Em série de vídeos, a atriz e produtora Alice Braga conta como o agronegócio está destruindo o planeta… e o que podemos fazer para impedir que isso aconteça
https://youtu.be/AELP19ocg38?list=PLgypAGt9KjpAPT1jneZKS9aw4LagwBjn6
https://youtu.be/VmuhQ3Wiqlk
https://youtu.be/gzDw0uVJa3M
“Os vídeos a seguir foram feitos antes da crise da covid-19, mas hoje eles parecem mais relevantes do que nunca. Se há uma lição que estamos aprendendo, é que uma mudança está a caminho. Voltar ao que chamávamos de ‘normal‘, não é aceitável. Na verdade, a ‘normalidade’ era o que estava errado. Depende de nós lutar pelo futuro que precisamos, pelo futuro que queremos. Vamos seguir juntos e cuidar uns dos outros”.
É assim que a atriz e produtora Alice Braga apresenta a série de três vídeos (que você pode assistir no final deste post) intitulada Você sabe de onde vem sua comida?, que gravou a convite do Greenpeace – em português e inglês – para contar como o alimento chega ao nosso prato, sob a lógica cruel do sistema de produção de alimentos, liderado pelo agronegócio, responsável por 80% de todo desmatamento no planeta.
E, aqui, não falamos apenas da destruição das florestas, mas também de prados, de zonas úmidas e de outros ecossistemas essenciais para evitar o desequilíbrio do planeta: secas, enchentes, deslizes de terra… “Esses ecossistemas estão sendo rapidamente transformados em enormes zonas de monocultura e pastagens”, destaca Alice.
Mas justamente por não pactuar com a volta à normalidade, que a série não se limita a apresentar este cenário caótico. Seu objetivo é o engajamento para que, antes mesmo de a pandemia de covid-19 terminar, trilhemos um caminho diferente, tomemos atitudes que ajudem a frear a lógica atual de produção dos alimentos – que envolve as grandes empresas alimentícias – e seu impacto, que contribui para as mudanças climáticas.
“Quando os ecossistemas viram pastos ou plantações, param de absorver dióxido de carbono e a emitir mais carbono”.
Vida de commodities
Você imagina que existem 1/2 bilhão de cabeças de gado no planeta? Esse número equivale à soma das populações da Rússia e dos Estados Unidos!! E a quantidade de galinhas? São 23 bilhões! Ou seja, “três galinhas por pessoa na terra” ou três vezes a população de humanos! Então, é preciso mais terras para produzir grãos e alimentar esses animais. E estamos falando apenas de gado e galinhas. Hoje, utiliza-se mais terra para “cultivar comida para os animais do que para as pessoas. E a gente não escolheu isso!”.
E o cenário é ainda mais tenebroso no Brasil: o atual sistema de produção de alimentos está amparado por leis governamentais e não só avança sobre os ecossistemas como também impacta os pequenos produtores rurais. A agricultura industrial utiliza agrotóxicos, muitas vezes em áreas invadidas (terras públicas griladas) e, assim, pode oferecer “comida mais barata” do que a cultivada pelos pequenos.
Nesse cenário, sem subsídios e produzindo alimento no tempo da natureza – sem acelerar nem alterar processos – os produtores familiares ainda levam a fama de produzir comida cara: por isso que ainda se ouve muito, por aí: “a comida orgânica é cara”.
Dá pra mudar um sistema quebrado?
Se beneficiando deste sistema criminoso estão megaempresas como Unilever, Bunge, Cargil e JBS. A maioria com histórico de impactos sociais e ambientais. Apesar de não encontrar evidencias de envolvimento em violações dos direitos humanos, na semana passada, a Anistia Internacional denunciou a JBS, maior produtora de carne bovina do mundo, por incluir, em sua cadeia de fornecimento, gado criado ilegalmente em áreas protegidas na Amazônia.
Há dez anos, algumas das maiores empresas do mundo prometeram parar de contribuir com o desmatamento até 2020. Foi no Fórum de Bens de Consumo (The Consumer Goods Forum – CGF), durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Cancún. Isso aconteceu sob forte pressão da sociedade civil e da comunidade científica, que já alertava para a acelerada crise do clima e a necessidade de preservar as florestas.
“As companhias prometeram redobrar cuidados com fornecedores das commodities mais ligadas à destruição florestal: soja, gado, óleo de palma e papel e celulose”, conta o Greenpeace em seu site. Mas o prazo acabou e as florestas continuam sendo destruídas a um ritmo alarmante.
O Greenpeace pediu a 50 grandes empresas para que divulgassem a origem dos produtos utilizados em sua rede, mas apenas cinco atenderam à solicitação. Todas disseram que suas redes de abastecimentos são “muito complicadas”. Sim, em geral, suas redes de fornecedores são muito extensas, o que, muitas vezes, impede que se chegue ao produtor de origem.
Alice, então, insiste na necessidade de responsabilizá-las pelo que produzem e comercializam, afinal, vêm daí os impactos no meio ambiente e nas comunidades locais. Disputas de terra, conflitos, mortes, ameaças e contaminação destroem as comunidades tradicionais: indígenas, quilombolas e rurais. Em geral, por trás desse rastro de destruição está uma grande e poderosa empresa.
Grande marcas se comprometeram com a conservação ambiental, mas, como destaca Alice: “se estivessem mesmo comprometidas em parar o desmatamento, estariam rastreando suas compras do começo ao fim, protegendo as terras indígenas e financiando a restauração florestal”. Mas o dinheiro é que determina a proteção ou não da vida e do planeta. E, enquanto ele estiver garantido – no entender do antiministro do meio ambiente, Ricardo Salles, enquanto a boiada puder passar – nada será feito. Cabe, então, a nós, consumidores, pressionar essas empresas e boicotá-las. E pressionar o Governo também.
O que fazer para construir outro futuro
No último vídeo, o terceiro da série, Alice convida todos a participarem e indica que ações pontuais podem contribuir para “começar a desmontar esse sistema”. Nossas escolhas estão em prSempre ouvimos dizer que é “assim que as coisas são” e que esse é o sistema que funciona. Que é assim que a comida chega no nosso prato e que isso é “normal”. Que é “assim que as coisas são”. Que este sistema é que funciona. Mas, não!Este é um sistema doente, um sistema de produção que está fora de controle, que alimenta o desmatamento e a crise climática. Mas o mais importante: ele não é inevitável porque foi planejado. Isto significa que, agora, depois da prova de sua falência comprovada – ele está nos matando! -, podemos projetar algo melhor, mais justo, mais humano.
Por isso, no último vídeo, o terceiro da série, Alice convida todos a participarem e indica que ações pontuais podem contribuir para “começar a desmontar esse sistema”. Nossas escolhas estão em primeiro lugar, claro. Nesse contexto, parar de comer carne ou, pelo menos, reduzir o consumo, é importante. O Greenpeace lidera a campanha #SegundaSemCarne lançada em outubro de 2009.
“Ficar um dia da semana sem consumir produtos de origem animal parece pouco, mas isso já provoca muitas consequências positivas”, indica a ONG em seu site. “Como apontou Monica Buava, gerente de campanhas da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), “a gente nem se dá conta, mas sim, a
Segunda Sem Carne está mudando a realidade do consumo de carne e derivados no país”. Mais de 327 milhões de refeições vegetarianas e veganas foram oferecidas até hoje, graças à essa campanha, realizada com diversos parceiros. Acompanhe o perfil e a hashtag no Instagram.
Mas o que Alice indica no vídeo vai muito além das mudanças empreendidas por quem consome: para um resultado efetivo, essas mudanças devem ser feitas também por quem está no topo. É aí que entra nosso poder como cidadãos! E ela indica cinco ações de impacto:
- Apoiar e defender os direitos dos povos indígenas e a luta pela terra em todo o mundo, afinal, essas comunidades estão sempre na “linha de frente” contra a “economia do apocalipse”. Basta lembrar que os indígenas estão aqui há mais de 500 anos e, desde a invasão dos portugueses, não fazem outra coisa do que lutar por suas vidas contra o famigerado desenvolvimento econômico;
- Exigir – por meio de boicote e de cobranças nas redes sociais – que as empresas parem de comprar de quem destrói os ecossistemas. Já passou da hora de as empresas se responsabilizarem por suas redes de fornecedores. Ser sustentável e justo é exigir que todos que fazem parte da cadeia produtiva e de consumo façam sua parte;
- Mas não é só se comprometer daqui em diante! As empresas precisam mitigar os efeitos dos danos provocados ao meio ambiente e se comprometer em restaurar o que foi destruído. Todos nós devemos cobrar e acompanhar, fiscalizar;
- Mais: não basta se comprometer e mitigar, as empresas devem alterar seu modelo de negócio e reduzir a comercialização de produtos que provocam esses impactos, como a carne e os laticínios. Quanto menos espaço a agricultura industrial ocupar, mais espaço para a natureza e alimentos orgânicos (sem veneno e que respeitam o tempo) e para nós, humanos, não para alimentar animais destinados à comida ou para abastecer tanques de carros, aviões, caminhões… e
- Por fim, a ação mais importante – e talvez a mais difícil: é preciso que todas as instâncias da sociedade – governos, empresas, cidadãos – aceitem que o crescimento econômico infinito e a proteção ambiental não combinam. Onde um está, o outro não tem lugar. Para nossa sobrevivência, é imprescindível reduzir o consumo e adotar e promover formas sustentáveis de produção: agroecologia, energia solar etc etc.
“Exigimos que os governos parem de colocar o lucro de alguns acima da vida de todos nós, e que as empresas forneçam comida saudável, de boa qualidade e acessível. Para todos”, defende o Greenpeace.
Há inúmeras outras formas de contribuir para que essa mudança aconteça, como apoiar campanhas e petições de ONGs socioambientais. O Greenpeace mantém diversas campanhas pelas florestas, pelos oceanos, pela alimentação saudável… uma delas é a petição Todos pela Amazônia, que destaca na divulgação da nova série. Ah, pode ser este o primeiro passo para você começar a mudar esta história.
Agora, assista aos vídeos da campanha do Greenpeace, com Alice Braga:
Fotos: Reprodução
Jornalista
com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo,
saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos
na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino
Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o
premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela
United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede
de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da
conferência TEDxSãoPaulo.
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