“Brasil sofre bullying internacional. Somos o país mais preservado do mundo e quem vai julgar é o turista”, afirma ministro do Turismo
O novo ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, foi entrevistado ontem pelo programa Poder em Foco, no SBT. Amigo pessoal do presidente Jair Bolsonaro, ele assumiu a pasta no mês passado e antes disso, era presidente da Embratur.
Durante a entrevista (veja pequeno trecho ao final desse texto), Machado foi questionado sobre a imagem ruim do Brasil no exterior, sobretudo, em relação ao meio ambiente, e as queimadas e o desmatamento na Amazônia. Para o ministro, o que acontece é que nosso país sofre “bullying internacional”.
“O Brasil sempre sofreu bullying do exterior porque ninguém consegue concorrer com o nosso país quando o assunto é turismo de natureza. Nós somos hoje o país mais preservado do mundo, temos 60% de florestas intocadas”, disse o ministro.
Ainda segundo Machado, o Brasil tem um importante aliado que são os sites de avaliação turísticas da internet, que ele chamou de “motores de reserva”, como Expedia e TripAdvisor.
“Quem vai julgar se o meio ambiente está preservado é o próprio turista. Porque se ele comprar um pacote em uma pousada em São Miguel dos Milagres, por exemplo, e ele chegou num recife de coral e mergulhar e não ver o ouriço, o peixe, ele bota lá ‘não volte’ porque não tem meio ambiente preservado. Então o próprio ‘trem’ de hoje fica de olho na preservação ambiental”, afirmou.
Será por esta razão que o governo atual está promovendo um extensivo desmonte de seus órgãos ambientais desde que assumiu o poder? Está contando com o olhar apurado dos turistas?
Turistas podem sim ajudar na preservação da biodiversidade, mas infelizmente, isso não basta. Eles não têm capacidade nem conhecimento técnico para tal. E os responsáveis pela fiscalização do meio ambiente no Brasil e pelas iniciativas de conservação deveriam ser os funcionários de entidades como o Ibama ou o ICMBio, os mesmos que têm relatado o enfrentamento à censura, perseguição e exonerações como táticas do governo para enfraquecer e destruir os órgãos de proteção ambiental.
O ministro Gilson Machado é mais um membro do governo a propagar o discurso de que o Brasil é o país que mais preserva a natureza no mundo. Antes fosse. E nós brasileiros gostaríamos muito que isso fosse verdade.
Pra começar, a Rússia é a nação que mais preservou suas áreas naturais originais. De acordo com um artigo publicado na renomada revista Nature, em 2018, cinco países concentram a maior proporção dessas áreas protegidas e o Brasil aparece em 5o lugar, atrás ainda de Canadá, Austrália e Estados Unidos.
Ranking mostra países que conseguiram manter sua vegetação original
E quando comparado a outros rankings globais sobre o turismo, o Brasil também não aparece na liderança. Não está, por exemplo, entre os 25 países mais visitados do mundo. Um relatório da Organização Mundial do Turismo (OMT) indica que França, Estados Unidos, Espanha, China e Itália ficam no topo.
Já quando se leva em conta aquelas nações com vocação para o ecoturismo, o Brasil concorre com destinos como Costa Rica, México, Nepal, Nova Zelândia e Austrália, onde a infraestrutura é melhor, há uma malha viária com mais voos e grande parte das pessoas que trabalham com turismo falam mais de uma língua, o que ainda não acontece em nosso país.
Países com mais áreas protegidas no mundo
1. Venezuela (53.9%)
2. Eslovênia (53.6%)
3. Mônaco (53.4%)
4. Butão (47.3%)
5. Turks and Caicos Islands (44.4%)
6. Liechtenstein (44.3%)
7. Brunei Darussalam (44.1%)
8. Seychelles (42.1%)
9. Hong Kong (41.8%)
10. Groelândia (41.2%)
*Porcentagens são em relação à área total do país
Fonte: Banco Mundial
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Foto: divulgação Ministério do Turismo
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.
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