Ruralistas são metade da nova Frente Parlamentar da Alimentação e Saúde
Relator do
PL do Veneno, Luiz Nishimori, é um dos 120 deputados da Frente
Parlamentar da Agropecuária que estão no novo bloco, ao lado de dez
senadores que também defendem o agronegócio e a flexibilização das leis
sobre agrotóxicos
Foi lançada nesta quarta-feira (29) a Frente Parlamentar da Alimentação e Saúde,
que tem como proposta promover políticas públicas para garantir a
segurança alimentar dos brasileiros. Na prática, criar novas leis.
Metade dos 254 membros da nova iniciativa pertence também à Frente
Parlamentar da Agropecuária (FPA), organização que representa o
interesse dos ruralistas no Congresso. De Olho nos Ruralistas apurou que
dez entre os vinte senadores da nova frente e 120 entre os 253
deputados estão nos dois grupos.
Um desses deputados com os pés nas duas canoas é Luiz
Nishimori (PR-PR), relator do Projeto de Lei nº 6.299, que visa mudar a
legislação dos agrotóxicos. O projeto é conhecido como “Lei do Veneno”. O
deputado também é empresário: “Relator do PL do Veneno, Luiz Nishimori vendeu agrotóxicos no Paraná“. E defende empresas do setor: “Deputado pró-agrotóxicos promoveu Mitsui, empresa flagrada com venenos ilegais na BA“.
O PL do Veneno foi aprovado em uma comissão especial da
Câmara em junho de 2018. O Instituto Nacional do Câncer, ligado ao
Ministério da Saúde, e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (Ibama) entenderam que o texto flexibiliza o
uso dessas substâncias, o que coloca em xeque a segurança de
trabalhadores do campo e da população em geral.
COORDENADOR QUER AUTOFISCALIZAÇÃO PELO AGRONEGÓCIO
O presidente da FPA, deputado Alceu Moreira (MDB-RS),
definiu a nova frente como “um novo braço da Frente Parlamentar da
Agropecuária”. Só que trabalhando com o vértice da alimentação e da
saúde. “Esse conceito vai levar o agro para o consumo, para o centro
urbano”, afirmou. Entre os signatários da Frente Parlamentar da
Alimentação e Saúde, porém, estão congressistas ligados a movimentos
socioambientais – com orientação distinta daquela dos defensores do
agronegócio.
Coordenada
pelo deputado federal Evandro Roman (PSD-PR), a iniciativa tem como
objetivo promover políticas públicas que garantam a segurança alimentar e
nutricional da população. Ele afirma que a ideia é trabalhar em
parceria com entidades e órgãos públicos para estabelecer compromissos
entre o Congresso e a sociedade civil. Roman defende um projeto do
Ministério da Agricultura que prevê autofiscalização do agronegócio. O
modelo propõe contratação de profissionais liberais por frigoríficos e
indústrias de alimentos para auxiliar na fiscalização agropecuária
estadual e municipal no Brasil.
Outro deputado que faz parte da FPA e da nova frente é o
ex-ministro da Agricultura Neri Geller, historicamente a favor do uso de
pesticidas. Durante o seu mandato (2014-15), Geller defendeu que o
impedimento na utilização de algum tipo de veneno no País, entre eles o
glifosato, pode “banir a agricultura brasileira”. De acordo com a
Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC), a substância é
provável causadora de câncer.
Outro signatário da frente da alimentação é o deputado
Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) atua na diretoria da Frente Parlamentar da
Agropecuária como vice-presidente na região Sudeste. Assim como Geller,
ele defende o “PL do Veneno”. Jardim se tornou coordenador de outra
frente lançada nesta quarta-feira, em defesa do setor sucroenergético. A cana-de-açúcar é a monocultura mais incidente em São Paulo, estado campeão no uso de agrotóxicos.
INICIATIVA FAZ PARTE DE MARKETING DO AGRONEGÓCIO
O lançamento da Frente Parlamentar da Alimentação e Saúde
faz parte de um contexto de ações midiáticas do setor empresarial para
amenizar os efeitos nocivos do agronegócio. A iniciativa mais conhecida é
a campanha “Agro é Tech, Agro é Pop, Agro é Tudo”, repetida exaustivamente no horário nobre da Rede Globo desde meados de 2016.
Em abril foi lançada a campanha Agrosaber, que visa
suavizar a opinião da população em relação ao uso de veneno nos
alimentos. Outro exemplo foi o lançamento no dia 14 do programa Conexão
Brasília, exibido pelo Canal Rural, que pertence à JBS – uma das
empresas que financiam a campanha Agro é Pop. A atração promete
transmitir toda semana entrevistas ao vivo com membros da Frente
Parlamentar da Agropecuária.
O Conexão Brasília é produzido em parceria com Associação
Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja (Abrass) e Associação dos
Produtores de Soja do Brasil de Mato Grosso (Aprosoja-MT). Ambas
organizações financiam as atividades da bancada ruralista por meio de
recursos fornecidos ao Instituto Pensar Agropecuária (IPA).
A Aprosoja é uma das dezenas de associações ligadas ao agronegócio que financiam a campanha pró-agrotóxicos, a Agrosaber.
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