quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Correio Braziliense – Contaminação da terra é ainda maior


Há uma preocupação grande quanto ao impacto do aumento de microplásticos nos oceanos entre especialistas e autoridades de todo o mundo. Uma equipe de pesquisadores da Alemanha, porém, chama a atenção para os efeitos do acúmulo desses resíduos em terra. Pequenos resíduos de roupas, carros, cosméticos, entre outros produtos, representam uma ameaça a criaturas terrestres, incluindo os homens, e podem comprometer o fornecimento de alimentos e de água doce.

“Embora apenas poucas pesquisas tenham sido realizadas nessa área, os resultados até o momento são preocupantes: fragmentos de plástico estão presentes praticamente em todo o mundo e podem desencadear muitos tipos de efeitos adversos. Os efeitos anteriormente observados de microplásticos e nanoplásticos em ecossistemas terrestres em todo o mundo indicam que esses ecossistemas também podem estar seriamente comprometidos”, alerta Anderson Abel de Souza Machado, pesquisador do Instituto Leibniz de Ecologia de Água Doce e Pesca Interior (IGB).

Machado lidera um grupo de pesquisadores que faz uma revisão científica de trabalhos sobre o efeito dos microplásticos nos ecossistemas terrestres. Entre as constatações está a de que as superfícies de minúsculos fragmentos de plástico podem transportar organismos causadores de doenças e agir como vetor que transmite doenças.  A equipe também chegou à conclusão de que o esgoto é um dos principais distribuidores desses pequenos resíduos. De 80% a 90% dessas partículas contidas no esgoto, como as fibras do vestuário, persistem no lod,o que, em muitos casos, é aplicado em campos como fertilizante. Há estudos sinalizando a presença dessas substâncias no açúcar e na cerveja.

Decomposição
A equipe também chama a atenção para o fato de os microplásticos interagirem com a fauna do solo. As minhocas, por exemplo, mudam a forma como fazem as tocas se há a presença desses fragmentos na terra. A alteração do comportamento pode mudar a condição do solo, como a fertilidade. Outra preocupação é com o processo de decomposição desses produtos, que ganham novas propriedades físicas e químicas quando se desintegram, aumentando o risco de que tenham um efeito tóxico nos organismos. Quanto maior a probabilidade de ocorrência de efeitos tóxicos, maior o número de espécies e funções ecológicas potencialmente afetadas.

Segundo Machado, a ingestão e a absorção de microplásticos podem se tornar o novo fator de estresse ao meio ambiente. A falta de métodos padronizados para avaliá-los, porém, dificulta uma avaliação precisa da situação. “Esses dados são necessários para poder responder com eficácia à contaminação por microplásticos e ao risco que representam para os ecossistemas terrestres, onde, afinal, a maior parte dos resíduos plásticos que entram no meio ambiente se acumula.” A estimativa é de que há 23 vezes mais dessas substâncias na terra do que nos oceanos.

Até  90%

Estimativa de microplásticos presentes no esgoto que persistem no lodo, muito usado em fertilizantes

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