Joujou, onça-pintada resgatada em um dos incêndios no Pantanal, volta à natureza
No começo de novembro, uma equipe do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), que ajudava no combate ao fogo na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Acurizal, na Serra do Amolar, ao norte do Mato Grosso do Sul, encontrou duas onças-pintadas bastante debilitadas e com queimaduras nas patas.
A primeira delas estava escondida dentro de uma casa abandonada e logo depois, uma segunda foi avistada também no mesmo local.
Após mobilizar uma equipe de especialistas para ter certeza que era preciso fazer o resgate dos animais, uma força tarefa com mais de 20 pessoas, entre técnicos, veterinários, moradores da Serra do Amolar e colaboradores, conseguiu capturar as onças-pintadas (leia mais aqui).
Os dois machos, que tinham aproximadamente a mesma idade, cerca de dois anos, foram encaminhados para serem tratados no Centro de Recuperação de Animais Silvestres (CRAS) de Campo Grande. Infelizmente, um deles acabou morrendo horas depois de chegar ao local.
A onça que sobreviveu, Joujou – nome com o qual foi batizada -, recebeu todos os cuidados necessários. “Ela estava anêmica, com queimaduras de segundo e terceiro graus nas quatro patas, e os exames revelaram ainda pneumonia difusa aguda por conta da aspiração da fumaça e a presença de um projétil alojado na região da costela”, revelou Lucas Cazati, veterinário do Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul.
As queimaduras nas patas foram tratadas com aplicação de ozônio e a cicatrização foi completa. “Já está de alta faz algum tempinho. Só aguardava o momento certo para retornar ao habitat”, contou.
A onça anestesiada para a colocação do colar
O veterinário diz que o felino consumia cerca de 7 quilos de carne por dia, demonstrando preferência por peixes. Com 87 kg, praticamente dobrou de peso desde que chegou ao CRAS.
E hoje, dois meses e meio após seu resgate, finalmente Joujou foi levada novamente para o Pantanal, na mesma região onde foi encontrada, para voltar a seu habitat.
Depois de passar por uma bateria de exames ontem e receber um colar de monitoramento, a onça embarcou na manhã desta quinta, em uma caixa dentro de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB).
Joujou entrando na mata
Monitoramento da onça após a soltura
Através do colar com sinal GPS e VHF colocado em Joujou, a equipe do Projeto Felinos Pantaneiro do IHP e pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisas e Conservação de Mamíferos Carnívoros conseguirão acompanhar a readaptação da onça-pintada no Pantanal.
Lucas Cazati explica que o colar contém uma bateria e um chip que a cada hora emite um sinal, capturado pelo satélite e retransmitido ao software de monitoramento. “O sinal nos permite saber qual o percurso transcorrido pelo animal durante o dia, se tem se alimentado, quantas horas tem descansado”.
Após onze meses de monitoramento, os pesquisadores conseguem acionar, remotamente, a abertura do colar, que será coletado posteriormente, como explica o veterinário Diego Viana, no vídeo abaixo.
Ousado e Amanaci
Os incêndios no segundo semestre de 2020 na região Centro-Oeste do Brasil queimaram 3,461 milhões de hectares no Pantanal. Quase 30% do bioma foi destruído. Milhares de animais morreram ou foram feridos pelo fogo. Alguns deles se tornaram símbolo da tragédia, como Ousado e Amanaci.
O macho de onça-pintada foi resgatado em setembro, no Parque Estadual Encontro das Águas, próximo a Porto Jofre, no Mato Grosso, com queimaduras de segundo grau nas patas. Ele foi levado para o Instituto Nex No Extinction, em Corumbá do Goiás.
Depois de mais de 20 dias de tratamento, que incluiu sessões de laser e ozônioterapia, Ousado recebeu alta veterinária em outubro, e logo em seguida, levado de volta à área onde foi achado (veja reportagem completa aqui).
Ousado, no momento de sua soltura no Pantanal
Já Amanaci, infelizmente, não teve a mesma sorte. Ela não voltará à natureza. Depois de 70 dias de tratamento, a fêmea caminha sem as botas de proteção porque as feridas cicatrizaram completamente. Entretanto, as lesões nos tendões não permitem mais que ela use suas garras para caçar.
A onça-pintada ficará no Instituto Nex, onde também foi tratada, vivendo num ambiente projetado especialmente para ela. Nesses primeiros meses ela ficará sozinha, mas no futuro, poderá dividir o espaço com um macho.
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Fotos: divulgaçãoImasul/IHP e Cesar Leite/divulgação Ampara Silvestre (Ousado)
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.