrevistado pelo “The Guardian”, o norte-americano Solomon Hsiang , professor de Berkeley, da Universidade da Califórnia, e autor de um estudo anterior que liga conflitos e mudanças climáticas,  disse que o mundo deve se preparar.

"Precisamos construir novas instituições e sistemas para gerenciar este fluxo constante de requerentes de asilo. Como vimos da experiência recente na Europa, há custos enormes, tanto para os refugiados como para os seus anfitriões”, diz ele.

A questão é complexa e torna-se ainda mais delicada quando se sabe que 65 milhões de pessoas estão, atualmente, fora de seus territórios de origem, das quais 25 milhões são refugiados e pediram asilo em outros países. Mas esses números, o maior desde a Segunda Guerra Mundial, de acordo com as regras do Direito Internacional,  não contemplam aqueles que precisaram se deslocar por causa das mudanças climáticas, segundo reportagem publicada ontem no jornal “The New York Times”.

O jornal lembra que essa questão pode estar acontecendo porque, na verdade, as leis que regem os direitos dos refugiados foram escritas num tempo em que ainda não se tinha deslocamentos causados pelos efeitos do aquecimento global. Mas, para a maioria dos que defendem as pessoas que estão nesta situação, talvez seja mesmo melhor não mexer muito no tratado, segundo a reportagem.

“Os defensores dos refugiados temem que, se o tratado de refugiados de 1951 fosse aberto para a renegociação, os políticos em vários países tentem enfraquecer as proteções que existem agora. Isso inclui a administração Trump, que proibiu as pessoas de oito países - incluindo refugiados da Síria devastada pela guerra e do Iêmen - de entrarem no país administrado por ele”, diz o texto da reportagem.

Há outras possibilidades. Durante a Conferência do Clima (COP-23) que aconteceu recentemente em Bonn, na Alemanha, o ministro da Holanda, James Shaw, contou que um legislador da Nova Zelândia recentemente propôs uma categoria de visto especial para pessoas deslocadas pela mudança climática. Seria um visto humanitário especial para permitir que as pessoas forçadas a se deslocar por causa das mudanças climáticas tenham um tratamento digno no país que decidir acolhê-las.

Não é um problema qualquer. E sim, a humanidade precisa se dar conta de que precisará lidar com ele sem véus. Para ilustrar o que pode expulsar pessoas de um território, o caso da ilha de Barbuda, no Caribe, pode ser um triste, mas real exemplo. Por causa do furacão Irma, que devastou a região em setembro deste ano, pela primeira vez em 300 anos, não há uma única pessoa viva na ilha.

“Uma civilização que existia ali há cerca de 300 anos já se extinguiu", relatou, emocionado, Ronald Sanders, embaixador de Antígua e Barbuda nos Estados Unidos, à Public Radio International. 

"O dano está completo. É um desastre humanitário", completou. Cerca de 1.700 pessoas precisaram ser deslocadas. O dano foi tão grande que o ator Robert de Niro decidiu fazer uma campanha para ajudar os habitantes.

Sim, é de solidariedade que se está precisando hoje no mundo. E cada vez mais.

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