sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Um dos cientistas mais influentes do mundo, brasileiro Tulio de Oliveira assina carta de pesquisadores que pedem mudança urgente no nome da varíola “dos macacos”

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Um dos cientistas mais influentes do mundo, brasileiro Tulio de Oliveira assina carta de pesquisadores que pedem mudança urgente no nome da varíola “dos macacos”

Um dos cientistas mais influentes do mundo, brasileiro Tulio de Oliveira assina carta de pesquisadores que pedem mudança urgente no nome da varíola "dos macacos"

No começo de agosto diversos macacos e saguis foram encontrados com sinais de intoxicação e de agressão em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. Vários morreram e os demais foram levados para o zoológico municipal para tratamento, conforme a jornalista Mônica Nunes contou nesta outra reportagem. A suspeita é que os animais foram atacados pela ignorância de pessoas que acreditavam que eles pudessem ser transmissores da chamada varíola “dos macacos”.

São milhares de casos no mundo inteiro da doença, que ressurgiu nos últimos meses. Esse tipo de varíola recebeu esse nome porque o vírus causador foi identificado (MPXV), nos anos 50, em macacos de laboratório. No entanto, sua transmissão acontece apenas entre humanos, quando uma pessoa entra em contato com lesões na pele, secreções ou objetos usados por alguém infectado.

Nas últimas semanas vários especialistas da área de saúde dos mais diferentes países pediram que a Organização Mundial de Saúde (OMS) renomeie a doença. A entidade internacional afirmou que está analisando a solicitação, mas até o momento nada foi anunciado.

No Brasil, a Sociedade Brasileira de Primatologia divulgou uma nota de alerta em maio, em que esclarece mais sobre a transmissão da Monkeypox, nome em inglês. “É importante ressaltar que os macacos (primatas não-humanos) não são os “vilões”, e sim vítimas como nós (humanos), e não devem sofrer nenhuma retaliação, tais como agressões, mortes, afugentamento, ou quaisquer tipos de maus-tratos por parte da população”, diz um trecho do texto.

Numa carta aberta à OMS, dezenas de cientistas das mais renomadas instituições e centros de pesquisa globais pedem a mudança urgente da nomenclatura da doença não apenas para proteger os macacos, mas para evitar ainda mais discriminação e estigma contra a África. Entre os que assinam o documento está o brasileiro Tulio Oliveira, um dos maiores especialistas do mundo em surtos virais.

Oliveira esteve envolvido não apenas em uma, mas duas das descobertas mais importantes sobre o SARS-CoV-2, vírus causador da covid-19. Ele também faz parte da equipe que identificou a variante beta. Em 2021, ele apareceu na lista da Nature daqueles que fizeram a diferença na ciência em 2021 e também, entre as 100 pessoas mais influentes do mundo eleitas pela revista TIME.

Na carta enviada à OMS, os pesquisadores também explicam, novamente, que a infecção é causada normalmente por “eventos de transbordamento” para humanos de animais como roedores, esquilos e primatas.

Após mencionar a questão da transmissão, os cientistas demonstram a grande preocupação como a mídia e a população em geral tem tratado a varíola dos “macacos”.

“A percepção predominante na mídia internacional e na literatura científica é que o MPXV é endêmico em pessoas em alguns países africanos. No entanto, está bem estabelecido que quase todos os surtos de MPXV na África antes do surto de 2022 foram resultado de transmissão de animais para humanos e raramente houve relatos de transmissões sustentadas de humano para humano”, diz a carta. “No contexto do atual surto global, a referência contínua e a nomenclatura deste vírus como sendo africano não é apenas imprecisa, mas também discriminatória e estigmatizante. A manifestação mais óbvia disso é o uso de fotos de pacientes africanos para retratar as lesões da varíola na grande mídia do norte global. Recentemente, a Associação de Imprensa Estrangeira da África emitiu um comunicado pedindo à mídia global que parasse de usar imagens de africanos para destacar o surto na Europa”.

Os especialistas destacam ainda que embora a origem do novo surto global de MPXV ainda seja desconhecida, há evidências crescentes de que o cenário mais provável é que houve uma transmissão humana entre continentes, ou seja, entre pessoas infectadas que viajaram internacionalmente.

“No entanto, há uma narrativa crescente na mídia e entre muitos cientistas que estão tentando vincular o atual surto global à África ou à África Ocidental ou à Nigéria. Além disso, o uso de rótulos geográficos para cepas de MPXV, especificamente, referências ao surto de 2022 como pertencentes ao clado, cepa ou genótipo “África Ocidental” ou “África Ocidental”. Acreditamos, portanto, que uma nomenclatura neutra, não discriminatória e não estigmatizante será mais apropriada para a comunidade global de saúde”, ressaltam os cientistas.

Fotos de abertura: Rogan Ward for Nature (Tulio de Oliveira) e NIAID/Creative Commons/Flickr (vírus)

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