quarta-feira, 25 de abril de 2018
Poluentes de vida curta ameaçam clima, saúde e produção agrícola na América Latina, diz relatório da ONU Meio Ambiente
Até 2050, se adotarem medidas para combater os poluentes de vida curta,
países da América Latina e do Caribe poderão reduzir em 0,9ºC o aumento
da temperatura regional.
A estimativa é de um relatório divulgado neste mês (19) pela ONU Meio
Ambiente, que alerta para os riscos à saúde, à natureza e à produção
agrícola de substâncias como o metano, o carbono negro, os
hidrofluorocarbonos (HFC) e o ozônio.
Até 2050, se adotarem medidas para combater os poluentes de vida curta,
países da América Latina e do Caribe poderão reduzir em 0,9ºC o aumento
da temperatura regional. A estimativa é de um relatório divulgado neste
mês (19) pela ONU Meio Ambiente, que alerta para os riscos à saúde, à
natureza e à produção agrícola de substâncias como o metano, o carbono
negro, os hidrofluorocarbonos (HFC) e o ozônio.
A pesquisa da agência das Nações Unidas aponta que reduções desses
compostos químicos poderiam provocar uma queda de 26% no número de
mortes prematuras causadas pela poluição do ar por partículas finas.
Quando considerados os óbitos associados à contaminação por ozônio, o
índice poderia chegar a 40%.
A ONU Meio Ambiente estima que, em 2010, 64 mil pessoas morreram na
América Latina e no Caribe devido à exposição a esses materiais.
Estratégias para mitigar os poluentes de vida curta também permitiriam
evitar perdas anuais de 3 a 4 milhões de toneladas de cultivos básicos.
De acordo com o levantamento, em 2010, o ozônio foi responsável por um
prejuízo de 7,4 milhões de toneladas em produtos agrícolas, como soja,
milho, trigo e arroz.
Segundo a análise da ONU, até 2050, a mortalidade prematura, associada
às partículas finas e ao ozônio, poderá dobrar. Já as perdas da
agricultura poderão alcançar 9 milhões de toneladas por ano.
Ozônio
O ozônio é um gás que se forma tanto nas altas camadas da atmosfera (a
estratosfera), como nas baixas (a troposfera). Na estratosfera, a
substância protege a vida terrestre da radiação ultravioleta do sol. Mas
na troposfera, ela atua como um poluente perigoso. O ozônio é um dos
principais componentes de névoa urbana e o terceiro maior causador do
aquecimento global, atrás apenas do metano e do gás carbônico. Pesquisas
associaram o contato com a substância a índices mais altos de infartos,
acidentes vasculares cerebrais, doenças cardiovasculares e problemas
reprodutivos e de desenvolvimento. O gás também reduz o rendimento das
safras e a qualidade e produtividade das plantações.
Podendo permanecer na atmosfera desde horas até dias, o ozônio é
considerado um poluente secundário, pois não é emitido diretamente por
uma atividade humana. Na verdade, a substância se forma quando gases
precursores, como o metano, o monóxido de carbono e o óxido de
nitrogênio, reagem na presença da luz solar. Por isso, é tão importante
reduzir as emissões de metano.
A ONU Meio Ambiente lembra que o potencial de aquecimento atmosférico
dos poluentes de vida curta é bem mais alto que o do gás carbônico,
podendo atingir um valor mil vezes maior que a taxa atribuída ao dióxido
de carbono.
A agricultura, o transporte e a refrigeração doméstica e comercial são,
respectivamente, os maiores responsáveis pelas emissões de metano;
carbono negro e partículas tóxicas finas; e hidrofluorocarbonos.
Soluções
O relatório das Nações Unidas apresenta medidas para diminuir as
emissões desses compostos que desregulam o clima e ameaçam a vida no
planeta.
Para combater o metano, são necessárias mudanças em quatro setores-chave
– produção e distribuição de petróleo e gás, gestão de resíduos,
mineração de carvão e agricultura. A pesquisa recomenda práticas de
captura e uso dos gases liberados na produção de petróleo e gás;
separação e tratamento dos resíduos sólidos municipais que sejam
biodegradáveis; e captura do biogás proveniente do esterco do gado.
Até 2050, estratégias poderiam reduzir em 45% as emissões de metano.
Metano
O metano é o segundo gás com maior impacto sobre o aquecimento do
planeta, depois do gás carbônico. A América Latina e o Caribe respondem
por aproximadamente 15% de todas as emissões dessa substância. Quase
todo o metano liberado na atmosfera vem de três setores: agricultura
(cerca de 50%); produção e distribuição de carvão, petróleo e gás (em
torno de 40%); e gestão de resíduos (por volta de 10%). O gás permanece
na atmosfera por aproximadamente 12 anos e é considerado um importante
precursor do ozônio.
O volume de carbono negro liberado nos países latino-americanos e
caribenhos também pode ter queda considerável – de 80% – até 2050. Para
isso, governos devem adotar normas equivalentes ao padrão europeu para
regular os veículos a diesel, além de incorporar filtros para as
partículas liberadas pelo combustível nesses automóveis.
Outras iniciativas exigidas são a eliminação dos veículos de altas
emissões; a modernização de cozinhas e estufas; e a proibição da queima a
céu aberto de resíduos agrícolas.
No caso dos hidrofluorocarbonos, a ONU Meio Ambiente recomenda a
substituição desses compostos por alternativas que não tenham impacto
sobre as variações do clima. Os HFCs são usados principalmente nos
sistemas de refrigeração e ar condicionado, bem como na confecção de
espumas isolantes e mecanismos de disparo aerosol. Até 2020, o consumo
dessas substâncias deverá dobrar. Uma vez no ambiente, elas permanecem
de 15 a 29 anos na atmosfera.
“Muitos países já estão implementando medidas para eliminar as emissões
procedentes dos setores de transporte e energia, mas sua aplicação não é
uniforme na região”, avalia a chefe da Secretaria da Coalizão Clima e
Ar Limpo, Helena Molin Valdés.
“Políticas públicas mais exigentes e um maior controle da contaminação
podem impulsionar os incentivos econômicos e os benefícios para a ação
climática, a saúde, a agricultura e o desenvolvimento sustentável. É
essencial agir rapidamente.”
Carbono negro
O carbono negro é formado a partir da combustão incompleta de
combustíveis fósseis ou biocombustíveis. A substância contribui para a
produção de partículas finas, associadas a doenças pulmonares e
cardiovasculares, derrames, infartos, patologias respiratórias crônicas,
como bronquite, e agravamento da asma.
A América Latina e o Caribe são responsáveis por menos de 10% do total
global de emissões de carbono negro geradas pelo homem, excluindo da
estimativa os incêndios florestais e em regiões de savana. O transporte e
a queima residencial de combustíveis sólidos para o preparo de
alimentos e aquecimento residencial são a causa de 75% das emissões na
região. Mais de 60% delas vêm do Brasil e do México.
Para o diretor da ONU Meio Ambiente para a América Latina e o Caribe,
Leo Heileman, nações devem se inspirar nas soluções apresentadas pelo
levantamento.
“Se os países da região as adotarem, contribuirão para manter o aumento
da temperatura do planeta abaixo do limiar de 2ºC estabelecido no Acordo
Climático de Paris”, afirmou o representante do organismo
internacional.
O relatório Avaliação Integrada dos Poluentes Climáticos de Vida Curta é
o primeiro do tipo elaborado pela agência das Nações Unidas e reúne
trabalhos de 90 autores, coordenados por um grupo de especialistas. A
publicação foi lançada pela ONU em parceria com a Coalizão Clima e Ar
Limpo.
Acesse o documento na íntegra clicando aqui.
Fonte: EcoDebate
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