Antes circunscritos a determinadas áreas, em períodos específicos, os casos de falta de água se espalharam pela cidade de São Paulo nos últimos dias, atingindo todas as regiões da capital por intervalos que variam entre algumas horas a vários dias.
Relatos feitos por leitores à Folha e colhidos nas ruas indicam uma piora generalizada do quadro.
Nas últimas 24 horas, a reportagem identificou ao menos 30 pontos de desabastecimento em 24 bairros.
As descrições contrastam com o discurso oficial da gestão Geraldo Alckmin (PSDB), que nega racionamento.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Na semana passada, a presidente da companhia, Dilma Pena, estimou em "1% a 2%" o percentual dos paulistanos atingidos pelo problema –além dos habitantes de regiões altas, mencionou quem não possui caixa d'água.
A situação é mais complicada para consumidores com esse perfil, mas a Folha constatou que o problema não se resume a eles.
A crise trouxe de volta à cena os caminhões-pipa, alguns deles distribuídos pela própria Sabesp.
"Mas ele passa rápido. Quem não corre fica sem", disse Gilson Costa Trindade, 45, morador da Vila São Pedro (zona sul), onde há falta de água desde domingo (12).
Baldes, galões e tonéis viraram objetos comuns na casa de paulistanos, que passaram a estocar água para tarefas domésticas.
"Comecei a armazenar para tomar banho e jogar na privada. Também vou começar a estocar para beber", afirma a dona de casa Sueli Pereira, 60, na Vila Nova Cachoeirinha (zona norte). Ela possui caixa de 1.000 litros, mas o reservatório não deu conta.
De acordo com ela, inicialmente o desabastecimento começava no fim da noite e terminava de manhã. Agora, começa no fim da tarde.
Em prédios e condomínios, o uso de piscinas está sendo limitado e até proibido.
Cartões postais da cidade, como parque Ibirapuera e avenida Paulista, também foram atingidos pela escassez.
O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) vai acionar o Ministério Público para obrigar a Sabesp a dar mais informações sobre a redução de pressão no fornecimento –principal hipótese para explicar as interrupções.
A empresa diz que a prática não visa racionar água, mas sim diminuir perdas com vazamentos –embora tenha causado uma "economia fabulosa", nas palavras de um diretor da companhia.
Para o Idec, a atuação da Sabesp é ilegal, pois o Código de Defesa do Consumidor diz que serviços essenciais devem ser prestados de forma contínua.
A Sabesp tem afirmado que não houve aumento de queixas. A maioria dos moradores entrevistados pela Folha diz que não reclama por acreditar que a queixa formal não daria resultado.
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