A arte da conquista: três animais que dominam os corações
de suas parceiras
Spoiler: a segunda espécie que mais causa acidentes ofídicos no Brasil está na lista dos namorados do mundo animal
Publicado em: 11/06/2022
Como você impressiona a pessoa amada? Diferente do que muitos pensam, na fauna não são apenas os valentões que obtêm a estima das fêmeas. Aliás, em muitas espécies este método nem cola. Dependendo do animal, apenas os que utilizam técnicas mais poéticas alcançam tal façanha.
CASCAVEL
Se engana quem pensa que entre os peçonhentos somente há disputas violentas. Os machos da espécie Crotalus durissus, popularmente conhecida como cascavel, são adeptos da técnica de conquista com mais gingado e destreza.
Durante o período de reprodução, as fêmeas sexualmente prontas liberam feromônios para atrair os machos. O primeiro que chega fica ao lado dela. No entanto, outros machos também são atraídos. Quando o segundo se aproxima, os dois começam uma disputa pela fêmea.
Este conflito é um ritual de pré-acasalamento, intitulado “dança combate”. Nesta dança, os passos são diferentes e um macho tenta derrubar o outro. O campeão da competição torna-se o alfa e conquista o direito de copular com a fêmea. No entanto, a disputa pode acontecer várias vezes e durante alguns dias, até que o perdedor desista. Caso apareça um novo “competidor”, a dança recomeça até o alfa firmar a sua posição. Tal empenho, resulta em, aproximadamente, 15 filhotes por ninhada – a quantia varia de acordo com o tamanho da mãe.
O Museu Biológico, que é uma das atrações do Parque da Ciência, possui a espécie em exposição. Inclusive, o recinto das cascavéis foi projetado para que os visitantes, durante o mês de abril, possam possam assistir a este embate.
Características físicas: medem entre 1,5 e 2 metros; sua coloração é marrom escuro, o que favorece a camuflagem; a marca registrada é o chocalho, cientificamente chamado de guizo, na ponta da cauda.
Alimentação: basicamente roedores.
Curiosidades: o guizo é formado pela pele de troca seca – diferente do que muitos pensam, a quantidade de “anéis” não tem a ver com a idade do animal e, sim, com as trocas de pele. É a segunda espécie que mais causa acidentes ofídicos no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.
ARAPONGA-DA-AMAZÔNIA
No caraoquê das florestas úmidas, a ave Procnias Albus, que leva o nome popular de araponga-da-amazônia, é a campeã! Um artigo publicado na revista científica Current Biology aponta que o canto deste pássaro tem o alcance de 125 decibéis (dB). Ou seja, é mais alto do que uma britadeira (110 dB) ou o som de uma turbina de avião (120 dB). Este vocal potente também é usado para impressionar uma possível parceira. De acordo com o estudo, a vocalização extremamente alta da araponga-da-amazônia, que almeja cativar o coração da fêmea, pode ter efeito contrário ao desejado. Elas, na verdade, acabam por recuar durante ou um pouco antes do canto – possivelmente para evitar danos auditivos.
Além do canto, outra característica marcante do pássaro é a presença de um apêndice, ligado ao seu bico. Esta “extensão” pode ser chamada de carúncula ou barbela. Sua função biológica e ecológica ainda não foi compreendida, mas especula-se que também está ligada ao charme de conquista. Isso porque quando a fêmea está próxima, geralmente no mesmo galho, a carúncula fica totalmente esticada, e, em outros momentos, fica retraída. Outro argumento é o de que os machos jovens possuem a barbela menos desenvolvida, um indício de imaturidade sexual.
Espécie: Procnias albus, ave da ordem Passeriformes, da família Cotingidae e do gênero Procnias.
Onde habita: florestas úmidas, em regiões serranas; no Brasil, a ave é encontrada no Pará e em Roraima. Também é nativa de outros países da América do Sul, como Guiana, Guiana Francesa e Venezuela.
Características físicas: mede entre 27 e 29 centímetros; as fêmeas têm o dorso verde oliva e ventre amarelo com listras; os machos têm aparência inconfundível, por ser uma das poucas aves terrestres com plumagem totalmente branca e possuir um “apêndice” no bico.
Alimentação: frutas.
ARANHA-PAVÃO
A aranha-pavão (Maratus volans) é mais uma que faz parte do time de pé de valsas. Enquanto as fêmeas são de coloração marrom escuro, os machos exibem desenhos e cores exuberantes na parte superior de seus corpos, justamente como forma de atrativo. Durante o acasalamento, ele eleva seu abdômen e o expande, como um pavão – daí a origem do nome da espécie. Assim, demonstra tonalidade e forma. Além disso, ergue um terceiro par de pernas para captar a atenção da fêmea com mais facilidade.
Em posição, começa o ritual. As pernas são abanadas no ar, enquanto o restante do corpo vibra em uma dança lateral. Os “passinhos” podem durar de quatro até 50 minutos. Neste rito, a fêmea emite movimentos que indicam se ela está interessada. Um possível desinteresse pode ser fatal para o macho, porque esta é uma das espécies de aracnídeos que pratica o canibalismo sexual. Não é à toa o empenho do macho para conquistar sua garota.
Espécie: Maratus Volans, aranha da ordem Araneae, da família Salticidae e do gênero Maratus.
Onde habita: em regiões da Austrália, geralmente em vegetações rasteiras.
Características físicas: medem entre 4 a 5 milímetros; a fêmea possui coloração marrom escuro, enquanto o macho é detentor de cores vibrantes e extremamente atrativas.
Alimentação: pequenos insetos e moscas.
Curiosidades: são excelentes caçadores; inclusive, a cor mais escura das fêmeas facilita a camuflagem durante a busca por alimento. A fêmea pode predar o macho caso não queira acasalar.
*Este texto foi produzido com o apoio do diretor do Museu Biológico do Butantan, Giuseppe Puorto; do diretor do Laboratório de Coleções Zoológicas do Butantan, Antonio Brescovit; e do ornitólogo e pesquisador associado ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia Ramiro Dário Melinski.
*O créditos das fotos da cascavel é de Giuseppe Puorto e o das fotos da araponga-da-amazônia é de Ramiro Dário Melinski
Espécie: Crotalus Durissus, serpente peçonhenta da família Viperidae e da subfamília CrotalinaeI.
Onde habita: áreas abertas, quentes e secas; no Brasil, habita nos biomas cerrado e caatinga.
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