segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Vazamento de petróleo cru no Brasil segue sem solução

Vazamento de petróleo cru no Brasil segue sem solução



05 Dezembro 2019    
Já são 889 localidades atingidas em 128 municípios de onze estrados em uma área de costa perto dos 3.000 km

Por Douglas Santos


O Brasil vive o maior desastre ambiental causado por vazamento de petróleo de sua história. As manchas de óleo começaram a ser registradas no litoral nordestino brasileiro em 30 de agosto. Desde então, até o dia 03 de dezembro, segundo dados oficiais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), 889 localidades, em 128 municípios de 11 estados, já foram atingidos em uma área de costa próxima de 3.000 quilômetros.

Mais de 90 dias após o início das ocorrências e, segundo a Marinha, “temos indícios apenas, não temos provas [sobre a origem]”, afirmou o Almirante de Esquadra Leonardo Puntel, durante audiência pública realizada dia 05 de dezembro no Senado Federal.

Até agora, apesar da substância ter sido identificada como petróleo cru, as autoridades brasileiras ainda não descobriram a origem, o responsável pelo despejo do material no mar e nem mesmo a quantidade de material que ainda pode atingir a costa ou o quanto já foi sedimentado no fundo do mar. Tampouco se sabe os efeitos na saúde das pessoas que vivem nas áreas afetadas e quais as consequências para o ecossistema marinho. E ainda assim o problema parece estar sem solução, e diariamente novas localidades são atingidas.

De acordo com o Coordenador do Laboratório de Estudos Marinhos e Ambientais (LabMAM) da PUC-Rio, Renato da Silva Carreira, quando o animal tem contato direto com o óleo essa interação é visível, altera o odor e o paladar do animal. “O grande risco é quando você não vê o óleo e o peixe não tem alteração no cheiro e no gosto e o peixe bioacumulou os HPAs (Hidrocarbonetos Policíclicos aromáticos, substância cancerígena e com características mutagênicas)”.

O LabMAM coletou 70 amostras de pescados e apenas duas amostras apresentaram características não recomendáveis para o consumo. “Essas duas amostras estavam em currais que foram diretamente afetados, as demais não apontaram indicadores de contaminação”, afirmou Carreira.

Guilherme Franco Netto, especialista em saúde, ambiente e sustentabilidade da vice-presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, reforça a necessidade de acompanhamento de longo prazo nas comunidades afetadas. “Há de se organizar o sistema de atenção à saúde que contemple atendimento e acompanhamento população afetada e estudos de médio e longo prazo para entender de fato como está a saúde dessas pessoas”, afirma Netto.

O último dado sobre o volume total de petróleo cru retirado da costa indica mais de 4.500 toneladas. A nota foi publicada pela Marinha no dia 19 de novembro, quando 695 localidades haviam sido atingidas. Desde então o total de volume retirado não é incluído nas notas oficiais do Governo.

Esse desastre vem causando um rastro de destruição que tem comprometido de forma substancial a saúde física e a sustentabilidade financeira das comunidades locais. Além de grande impacto socioambiental, o derramamento de óleo já causa impactos econômicos, na produção de pescados e frutos do mar assim como na atividade turística.

Auxílio não cobre prejuízos
No dia 29 de novembro o governo publicou uma Medida Provisória (MP) que instituiu o auxílio de emergência para os pescadores das áreas atingidas. A ajuda é de R$ 1.996,00 e pago em duas parcelas. Segundo a MP, o pagamento será realizado apenas para os profissionais cadastrados Registro Geral da Atividade Pesqueira (GRP).

Porém, o auxílio é questionado pela Pastoral dos Pescadores. “Esse cadastro é motivo de chacota pelo setor e não tem confiabilidade. Este sistema é frágil com diversas denúncias de fraude e não concordamos com o uso dele como referência. Também não concordamos com o valor da indenização, o problema acontece há mais de três meses e não cobre os prejuízos causados aos pescadores. Outro ponto é que em outubro haviam 159 mil pescadores cadastrados no sistema, mas a MP atende apenas 65 mil sem dizer quais foram os critérios de corte. Tanto em Mariana, Brumadinho e agora aqui no Nordeste a categoria tem sido prejudicada ao colocar apenas o RGP como referência. Isto tem deixado milhares de famílias sem acesso ao auxílio”, comenta Ormezita Barbosa, da Pastoral dos Pescadores.

Clique para ler o que se sabe até agora sobre vazamento de óleo na costa brasileira.

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