O ativismo e a militância por direitos ambientais sociais e humanos são parte do processo civilizatório das sociedades e, pasmem, são uma qualificada porta de acesso para jovens no mercado de trabalho
Uma sociedade liberal e conservadora não tem espaço para ativismo da população. Não tem lugar para a insatisfação de grupos em relação a políticas públicas e demanda sociais e ambientais.
Em uma sociedade liberal ideal existem as empresas e a absoluta liberdade empreendedora, e o Estado, com as devidas amarras do “estado mínimo”. Se algo precisa ser feito, o “mercado” com suas mãos invisíveis suprirá, tal qual um pastor que cuida de seu rebanho. Não há insatisfação da sociedade que não mereça uma resposta por parte de empreendedores sempre dispostos a criar soluções, mas que se possa comprar.
Mesmo que o mercado e o empreendedorismo tenham uma imensa capacidade de ação, em um planeta cada vez mais apertado em seus limites há coisas que o mercado e os economistas insistem em chamar de “externalidades” ou mesmo em fazer uma veemente negativa em relação aos fatos.
Alguns dos temas que o “mercado” insiste em lançar para baixo do tapete são de alto impacto sobre a qualidade de vida das pessoas, a biodiversidade do planeta, alterações climáticas e mesmo a saúde da economia.
Podemos começar com um dos temas queridos das pessoas na hora de consumir e absoluto na hora de receber críticas, os plásticos. Há estimativas de que até 2050 haverá mais plásticos nos oceanos da Terra do que peixes. Além disso o plástico, em seus mais diversos formatos e composições é um dos vilões da biodiversidade, matando animais em todos os biomas do planeta.
Em seguida podemos falar do automóvel, responsável pela ocupação de mais da metade dos espaços urbanos e por apenas 27% em média da mobilidade nas grandes cidades. É, também o principal vilão da poluição urbana e da emissão de gases estufa a partir da queima de combustíveis fósseis.
Tem a carne bovina, que no Brasil é representada por um rebanho de quase 220 milhões de cabeças, há um boi para cada brasileiro. Esse rebanho é responsável por uma imensa ocupação de territórios na Amazônia, onde a média é de menos de 1 cabeça por hectare de pastagem.
Em termos de desigualdade, apenas um terço da população brasileira cumpre os requisitos de uma classe média saudável, produtiva e consumidora. O restante da população é composto por externalidades que se refletem em pobreza e necessidade de filantropia do Estado, como escolas públicas, saúde pública e bolsas de mitigação da miséria. Para o “mercado” é bom que as pessoas paguem suas despesas escolares e de saúde.
Ou seja, no Brasil de hoje mais da metade da população é apenas uma “externalidade”. O desemprego é outro exemplo de que o mercado não dá conta de oferecer qualidade de vida para toda a população. O Brasil vive um “desemprego estrutural”, provocado principalmente pelo fato de que a grande maioria dos desempregados são, na verdade, não empregáveis, por conta de má formação e/ou capacitação para o trabalho do século 21.
Para lidar com as mazelas dessa exclusão existe o ativismo social, ambiental e de direitos, que busca oferecer algum suporte para essa população que não consegue se enquadrar na economia liberal. Esse ativismo oferece comida, cria programas de apoio à produção de alimentos mais baratos e de preferência orgânicos, atua em comunidades para garantir o respeito a direitos universais que só existem nos bairros ricos, busca equilibrar o jogo para que mais gente entre os excluídos possa emergir com seus talentos em cultura, ciência e conhecimentos que ainda dependem e muito das pessoas.
O ativismo vai além da simples vontade individual, é um movimento transversal às empresas, que em sua grande maioria mantém programas de voluntariado e de financiamento a projetos de organizações não governamentais (ONGs). No campo do trabalho grande parte as empresas valorizam jovens que tem trabalhos voluntários em seus currículos. Ou seja, é uma importante porta de acesso ao mundo do trabalho.
Ativismo e militância formam parte do processo evolutivos das sociedades modernas. Negar sua importância é rastejar em direção a um passado sem direitos. (#Envolverde)
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