sexta-feira, 7 de junho de 2019

Mais de 600 cientistas pedem que UE pressione Bolsonaro contra desmatamento no Brasil

Mais de 600 cientistas pedem que UE pressione Bolsonaro contra desmatamento no Brasil

Os pesquisadores sugerem utilizar as negociações comerciais para obrigar o Governo brasileiro a respeitar o meio ambiente




Indígena pula árvore derrubada ilegalmente no Pará.
Indígena pula árvore derrubada ilegalmente no Pará.

Um grupo a mais de 600 cientistas europeus e 300 organizações indígenas pediram à União Europeia que aproveite as atuais negociações comerciais com o Brasil para pressionar o Governo de Jair Bolsonaro a respeitar o meio ambiente e os direitos humanos.


A carta aberta, publicada em 25 de abril na revista Science, afirma que a UE gastou mais de 3 bilhões de euros em ferro brasileiro em 2017, “apesar dos perigosos padrões de segurança e do enorme desmatamento provocado pela mineração”. Só em 2011, segundo eles, a UE importou do Brasil quantidades de carne e alimento para gado associados a uma desflorestação de mais de 1.000 quilômetros quadrados, uma superfície “equivalente a mais de 300 campos de futebol por dia”.
O ultradireitista Bolsonaro chegou à Presidência do Brasil proclamando que acabaria com “o ativismo ambiental” e com a “indústria de demarcação” de terras indígenas. Os 600 cientistas pedem à UE que “aproveite esta oportunidade” para derrubar as piores promessas do presidente brasileiro. Já em outubro, Bolsonaro anunciou que não tiraria Brasil do Acordo de Paris contra a mudança climática, apesar de ter prometido que o faria. Abandonar o pacto ambiental implicaria perder certificados internacionais de qualidade essenciais para as exportações de seu setor agrícola.

“A UE foi fundada sobre os princípios do respeito aos direitos humanos e à dignidade humana. Hoje, tem a oportunidade de ser líder mundial no apoio a estes princípios e a um clima habitável, fazendo da sustentabilidade a pedra fundamental de suas negociações comerciais com Brasil”, assinalam os 600 cientistas, encabeçados pela ecologista Laura Kehoe, da Universidade de Oxford (Reino Unido).

“Neste exato momento, os consumidores europeus não têm como saber quanto sangue há realmente em seus hambúrgueres”, declarou Kehoe, uma jovem pesquisadora de pós-doutorado que trabalhou em projetos ambientais na Bolívia, África do Sul, Guiné, Canadá e México. “A UE gasta mais de 2.000 milhões de euros a cada ano em alimento para o gado comprado no Brasil, apesar de não saber se provém de terras desmatadas”, asseguram os cientistas e os ativistas indígenas no site criado para difundir sua mensagem.

A finlandesa Heidi Hautala, vice-presidenta do Parlamento Europeu e política do Grupo da Verdes/Aliança Livre Europeia, respaldou publicamente o apelo dos pesquisadores. Os eurodeputados espanhóis Jordi Solé, de Esquerra Republicana de Catalunha, e Florent Marcellesi, de Equo, também apoiaram o grupo.

Em outra carta publicada no portal científico The Conversation , Kehoe chegou a assegurar que “o genocídio é uma possibilidade real se não se faz nada para proteger os povos indígenas e suas terras”.
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