"Faz de novo, Levy!"
Com Blog Felipe Moura Brasil - Veja
Dilma Rousseff deu um puxão de orelha em Joaquim Levy, conforme previsto, depois que o ministro da Fazenda a chamou de ineficiente.
Aloysio Mercadante, a ineficiência em pessoa, foi quem telefonou para
Levy para mostrar a irritação da presidente com o comentário, segundo o Estadão.
Levy “vai se desgastando a cada dia”, disse ainda um cacique do PMDB à Folha.
Um senador da Comissão de Assuntos Econômicos, onde Levy falará na terça-feira sobre seu pacote, também acrescentou:
“Ou surpreende ou vai perder”.
A única forma de Levy surpreender seria apresentar medidas para reduzir a insustentável máquina do governo Dilma,
cujos 39 ministérios custam mais de R$ 400 bilhões por ano e empregam
113.869 apadrinhados, sendo 23 mil comissionados somente no Executivo
contra 4 mil nos EUA, 400 na Alemanha e 300 no Reuno Unido.
Só os salários consomem R$ 214 bilhões – quase quatro vezes o ajuste
fiscal que a presidente quer fazer às custas da sociedade, como apontou a
IstoÉ.
Dilma, claro, daria um novo puxão de orelha em Levy se ele sugerisse
cortar esses gastos ou insistisse em chamá-la de ineficiente.
O ideal é que o ministro faça as duas coisas como quem pede para sair, e
saia dizendo que Dilma não suporta a verdade, não aceita críticas e só
admite cortar na carne dos outros.
Só assim para perder ganhando neste desgoverno. Faz de novo, Levy!
Levy será usado como “boi de piranha” pela esquerda. Ou: A lição grega
Com Blog Rodrigo Constantino - Veja
Joaquim Levy deveria ter aceitado o ministério da Fazenda, mesmo sabendo
da enorme dificuldade que teria ao tentar impor um pouco de bom senso a
um governo esclerosado e ideológico? Há controvérsias.
De um lado,
alguns o enxergam como um corajoso patriota disposto a engolir muitos
sapos em prol do país, ou seja, quase um herói. Do outro lado, há quem o
veja como alguém extremamente vaidoso, tendo cedido por ser esta sua
grande chance de ocupar o tão sonhado cargo.
Talvez a verdade esteja em algum lugar entre os dois extremos. Não resta
dúvida de que Levy tem tentado pisar em ovos sem quebrá-los, atuando
quase como um malabarista para não ofender demais seu antecessor e a
gestão da presidente no mandato anterior. Com esse pragmatismo, foi
capaz de convencer os analistas da Standard & Poor’s de que o país
está no rumo das mudanças necessárias, e com isso evitar a perda do grau
de investimento. O Brasil ganhou tempo para respirar, aliviado.
Mas excesso de pragmatismo pode ser prostituição. O mais pragmático dos
seres é aquele desprovido de princípios, de valores, dos quais (os que não são prostitutos) não aceitam
se desfazer. Um pragmático radical pode muito bem fazer um pacto com o
diabo, pesando apenas custos e benefícios sem levar em conta outras
características na equação. Acho curioso que o termo pragmático tenha
conquistado ares de extrema sabedoria, quando o termo maquiavélico,
quase um sinônimo, seja algo completamente negativo.
Ou talvez devêssemos discutir o horizonte do pragmatismo. Pode ser
pragmático evitar o pior hoje, se a alternativa for uma catástrofe. Mas
também pode ser pragmático vislumbrar que o “pacto com o diabo” custará
ainda mais depois, e que encarar um sofrimento maior no presente pode
muito bem ser nossa salvação. Não é aderir ao “quanto pior, melhor”, mas
compreender que no longo prazo esse pragmatismo míope poderá trazer uma
desgraça ainda maior.
Por falta de tato político e jogo de cintura, o tecnocrata Levy já criou
confusão com a presidente Dilma ao menos em quatro ocasiões, como
lembra Ricardo Noblat em sua coluna de hoje. Noblat acha que Levy e
Dilma são parecidos nesse aspecto, mas lembra que é Dilma quem detém o
poder:
O
que Dilma e Levy têm em comum? Falta-lhes jeito para manipular cristais
sem destruir nenhum. Com uma diferença: a presidente da República é
Dilma, eleita e reeleita pelo voto popular. Levy nunca foi votado. É
ministro porque Dilma quer. Deixará de ser quando quiser ou quando ela
quiser. A conjuntura obriga Levy a fazer política. E essa está longe de
ser a praia dele. Daí as mancadas.
No
presidencialismo brasileiro, por mais fraco que esteja o presidente,
ninguém manda mais do que ele. A não ser que ele abdique de mandar.
Getúlio Vargas matou-se. Mas, com seu gesto, permaneceu influente por
mais de uma década. João Goulart fugiu para o exterior com medo de
provocar derramamento de sangue. À Dilma não falta a coragem dos
temerários. Ela já deu provas disso.
Dilma pode ser refém de Levy em boa medida, por ter escolhido um
ministro que não pode demitir, ao menos não sem causar um grande
rebuliço nos mercados e afetar ainda mais uma economia combalida. Mas
quem disse que governantes nunca tomaram o caminho da insensatez antes?
Ora, ainda mais Dilma, ela mesma a prova viva de que é possível insistir
no erro de forma asinina apesar de todos os sinais de alerta dos
equívocos.
O que me traz ao ponto central do texto: a batata de Levy já começa a
assar por sua falta de habilidade política, e também porque a esquerda,
inclusive o próprio PT, adoraria ver sua cabeça numa bandeja como o
responsável pelos problemas na economia. O ministro teve de“costurar” um
discurso para senadores justificando sua fala “infeliz” (sincera) para
alunos de Chicago, na qual disse que Dilma é “bem intencionada, mas nem
sempre age da forma mais eficiente”.
O óbvio ululante, dito até de maneira bem sutil e elegante, mas que não
pode ser dito, ponto. É a situação criada pelo pragmatismo exacerbado do
ministro: pertence a um governo que sabe ser
incompetente, mas que não pode dizê-lo em voz alta. E precisa mudar
radicalmente os rumos da gestão econômica, convencer os investidores e
analistas de que fará isso, mas sem evidenciar que isso deve ser feito
porque os rumos anteriores eram péssimos. Haja malabarismo!
Por ser um “médico” entre “loucos”, Levy precisa simular um pouco de
loucura também, para não ofender a sensibilidade de seus colegas. Mas
têm ao menos dois problemas nisso: 1. ele fica com uma margem de manobra
bastante reduzida para impor as mudanças que gostaria; 2. os “loucos”
sempre poderão apontar o dedo para o “médico” como o culpado pelas
sequelas de suas loucuras.
Mercadante, o braço-direito de Dilma, já cobrou de Levy explicações.
Sabemos como Mercadante, alinhado ideologicamente a Guido Mantega (e
também Dilma), adoraria poder culpar o “neoliberalismo” e a “ortodoxia”
pelos males produzidos pelo desenvolvimentismo que defende. É justamente
aqui que mora o maior perigo: nossa esquerda vai dar um jeito de
imputar ao “neoliberalismo” a responsabilidade por suas trapalhadas.
Levy sequer tem agido como um legítimo liberal. Afinal, liberal algum
aceitaria aumentar os impostos num país como o Brasil. Seu ajuste
fiscal, ainda que necessário, vai pelo caminho mais fácil politicamente,
subindo impostos em vez de cortar na carne os gastos públicos. Ele
tenta curar com bandaid uma hemorragia. E dá a oportunidade à esquerda
de depois condenar o… bandaid!
Podemos pensar no caso grego como parâmetro. A Grécia não seguiu
as receitas liberais em momento algum. Sua crise foi causada pelo
excesso de governo, pelas mordomias estatais, pela farra do crédito
fácil estimulada pelo próprio governo. Mas como muitos pensaram que os
liberais ortodoxos tinham imposto uma agenda de reformas, quando ficou
claro que o buraco era mais embaixo deram um jeito de culpar o
liberalismo.
Vários repetem por aí que a Grécia faliu por culpa do mercado e que as
reformas ortodoxas “fracassaram”, sendo que nunca foram colocadas em
prática. O resultado: um partido de extrema-esquerda assumiu o poder. Ou
seja, não é impossível imaginarmos um cenário em que o “liberalismo”
(Levy) é culpado pelo insucesso das mudanças, e que o PSOL é visto como a
melhor alternativa.
Então você está dizendo, Constantino, que Levy deveria simplesmente
parar de tentar mudar e deixar o barco afundar de vez sob o comando do
PT? Não sei se seria o melhor. Ninguém sabe. Mas é meu dever trazer ao
leitor esse ponto de vista, mostrar que Levy pode muito bem servir
apenas como um “boi de piranha” a ser sacrificado para que os
desenvolvimentistas consigam atravessar o rio. Não podemos descartar
essa hipótese de forma alguma.
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