quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Novo estudo liga desmatamento da Amazônia a seca no país


  30/10/2014 14h12


Cientista sugere desmate zero e reflorestamento contra escassez hídrica.
Em 40 anos, Amazônia perdeu área equivalente a duas Alemanhas.

Eduardo Carvalho Do G1, em São Paulo
Imagem de 14 de outubro deste ano mostra árvore solitária em área devastada pelo desmatamento ilegal na área de floresta amazônica no estado do Pará (Foto: Raphael Alves/AFP)Imagem de 14 de outubro deste ano mostra árvore solitária em área devastada pelo desmatamento ilegal na floresta amazônica no estado do Pará (Foto: Raphael Alves/AFP)
Vale este: chuva em xeque (Foto: G1)
O pesquisador Antônio Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST), braço do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) analisou mais de 200 artigos científicos sobre a Amazônia e sua relação com o clima e as chuvas no Brasil, e concluiu que o desmatamento dessa região influencia a falta de água sentida nas regiões mais populosas do país, incluindo o Sudeste.



A diminuição da quantidade de árvores no bioma impede o fluxo de umidade entre o Norte e o Sul do país, aponta o estudo divulgado nesta quinta-feira (30).
O relatório “O Futuro Climático da Amazônia”, encomendado pela Articulação Regional Amazônia, rede composta por várias associações sul-americanas, tenta explicar as possíveis causas e efeitos da bagunça climática recente e apresenta soluções que minimizariam os impactos negativos dessas alterações.



De acordo com o pesquisador, a falta de precipitação, sentida principalmente no Sudeste, em especial no estado de São Paulo, seria consequência indireta do desflorestamento amazônico. Desde o início da década de 1970 até 2013, a exploração madeireira e o desmatamento gradual retiraram do bioma 762.979 km² de floresta, área equivalente a duas Alemanhas. Os dados referem-se ao desmate total (chamado de corte raso).



A retirada da cobertura vegetal interrompe o fluxo de umidade do solo para a atmosfera. Desta forma, os “rios voadores”, nome dado a grandes nuvens de umidade, responsáveis pelas chuvas, que são transportadas pelos ventos desde a Amazônia até o Centro-Oeste, Sul e Sudeste brasileiros, não “seguem viagem”, causando a escassez hídrica.



“A estação seca está se estendendo por maior tempo nas regiões mais desmatadas e as nuvens de chuva dos rios aéreos não estão chegando, a partir da floresta ainda existente, em áreas que anteriormente chegavam. Esse efeito tem conexão direta com o desmatamento”, disse Nobre ao G1. "As regiões mais desmatadas são a saída dos rios aéreos da Amazônia para o resto da América do Sul Meridional", complementou.



Segundo a investigação, por dia, a Amazônia libera na atmosfera 20 trilhões de litros de água transpirada. Nobre compara a força das árvores aos gêiseres, nascentes termais que lançam periodicamente jatos de água quente para o alto. Essa transpiração, segundo o estudo, torna ainda mais valiosa a floresta (além da sua vasta biodiversidade).



Nível de água de reservatório do Sistema Cantareira atinge índice mais baixo da história (Foto: Reprodução TV Globo)Nível de água de reservatório do Sistema Cantareira atinge índice mais baixo da história. Redução
ocorreu pela falta de chuvas no Sudeste
(Foto: Reprodução TV Globo)
 
 
 
Tendência de mais desmatamento
Uma das soluções apresentadas pela pesquisa para evitar a descontinuidade no fluxo de umidade, e, desta forma, reduzir o agravamento da seca no Brasil, é zerar o desmatamento na Amazônia. No entanto, isso parece longe de acontecer.



Levantamento apresentado este mês pela organização Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) apontou aumento de 191% no desmate da floresta em agosto e setembro de 2014, em relação ao mesmo bimestre de 2013.



Apesar de o dado ser paralelo ao divulgado pelo governo, que usa os sistemas Deter e Prodes, as informações mais atualizadas do próprio Deter, referentes a junho e julho, apontaram aumento de 195% na perda de vegetação na comparação desses períodos entre 2014 e 2013.



Outro ponto alarmante é que o Brasil não assinou na Cúpula do Clima, realizada pelas Nações Unidas em setembro, um acordo criado para reduzir pela metade a perda de florestas até 2020 e zerá-la até 2030.



A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, disse na ocasião que o país não foi “convidado a se engajar no processo de preparação” da declaração. Em vez disso, segundo ela, o país recebeu uma cópia do texto da ONU, que pediu para aprová-lo sem a permissão de sugerir qualquer alteração.



O Itamaraty acrescentou que o documento não é da ONU, mas dos países que o assinaram, e que o texto necessitava de melhorias, por isso o Brasil optou por não assinar.



Nobre acredita que o governo brasileiro, ao não assinar a declaração das florestas, desconhecia os termos presentes no atual relatório e tem “a esperança de que tais argumentos serão absorvidos pelos negociadores".



No trabalho, ele cita outras soluções para reverter a situação de crise na Amazônia e suas consequências drásticas: popularizar os fatos científicos que explicam a importância do bioma para o clima; reduzir as queimadas que atingem a região; recuperar as áreas desmatadas com replantio de novas florestas; e contar com "esforços de guerra" do governo e da sociedade para financiar ações de preservação e conter o avanço da degradação.




“O diagnóstico é muito sério, as ameaças são reais e as soluções ainda estão ao alcance para reverter este quadro”, finaliza o pesquisador.



Nenhum comentário: