quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Correio Braziliense – Vítimas da estiagem


É preocupante a rapidez dos efeitos negativos da seca pelo país. Ao todo, 14,8 milhões de brasileiros estão vivendo em condições de seca severa à excepcional, segundo o mais recente relatório do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). O percentual aumentou 208% em três meses. Em julho, por exemplo, a seca atingia 4,8 milhões de pessoas. Se as previsões meteorológicas se confirmarem, a situação pode degringolar ainda mais no verão.

Uma das situações que mais se agravaram foi em Alagoas. Lá, 38 municípios decretaram situação de emergência. O abastecimento por caminhão-pipa será imediato. Serão gastos R$ 8 milhões para o combate à seca. O governo federal desembolsará R$ 5 milhões e o estadual, R$ 3 milhões.

Há situações ainda mais graves. Quase 40% da população baiana convive com a estiagem. Mais de 5,9 milhões de pessoas sobrevivem com dificuldade de acesso à água. A Defesa Civil da Bahia, só este ano, decretou situação de emergência em 219 dos 417 municípios do estado, por conta do longo período de estiagem.

Houve uma piora no cenário do Ceará. A seca extrema no estado passou de 8,17% do território para 19,36% em dois meses. Além disso, a única região cearense que não apresentava indícios de seca no mês passado, o Litoral Norte, agora se encontra em situação de seca fraca, o que a longo prazo pode se espalhar.

Em Minas Gerais, mais de 100 cidades também estão em situação de emergência. Uma das situações mais graves é a de São Geraldo do Baixio, no oeste mineiro. Os quase quatro mil habitantes do município eram abastecidos pela água do córrego São Geraldo que secou. Poços artesianos não dão conta de suprir a necessidade da população. Há pelo menos quatro dias, o abastecimento dos moradores é feito exclusivamente por caminhões-pipa.

De acordo com o boletim divulgado pelo Cemaden, a expansão espacial das condições de seca severa à excepcional, principalmente no agreste dos Estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Ao todo, 150 municípios estão classificados com condição de seca severa, 224 com condição de seca extrema e 40 com condição de seca excepcional. Esses municípios estão localizados nos Estados da Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas e Bahia.

Alerta
O documento ainda faz um aviso. “Dado que se espera um episódio de El Niño durante a próxima estação chuvosa do norte do semiárido, e as condições de seca têm aumentado recentemente, sugere-se que as partes interessadas no gerenciamento e uso de água assumam um estado de atenção”, conclui o texto.

O mesmo sinal é dado pela chefe do Centro de Análise e Previsão do Tempo do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Morgana Almeida. “Atualmente, estamos no padrão de neutralidade. A previsão é de que ocorra a formação de um El Niño. A possibilidade é de 75%. Ainda é cedo para se ter uma avaliação. Contudo, o sinal está amarelo. Ele pode afetar negativamente e agravar a situação de regiões que estão passando por estiagem”, explica.

A meteorologista acrescenta que o período chuvoso nessas regiões ocorre entre fevereiro e março. “Estamos no período de estiagem. As chuvas começam no sul do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, região conhecida como “Matopiba”. As chuvas estão no padrão normal. Só que no semiárido não foram suficientes para recuperar o deficit hídrico. Este ano não foi tão ruim quando comparado com os últimos sete anos”, conclui.

Emergência
Dados do Sistema de Acompanhamento dos Reservatórios da Agência Nacional de Águas (ANA) mostram como a situação é delicada. Dos 532 aquíferos, 260, ou seja, quase metade, estão com níveis abaixo de 30% da capacidade total. Na outra ponta, somente 23 bacias estão com índices acima de 90%.

Atualmente, 11,7% dos municípios brasileiros estão em situação de emergência reconhecida pelo Ministério da Integração Nacional em razão de seca e estiagem. Das 5.570 cidades, 655 passam pelo problema. “Somente em outubro, a Operação Carro-Pipa Federal já atendeu a mais de 2,1 milhões de brasileiros em áreas rurais”, destaca o órgão, em nota.

Um dos exemplos é a cidade Pio IX, no sul do Piauí, que deve retomar esse tipo de distribuição. Água vinda de carro-pipa é a principal forma de abastecimento para os 18 mil moradores do município. “Esta operação é muito importante para garantir água de qualidade às famílias afetadas pela seca e que minimiza o sofrimento do povo”, explica a prefeita Regina Coeli.

O decreto oficial de emergência ou calamidade tem vigência por 180 dias. Dentre as ações de apoio imediato, estão a implantação de adutoras de engate rápido, o abastecimento por meio de caminhões-pipa nas áreas urbanas e rurais e a aquisição de forragem para alimentação animal, coordenadas pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec) do Ministério da Integração Nacional.


E EU COM ISSO

Conta de luz mais cara

Quando a estiagem se prolonga, o abastecimento da população e a geração de energia elétrica ficam gravemente comprometidos. A seca é um dos motivos para a bandeira vermelha patamar 2 continuar em vigência pelo quinto mês consecutivo. Essa é uma forma de repassar ao consumidor o aumento no custo de produção de energia. A elevação na conta é de R$5 a cada 100kW/h consumidos, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Isso acontece porque o nível dos reservatórios de água das hidrelétricas estão com volumes muito baixos e a geração passa a utilizar as termelétricas, de produção mais cara.

Aquecimento das águas

O El Niño é o maior fenômeno climático global. A cada dois e cinco anos, uma enorme quantidade de água do Oceano Pacífico Equatorial se aquece, mudando o regime dos ventos. Em anos normais, sem a presença do El Niño ou La Niña, as águas do Oceano Pacífico Equatorial Oeste são mais quentes do que junto à costa oeste da América do Sul, onde as águas do Pacífico são um pouco mais frias. As águas quentes ficam concentradas do lado da Indonésia. O ar quente e úmido que sai desta região se eleva gerando muitas nuvens de chuva. Em altitudes mais elevadas da atmosfera, o ar se resfria e desce seco sobre a região da costa do Peru. As principais consequências do fenômeno são o aumento de chuvas no sul da América do Sul e sudeste dos Estados Unidos, secas no Nordeste brasileiro, centro da África, Sudeste asiático e América Central e tempestades tropicais no centro do Pacífico.

Nenhum comentário: