O Brasil no coração da conservação mundial da natureza
O Congresso da IUCN anunciou a agenda de conservação da
natureza para a próxima década, invocando os governos a empreender uma
recuperação baseada na natureza no pós-pandemia
17 de setembro de 2021
Congresso da IUCN em Marselha, na França. Foto: ©
IUCN/Ecodeo/Kiara Worth
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Após ser adiado por causa da pandemia, o Congresso Mundial
da Natureza, importante evento promovido a cada quatro anos pela União
Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), foi realizado em Marselha,
na França, entre os dias 3 e 10 de setembro. Como de costume, o evento indicou
tendências e prioridades para os próximos anos para a conservação da
biodiversidade no planeta e colocou o Brasil no centro dos debates.
Em discurso na abertura do evento, o presidente francês
Emmanuel Macron demonstrou como os olhos da comunidade internacional estão
voltados ao Brasil e, de um modo especial, para a Amazônia. O líder do país
anfitrião enfatizou a necessidade urgente de interromper a acentuada destruição
da floresta amazônica, entre outras prioridades.
Em outro recado ao Brasil, Macron ressaltou a determinação
da França em eliminar o desmatamento importado, aquele gerado pela aquisição de
produtos que causam desmatamento ou degradação ambiental no país de origem. O
presidente francês afirmou ainda que a França é contra o acordo comercial entre
o Mercosul e a União Europeia, que entre outros pontos pretende facilitar as
exportações entre os dois continentes.
Fato negativo digno de nota foi a ausência de representantes
do Ministério do Meio Ambiente do Brasil. Na verdade, a única autoridade
brasileira presente foi o embaixador do Brasil na França, Luís Fernando Serra.
Entre os participantes ilustres, destaques para o ator norte-americano Harrison
Ford e o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado.
Apesar dos fatores preocupantes que envolvem a política
ambiental brasileira, o Congresso também trouxe esperança para todos que estão
comprometidos com a conservação da natureza em nosso país. Durante a Assembleia
Geral que elegeu a nova presidente e os membros da diretoria da UICN para os
próximos quatro anos, o Comitê Brasileiro (CBR), formado por diversas
organizações com destacada atuação pela causa ambiental, entregou aos
candidatos ao pleito uma carta intitulada “O Brasil Importa!” (Brazil
Matters!), visando evidenciar as pautas brasileiras de conservação,
especialmente em relação às ameaças à biodiversidade e relativas à situação
crítica dos rios e outros corpos hídricos brasileiros.
Logo após a eleição, em reunião com a nova presidente, Razan
Al Mubarak, dos Emirados Árabes, os representantes do Brasil reforçaram o papel
fundamental que os biomas brasileiros desempenham como mantenedores da
biodiversidade e do clima no mundo, detalhando as ameaças enfrentadas e os
riscos às políticas ambientais e estruturas de gestão.
A nova presidente recebeu muito bem as propostas,
especialmente em relação a uma grande campanha de comunicação para divulgar os
biomas brasileiros: “O Brasil está no coração do mundo e eu vou trabalhar para
que ele esteja no coração da UICN”, comentou. Em 14 mandatos na história da
UICN, Razan é apenas a segunda mulher a assumir a presidência e, embora ainda
jovem, especialmente em comparação a seus antecessores, já atua há mais de 20
anos com conservação, liderando atualmente a Agência Ambiental de Abu Dhabi
(EAD).
Entre as diversas resoluções aprovadas no Congresso, talvez
a mais emblemática seja a criação de uma Comissão de Crise Climática. Ao final
do evento, o Congresso anunciou a agenda de conservação da natureza para a
próxima década, invocando os governos a empreender uma recuperação baseada na
natureza no pós-pandemia, investindo ao menos 10% dos fundos de recuperação
global na natureza. Dentre as resoluções deliberadas inclui-se um apelo para
proteção de 80% da Amazônia até 2025, a proibição da mineração em alto mar e
para que a comunidade global adote uma abordagem ambiciosa de “Uma Só
Saúde”.
Merece destaque também a divulgação de um relatório
reportando que 28% das espécies mundialmente catalogadas correm algum risco de
extinção. Por isso, a UICN faz um apelo para que os desmatamentos sejam
minimizados, bem como sejam reduzidos o uso de agroquímicos, a poluição, em
especial de plásticos nos oceanos, e a degradação dos solos e corpos hídricos
pela agropecuária, indústria e outras atividades humanas.
Outro fato muito positivo foi a participação inédita das
organizações de povos indígenas, com direito a se pronunciar oficialmente, o
que possibilitou um olhar especial para os direitos dos povos originários e seu
papel na conservação. Apesar de tantas dificuldades que vemos no Brasil, com
nossos biomas sob variadas pressões e ameaças, é importante notar que as
organizações da sociedade civil brasileira encontram eco em organismos
internacionais e apoiam-se também em lideranças de várias partes do mundo. Se
os inimigos da natureza são fortes, mais fortes seremos todos nós unidos por um
planeta sustentável.
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