quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Amazônia mais protegida: Rio Juruá ganha título de Sítio Ramsar

WWF



13 Novembro 2018   |   0 Comments
Por José Luiz Cerqueira* e Jorge Eduardo Dantas

A bacia hidrográfica do Rio Juruá, localizada entre os estados do Acre e do Amazonas, é a mais nova região brasileira a ganhar o título de “Sítio Ramsar”. Este título reconhece a importância ecológica daquele local, sinalizando que as medidas de proteção existentes por ali devem ser reforçadas e ampliadas.

Ao mesmo tempo, este reconhecimento também faz com que a região fique “mais acessível” e ganhe prioridade no acesso à cooperação técnica internacional e a apoio financeiro para o desenvolvimento de projetos de conservação da natureza.

O local reconhecido como Sítio Ramsar compreende uma área de 2,1 milhões de hectares e é composto por três Unidades de Conservação: a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Uacari e as Reservas Extrativistas (Resex) Baixo Rio Juruá e Alto Rio Juruá. Ali também está situada a Terra Indígena Dení.

A governança do Sítio Ramsar será feita com apoio do Fórum Médio Juruá, um grupo formado por diversas instituições que atuam na região – reforçando, assim, uma gestão democrática e participativa deste Sítio.

O reconhecimento da área aconteceu durante a 13ª Reunião das Partes da Convenção de Ramsar (COP 13), ocorrida recentemente em Dubai, nos Emirados Árabes. Na mesma ocasião, uma outra área brasileira também foi reconhecida como Sítio Ramsar: a Estação Ecológica do Taiamã, no Pantanal mato-grossense.

Atualmente, o Brasil possui 27 Sítios Ramsar – 9 deles, na Amazônia.

Conhecendo o Juruá

O rio Juruá é um dos principais afluentes da margem direita do rio Amazonas. Ele nasce no Andes peruanos e desemboca no rio Solimões. Possui mais de 3 mil quilômetros, sendo que 1,5 mil deles são navegáveis. É considerado um dos rios mais sinuosos da Bacia Amazônica.

Depois de nascer no Peru, ele entra no Brasil pelo Acre – mais precisamente, pelo Parque Nacional Serra do Divisor, uma das áreas mais isoladas da Amazônia.

O Juruá tem uma enorme planície de alagamento e por isso, em função do regime de seca e cheia dos rios amazônicos, dá origem a milhares de lagos todos os anos. Também por conta deste fenômeno, a altura do rio varia entre 12 a 15 metros. Seu principal problema ambiental são as pastagens e a extração ilegal de madeira, que ocorrem principalmente no Acre.

Projetos

Nos últimos anos, o WWF-Brasil tem realizado alguns trabalhos na Bacia do Juruá. Um deles foi a Expedição Ecodrones – Botos da Amazônia, de 2016, que utilizou Veículos Aéreos Não-Tripulados (VANT’S) para contar e monitorar botos. Na ocasião, essa foi uma iniciativa inédita, que trouxe para o Brasil uma nova maneira de fazer monitoramento de fauna.

Esses estudos com botos constaram no material enviado à Convenção que ajudou no reconhecimento da Bacia do Juruá como Sítio Ramsar.

“A expedição percorreu mais de 400 quilômetros e teve enorme importância para a coleta de dados sobre botos de duas espécies, o cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e o tucuxi (Sotalia fluviatilis). As informações, obtidas junto com o Instituto Mamirauá, tiveram grande influência para a obtenção do título de Sítio Ramsar”, explicou Marcelo Oliveira, o especialista de conservação do WWF-Brasil que participou deste projeto.

Outra ação desenvolvida em anos recentes foi o Intercambiando, uma parceria entre o WWF-Brasil e a Coca-Cola. Na ocasião, 60 jovens da cidade de Carauari, no Amazonas, participaram de capacitações voltadas para o desenvolvimento do empreendedorismo e do protagonismo juvenil.

Para o coordenador do Programa Amazônia do WWF-Brasil Ricardo Mello, o reconhecimento da Bacia tem potencial para transformar e melhorar a vida dos habitantes daquela região. “Esperamos que este reconhecimento global sobre a importância ecológica do Juruá se converta em benefícios para aquela área, trazendo melhoria para a gestão das unidades de conservação e aumento de renda para os municípios”, afirmou.

*Estagiário sob a supervisão de Jorge Eduardo Dantas e Denise Oliveira
O novo Sítio Ramsar possui mais de 2,1 milhões de hectares numa das áreas mais isoladas da Amazônia
© ICMBio/ Bruno Bimbato Enlarge
O novo Sítio Ramsar conta com duas Reservas Extrativistas em sua composição
© © Edward Parker / WWF Enlarge
© Amanda Lelis Enlarge
Diversas populações amazônicas creem que os botos  possuem
© Fundación Omacha/ Fernando Trujillo Enlarge
© WWF-Brasil Enlarge
Ilustração mostra o mapa atualizado de todos os Sítios Ramsar existentes no Brasil
© Ministério do Meio Ambiente Enlarge

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