A moral do Brasil
Olavo de Carvalho
Diario do Comercio
17 de dezembro de 2013
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Se não atentamos para
os discursos, mas para as escolhas reais que as pessoas fa zem na vida,
não é preciso observar muito para notar que os indivíduos que nos
governam, bem como os seus porta-vozes na mídia e nas universidades, não
passam do terceiro estágio, o mais baixo da moralidade convencional, em
que a identidade, a coesão e a solidariedade interna do grupo
prevalecem sobre a ordem social, as leis, os direitos dos adversários e
quaisquer valores universais que se possa conceber (e que desde esse
nível de consciência são mesmo inconcebíveis, embora nada impeça que sua
linguagem seja macaqueada como camuflagem dos desejos do grupo).
Duas condutas típicas
atestam-no acima de qualquer dúvida possível. De um lado, a mobilização
instantânea e geral em favor dos condenados do Mensalão. O instinto de
autodefesa grupal predominou aí de maneira tão ostensiva e tão pública
sobre as exigências da lei e da ordem, que até pessoas identificadas
ideologicamente ao partido governante se sentiram escandalizadas diante
dessa conduta.
De outro lado, não
havendo nenhum movimento político "de direita" que se oponha ao grupo
dominante, este dirige seus ataques contra meros indivíduos e movimentos
de opinião sem a menor expressão política, fingindo e depois até
sentindo ver neles uma ameaça eleitoral ou o perigo de um golpe de
Estado. Aí o instinto de autodefesa grupal assume as dimensões de uma
fantasia persecutória que se traduz na necessidade de calar por todos os
meios qualquer voz divergente, por mais débil e apolítica que seja.
Também não é preciso
nenhum estudo especial para mostrar que essa conduta, normal na
adolescência, quando a solidariedade do grupo é uma etapa indispensável
na consolidação da identidade pessoal, não é de maneira alguma aceitável
em cidadãos adultos investidos de prestígio, autoridade e poder de
mando. Aí ela passa a caracterizar precisamente a associação mafiosa, a
solidariedade no crime.
É evidente que, numa
sociedade onde essa é a mentalidade do grupo dominante, os níveis
superiores de consciência moral (pós-convencionais) se tornam cada vez
mais abstratos e inapreensíveis, de modo que o máximo de moralidade que
se concebe é o quarto grau, o apego à lei e à ordem. Os indivíduos cuja
conduta evidencia essa motivação tornam-se então emblemas do que de mais
alto e sublime uma sociedade moralmente degradada pode imaginar, e são
quase beatificados. O ministro Joaquim Barbosa é o exemplo típico.
Os dois graus
superiores da escala são exemplificados por um número tão reduzido de
pessoas, que já não têm nenhuma presença ou ação na sociedade e passam a
existir apenas em versão caricatural, como fornecedores de chavões para
legitimar e embelezar as condutas mais baixas.
A autopreservação
paranooica do grupo dominante envolve-se com frequência na linguagem dos
"direitos humanos” (quinto grau), e qualquer imbecil que tenha lido a
Bíblia já sai usando a Palavra de Deus (sexto grau) como porrete para
atemorizar os estranhos e impor a hegemonia do grupo "fiel" sobre os
"infiéis" e "hereges".
Isso, e nada mais que isso, é a moralidade nacional.
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