Teia de aranha: uma superengenhoca da natureza que é
multifuncional e resistente como aço
A estrutura pode servir para abrigo, alimentação e até
como cafofo do amor. Em alguns casos, duram uma única noite e chegam a formar
uma espécie de lençol gigante
Publicado em: 14/04/2023
Responda rápido: o que curativos cirúrgicos, tecidos usados
na fabricação de paraquedas e sensores eletrônicos supermodernos têm em comum?
Teias de aranha! Isso mesmo: apesar de funções completamente diferentes, todos
esses itens buscaram algum tipo de inspiração nas teias – seja por sua
arquitetura ou por sua característica elástica, pegajosa e resistente.
“As teias são feitas de uma seda composta por proteínas. Na
maioria dos casos, a estrutura é usada para a captura de presas, como os
insetos, que servem de alimento para as aranhas. Além disso, são refúgios de
proteção e reprodução do animal”, explica o pesquisador científico do
Laboratório de Coleções Zoológicas do Butantan Antonio Brescovit.
Como crocheteiras: as aranhas utilizam as pernas dianteiras e traseiras para tecer suas teias e capturar presas, garantindo a alimentação
Isso a Marvel não mostra!
A produção da seda que dá origem às teias acontece nas
chamadas “fiandeiras” das aranhas. O órgão possui bolsas internas onde é
fabricado um tipo de líquido que “endurece” em contato com o ar. A substância é
expelida por microtubinhos conhecidos como fúsulas, capazes de fabricar fios de
seda grossos ou finos, ou até mais ou menos pegajosos.
Bem diferente do super-herói dos quadrinhos e das telonas,
que solta suas teias pelo pulso, as fiandeiras estão localizadas na região
posterior do abdômen da aranha. Ou seja, o órgão está muito mais próximo ao
bumbum do animal do que de suas “mãozinhas”. Por outro lado, não chega a ser
improvável o fato de o Homem-Aranha usar a teia para se pendurar por entre os
prédios, uma vez que um fio de teia é mais forte do que um cabo de aço com as mesmas
dimensões. Já a trama frouxa de proteínas que o compõem confere a elasticidade
incrível.
Apesar de todas as espécies de aranha produzirem seda,
apenas a minoria tece teias. Até hoje, diferentes formas da estrutura já foram
descobertas, como triangulares, emaranhadas (que lembram algodão-doce),
tubulares e orbiculares (circulares), sendo que cada espécie de aranha “monta”
um determinado tipo de teia. Os cientistas acreditam que ainda há muitos outros
padrões a serem encontrados.
A chamada aranha-de-teia-dourada recebeu esse nome uma vez que a sua teia ganha tons amarelados por conta dos raios solares
As superteias orbiculares
Com uma trama circular, a chamada teia orbicular é uma das
mais comuns. Você não só viu muitas delas por aí, como provavelmente pensa
nesse tipo quando o assunto surge. Apesar da arquitetura complexa, muitas das
aranhas que tecem teias orbiculares montam a estrutura ao anoitecer e a
desmontam antes do amanhecer, em um processo que se repete diariamente. “Elas
comem a própria teia, uma vez que a construção demanda um grande gasto de
energia por parte do animal”, revela Antonio Brescovit.
É o caso da aranha-do-cerrado (Parawixia bistriata),
que curiosamente produz teias orbiculares enormes. Como elas vivem em sociedade
até atingirem a maturidade, durante a noite elas saem todas juntas para tecer
suas armadilhas. Por ficarem bem próximas umas das outras, as estruturas acabam
se unindo e lembram um enorme lençol - mesmo assim, a teia é “engolida” pelas
pequenas aranhas antes do amanhecer. Na região amazônica também são encontradas
versões gigantescas, onde vivem milhares de indivíduos de oito pernas. “São
teias construídas por aranhas do gênero Anelosimus e que
alcançam o tamanho de casas! Dá até para passear lá dentro”, brinca o
pesquisador.
Fácil de identificar: nas teias, as aranhas maiores
costumam ser as fêmeas; as menores são os machos
Morando sozinha
Há, também, aquelas espécies que deixam o seu cafofinho já
montado, ampliando e fazendo pequenos reparos quando algum estrago acontece,
como a aranha-de-teia-dourada (Trichonephila clavipes). Sazonais,
costumam chamar a atenção por suas grandes teias, que aparecem no início do ano
e desaparecem até julho. Há inúmeras delas entre os galhos, arbustos, plantas e
até postes de luz do Parque da Ciência Butantan. Mas fique tranquilo, a maioria
das aranhas de teia não são peçonhentas, sendo inofensivas aos seres humanos.
À primeira vista, a teia parece ser morada de apenas uma
aranha fêmea antissocial. Mas com atenção, é possível observar a presença de um
outro indivíduo bem menor: é o macho, que aguarda pacientemente o momento ideal
para copular com a dona do espaço. Para eles, um movimento precipitado pode ser
letal, pois quando não estão prontas para reprodução, as fêmeas matam os machos
cheios de amor para dar. Quem olhar bem, também vai se surpreender com a
presença das aranhas cleptoparasitas, uma espécie de invasora de teias alheias,
que rouba os alimentos da verdadeira dona do pedaço. “Elas levam uma vida
mansa, aproveitando a estrutura já construída e se alimentando de sobras.”
Reportagem: Natasha Pinelli
Fotos: José Felipe Batista/Comunicação Butantan
Arte: Daniel das Neves/Comunicação Butantan
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