sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Traficante russo é preso em São Paulo ao tentar embarcar com mais de 100 animais silvestres vivos

 

Traficante russo é preso em São Paulo ao tentar embarcar com mais de 100 animais silvestres vivos

Kyrill Kravchenko, de 35 anos, é formado em biologiae foi chamado de biólogo pela maioria dos veículos de imprensa que deu esta notícia -, mas, na verdade, usa seus conhecimentos apenas para dar respaldo à sua verdadeira profissão: traficante de animais silvestres.

Segundo o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), ele é “um conhecido traficante russo” e “vinha sendo monitorado pelo órgão ambiental e pela Receita Federal, desde 2017, quando já traficava animais para vendê-los na Rússia”.

Na época, foi preso em Amsterdam, na Holanda, transportando animais da fauna brasileira.

Na madrugada de 20 de janeiro, no Aeroporto Internacional de Cumbica, em São Paulo, Kravchenko foi flagrado pela Polícia Federal, quando passava pelo raio-X com destino a San Petersburgo, na Rússia, onde comercializaria a “mercadoria” apreendida.

Em bagagens de mão e despachadas, levava mais de 100 animais silvestres vivos50 lagartos de três espécies diferentes, 50 aranhas, 25 sapos de cinco espécies diferentes, peixes, entre outros bichos -, acondicionados em garrafas de água mineral, sacos e potes de plástico.

As primeiras investigações dão conta de que o traficante estaria no Brasil desde dezembro do ano passado e recolheu os animais em São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Todos foram encaminhados ao Instituto Butantan para serem devidamente quantificados e identificados pelos pesquisadores e Kravchenko encaminhado à Polícia Federal, indiciado por crime ambiental e transporte ilegal de animais silvestres.

De acordo com a reportagem de O Globo, a Polícia Federal não declarou se o criminoso responderá em liberdade ou se continuará preso. Existe a possibilidade de deixar livre um criminoso como esse?

Brasil, um dos maiores mercados para o tráfico de animais silvestres

Como um traficante conhecido, que vinha sendo monitorado pelo Ibama e pela Receita Federal há cerca de quatro anos, consegue entrar no país tão facilmente? E por que estava livre se já havia sido preso por traficar animais da fauna brasileira no exterior?

A resposta está na impunidade e nos números. De acordo com a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), mesmo com a Lei de Proteção à Fauna 5.197 – que considera ilegal a caça e o comércio predatório de animais silvestres – essa é a terceira atividade ilegal mais lucrativa do mundo: perde apenas para o tráfico de drogas e de armas.

Centro de reintrodução da ararinha-azul na Bahia será construído e administrado por alemão suspeito de tráfico
Foto: reprodução Facebook Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP)

No Brasil, movimenta entre US$ 10 e US$ 20 bilhões por ano, o que configura o país em um dos maiores mercados para o tráfico de animais do mundo: por ano, cerca de 38 milhões de animais são retirados da natureza. De cada dez, nove morrem antes de chegar ao destino, e 70% é comercializado no território brasileiro.

São muitas as causas para o crescimento desse tipo de tráfico: o desejo de ter animais silvestres como pets (isso é fruto de desinformação, de falta de educação ambiental) ou de comê-los, colecionadores particulares (sim, é inacreditável, mas tem gente que coleciona bichos por prazer!), pesquisas científicas sem autorização e matéria-prima de medicinas tradicionais.

Com um detalhe: o comércio “rola solto” na internet. O tráfico online tem crescido assustadoramente nos últimos cinco anos, principalmente devido às redes sociais, que são utilizadas como vitrines desses animais.

No Brasil, as espécies mais interessantes para esse tipo de comércio são aves (araras, papagaios e periquitos e outras espécies pequenas), rãs (principalmente as venenosas e coloridas), répteis (entre os preferidos de Kravchenko, pelo visto), pequenos primatas e borboletas.

E, segundo o Ibama, a impunidade incentiva os traficantes, que chegam, por exemplo, a falsificar anilhas de controle para vender os animais como se a transação fosse legal.

Se não fizermos as coisas de maneira diferente, será o nosso fim”

Foto: hawn Sweeney/Jane Goodall Institute

O Conexão Planeta tem publicado, com frequência, reportagens a respeito do tráfico de animais no Brasil e no mundo (acesse-as neste link), também por conta da pandemia.

Uma das mais recentes contou a história de um jovem picado por uma naja, em Brasília, que foi preso e multado por suspeita de tráfico de animais. Suspeita confirmada: ele agia com a mãe e o padrasto.

Mas muito antes disso, vieram as reportagens investigativas realizadas por minha sócia, a jornalista Suzana Camargo, a respeito de um criador alemão de ararinhas-azuis, suspeito de tráfico. Foi ele que trouxe essa espécie de volta para reintrodução na Bahia, no ano passado, lembra? Para entender o caso, leia:

Investigação internacional questiona idoneidade de criador alemão que enviará ararinhas-azuis ao Brasil
Nova denúncia reforça suspeitas sobre criador alemão de ararinhas-azuis
Ararinhas azuis: o retorno tão esperado é envolto em denuncias e falta de transparência
Ararinhas-azuis chegam ao Brasil para início do processo de reintrodução na natureza
Ararinhas-azuis começam adaptação ao clima e à vegetação da Caatinga na Bahia

Para finalizar este texto, destaco também o post publicado em junho de 2020, que traz o alerta da primatóloga e antropóloga britânica, Jane Goodall: “A pandemia é o resultado de nosso absoluto desrespeito ao meio ambiente e aos animais. Se não fizermos as coisas de maneira diferente, será o nosso fim”.

Leia também:
“A Covid-19 e a crise climática são terríveis manifestações da falta de compreensão e respeito pelo mundo natural”, diz Jane Goodall
“Precisamos ter mais compaixão e respeito pelos animais e por seus habitats para criar um futuro melhor”, alerta Jane Goodall

Fontes: G1, Folha de SP, Renctas

Foto (destaque); Divulgação/Polícia Federal

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