O Estado de S. Paulo – ‘O agronegócio se preocupa, sim, com questão ambiental’ / Entrevista / Teresa Vendramini
Pecuarista assume o comando de entidade centenária para construir ponte para discutir questões ambientais.
Mônica Scaramuzzo
Primeira mulher a assumir a presidência da centenária entidade Sociedade Rural Brasileira (SRB), Teresa Vendramini, a Teka, quer promover um amplo diálogo com os produtores agrícolas sobre as questões ambientais, tema considerado sensível para o agronegócio.
Pecuarista e socióloga, Teka teve o apoio de três diretores da SRB para presidir a entidade a partir deste ano até 2022. “Chego aqui carregando 100 anos de história nas costas”, diz. Teka também promoveu a renovação na entidade, que completa 101 anos em 2020, trazendo três jovens líderes com menos de 30 anos. A seguir, os principais trechos da entrevista.
• Qual o peso de ser a primeira mulher a assumir a Sociedade Rural Brasileira, um setor predominantemente masculino? Chego carregando 100 anos de história nas costas. A Rural tem um passado tão glorioso, com um celeiro de líderes nesses últimos anos, que é uma honra estar com eles aprendendo e também ajudando a construir novos caminhos. Tenho de honrar o que foi feito até agora e trazer os agricultores para novas discussões.
• Quais serão os grandes temas para debate no seu mandato? Um dos meus temas é trazer o produtor rural para discutir a questão ambiental. Nós passamos por um turbilhão no ano passado (por causa dos incêndios na Amazônia). Quero criar um comitê da Amazônia aqui na Rural para debater essas questões.
• Como será esse comitê? Tenho conversado com um produtor rural do Pará, associado à SRB, que conhece todos os problemas da Amazônia e que está disposto a fazer a ponte com agricultores locais da região. Isso é uma coisa nova dessa diretoria. Eu vou para Marabá, entre março e abril, para efetivar esse comitê e conhecer os outros produtores que estão lá. Minha preocupação é ter também um produtor que olhe para os dois lados.
• Quais lados?
Às vezes, acho que o agricultor fica só do lado da produção, mas hoje em dia a coisa está tão mais aberta. Temos de debater, é um tema sensível. Quem estiver comigo, teria de ter mais maleabilidade.
• Como está a interlocução da SRB com o governo?
A Rural pega todas as demandas e indagações dos agricultores e leva para governo, Congresso e Judiciário. Faz essa ponte. Então é óbvio que essa diretoria e essa nova presidente em construção vão continuar sendo essa ponte.
• A sociedade civil colocou o agricultor como um vilão nesta história. Como provar que o agricultor não é vilão?
Acho que qualquer historinha tem os bandidos e os vilões. Então, isso está em construção também. Quem sabe trazendo história real. Não dá para dizer que o agricultor é péssimo, que degrada. Não é isso. A maior parte preserva, cuida. Tenho feito viagens e vejo como eles se ressentem do que falam dele do outro lado do País. Eu quero trazer essas histórias para que se conheçam as práticas ambientais deles.
• Como vai ser essa conversa da SRB com os ministérios da Agricultura e Meio Ambiente. No ano passado, esses dois ministérios não estavam tão alinhados. Espero conseguir levar umas pautas adiante. Sou uma pessoa de ouvir muito, pondero. A maturidade me deu isso. Quero ser a ponte bem grande para construir esses diálogos.
• Construir essa ponte em Brasília ou no exterior, que tem essa • Pecuarista do interior de São Paulo e socióloga, Teresa Vendramini, a Teka, foi eleita este ano para mandato de três anos. Era associada à SRB e tornou-se diretora de pecuária da entidade em 2017 imagem do País que só desmata? O nosso maior desafio é reverter essa imagem fora. Não tenho dúvida. A gente (vai conseguir) se organizando com comitê da Amazônia, com pessoas sérias que querem contar suas verdadeiras histórias. Podemos debater e mostrar que o agronegócio está preocupado, sim, com questões ambientais.
• Qual foi a motivação para trazer para diretoria pessoas da nova geração?
Foi uma preocupação muito grande minha no ano passado, quando estava na diretoria. Comecei a pensar em quais são os ativos da Rural. Tem uma moçada aqui dentro jovem que é o grande ativo e só está esperando uma oportunidade para trabalhar. Estou tentando identificar outros. Preciso de gente para trabalhar comigo e ajudar a carregar este piano.
• Qual o desafio da SRB sobre a vigilância sanitária?
Quando ainda era diretora de pecuária, fui acompanhar o plano nacional de erradicação da vacinação da febre aftosa. Acompanhei muito esse assunto no Brasil. Aprendi muito com Pedro de Camargo Neto (vice-presidente da SRB) a importância da vigilância sanitária para o País. Faz dois anos que o Ministério da Agricultura fez uma avaliação dos Estados. São Paulo é o segundo pior Estado em vigilância sanitária do Brasil, e é o Estado mais rico. O que aconteceu? Fiquei preocupada, com medo de surtos. A SRB tem de debater com o governo.
• E a educação no campo não ajudaria?
Uma produtora da região de Bauru (SP) um dia me ligou para falar sobre o avanço da indústria da árvore no Estado, que arrendou fazendas grandes e médias, e deixou os pequenos fora do jogo. Fui lá dar palestra.
• Então, a SRB vai passar a olhar não somente as questões dos latifundiários para representar os pequenos produtores?
Olha só a oportunidade que estou tendo! Não representar só os grandes. Eu quero ser esse meio. O Brasil é esse chão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário