Uma das mais importantes revistas científicas do mundo, Science destaca ameaça de decreto do governo a espécies aquáticas brasileiras
Novamente o Brasil ganha a atenção mundial de forma negativa. Uma das mais renomadas e respeitadas publicações científicas internacionais, a Science destacou o novo decreto do Governo Federal que ameaça a diversidade de espécies aquáticas brasileiras.
Na edição divulgada hoje, a revista incluiu em sua sessão de cartas o alerta enviado por diversos pesquisadores brasileiros sobre o risco da produção da tilápia no país.
“Mais uma vez, o governo brasileiro está ameaçando a biodiversidade nativa ao facilitar o cultivo de espécies exóticas invasoras. A Secretaria da Pesca anunciou recentemente um decreto para impulsionar a aquicultura, implementando a criação da tilápia do Nilo em 60 dos 73 reservatórios do Brasil”, denunciam os cientistas.
A tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) é uma espécie exótica invasora, originária da África, e que foi introduzida no Brasil por volta da década de 30.
“Os políticos estão contando com a ideia equivocada de que se a tilápia do Nilo escapar, peixes selvagens iriam atacá-la e elas não se reproduziriam nas profundezas dos reservatórios. No entanto, há muitas evidências mostrando que uma vez que a tilápia do Nilo escapa, sobrevive, reproduz, estabelece populações e provoca danos ambientais”, alertam os pesquisadores brasileiros.
Carta publicada na Science
Cultivo de espécies exóticas no Brasil
Falamos sobre este assunto em dezembro aqui no Conexão Planeta. O decreto exclui ainda o Ibama dos processos para a permissão de criação de peixes em “corpos d’água da União”.
O anúncio causou preocupação e alarde entre especialistas do setor. “O decreto é um absurdo e criminoso do ponto de vista ambiental e da biosegurança e biodiversidade aquática”, afirma o biólogo Jean Vitule, professor de Ecologia do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e um dos autores da carta publicada agora pela Science.
O biólogo destaca que existem centenas de trabalhos científicos que relatam os impactos de tilápias em ecossistemas naturais, não só para os organismos aquáticos, mas a eutrofização de águas (aumento de nutrientes, especialmente fósforo e nitrogênio, o que provoca surgimento excessivo de organismos como algas e cianobactérias) e até, transmissões de doenças como cólera, para humanos. “No Nordeste onde as tilápias existem há anos já existem claras evidências de impactos”, alerta.
“É o Ibama que avalia e faz os termos de referências sobre análises de impactos e viabilidade para o meio ambiente, além de avaliações técnicas sobre impactos em organismos nativos e ecossistemas e fiscalizar se a lei está sendo cumprida ou não”, diz.
Vitule ressalta ainda que o cultivo de organismos não nativos vai contra tratados internacionais de biodiversidade, dos quais o Brasil é signatário.
Já existe uma petição online que pede a revogação do decreto. Assine já aqui!
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Foto: domínio público/pixabay
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.
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