O rato
gigante que ameaça de extinção espécie de albatroz
Introduzidos
no século 19 por navios que chegavam à ilha de Gough, roedores comem ovos e
filhotes de pássaros deste importante santuário de aves no Atlântico Sul.
Por BBC
23/10/2018
10h45 Atualizado há 2 dias
Só restam 2
mil casais de albatroz-de-tristão na ilha de Gough — Foto: Ben Dilley/BBC
Ratos
gigantes estão matando milhões de filhotes de aves em uma ilha remota do
Atlântico Sul, chegando a ameaçar espécies raras de extinção.
De acordo
com um estudo da organização britânica Royal Society for the Protection of
Birds, ratos introduzidos na ilha de Gough no século 19 passaram a comer os
ovos e os filhotes de pássaros.
O grupo diz
que, se nada for feito, uma espécie ameaçada, albatroz-de-tristão,
provavelmente será extinta.
Há,
entretanto, um projeto para erradicar o roedor até 2020.
Gough é uma
ilha remota que faz parte do território do Reino Unido, considerada uma das
mais importantes colônias de pássaros do mundo, com mais de 10 milhões deles.
É também
chamada de Ilha de Gonçalo Álvares pelos portugueses, em homenagem ao
explorador que teria sido um dos primeiros a chegar ao local, no início do
século 16.
Ratos
chegaram a matar 2 milhões de filhotes em um ano - albatroz é uma das espécies
afetadas — Foto: J Cleeland/BBC
Os ratos
chegaram à ilha vulcânica de 91 km² trazidos pelos navios que aportavam ali no
século 19, e se adaptaram às condições naquele pequeno pedaço de terra
alimentando-se de ovos e de filhotes de aves.
Câmeras já
registraram grupos de até nove ratos comendo os filhotes de pássaros.
A
estratégia adaptativa deu tão certo que os ratos acabaram se tornaram
"gigantes". São 50% maiores do que um rato doméstico.
"Muitas
das aves da ilha são pequenas e fazem seus ninhos em buracos", diz Anthony
Caravaggi, da University College Cork, na Irlanda.
"Os
filhotes são menores e não têm como fugir, então, para um rato oportunista,
eles são presa relativamente fácil. Como ficaram maiores, os ratos agora atacam
todos os pássaros, mesmo os filhotes de albatroz-de-tristão, que são maiores do
que outras aves".
Um dos
ratos que estão causando estragos na ilha de Gough — Foto: Ben Dilley/BBC
De acordo
com o estudo de Caravaggi, ao menos dois milhões de filhotes estão sendo
perdidos anualmente.
Só restam 2
mil casais. As aves vivem em casal a vida toda e produzem só um ovo por ano.
Há
registros de pais que voltam para o ninho com comida e encontram os filhotes
mortos. A extinção dessa espécie é dada certa em algumas décadas, caso a
situação não seja revertida.
"Num
curto espaço de tempo, o albatroz-de-tristão desaparecerá, assim como várias
outras espécies", diz Caravaggi.
"Apesar
da ave ser a que mais chama atenção, há outras espécies aqui, como a
grazina-de-barriga-branca e faigões, que serão os próximos (a entrarem em
extinção), se os ratos não forem removidos."
Dado que os
ratos se adaptaram à oportunidade que as aves representam, por que elas também
não reagiram à ameaça?
"Essas
espécies evoluíram para viver na ilha livres de predadores. É por isso que tem
tantas aves lá", diz Alex Bond, do Natural History Museum, que também
assina a pesquisa.
"Surgem
novas gerações de ratos umas duas vezes por ano, mas, para aves como a albatroz-de-tristão,
que ficam os primeiros dez anos no mar, demora muito para esses mecanismos
comportamentais terem efeito."
A RSPB,
junto com o governo do arquipélago de Tristão da Cunha, que são os responsáveis
pela ilha, fizeram um plano para erradicar os ratos da ilha.
A operação
deve começar em 2020. Por causa da localização da ilha, é um grande desafio
logístico.
É preciso
enviar um navio da África do Sul, que vai levar dois helicópteros e um
carregamento de bolinhas de cereal munidas de um anticoagulante que, em tese,
mataria os ratos em 24 horas.
Ao chegarem
à ilha, os helicópteros espalhariam as bolinhas pelo território.
"Eliminar
essa espécie invasiva é algo que já foi feito em 700 ilhas pelo mundo",
diz Bond.
"Não é
uma novidade o que estamos fazendo, é uma técnica testada que pode trazer a
solução que precisamos."
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