Em artigo
publicado na Revista Época ("O manifesto da virtude não contabilizada"),
Guilherme Fiuza analisa o ridículo manifesto produzido pelos petistas,
que se apresentam como vítimas. Desavergonhadamente, dizem eles que são
atacados por suas "virtudes":
O Brasil
estava à deriva, até que veio o encontro nacional do PT em São Paulo. Os
presidentes dos 27 diretórios reuniram-se em torno do oráculo, e aí
tudo ficou claro como a pele da elite branca. É sempre assim: por mais
tenebrosa que seja a tempestade lá fora, quando o PT se junta em torno
de Lula da Silva, tudo fica belo e luminoso. Ficamos sabendo que a crise
é pura inveja que os ricos têm do povo. E saiu um novo manifesto
-atenção, Brasil! - no qual o partido do mensalão e do petrolão ensina
aos brasileiros o que é virtude.
É claro
que o manifesto do PT não trata da estagnação econômica, nem da previsão
de recessão apontada pelo Boletim Focus do Banco Central. Eles estão no
Palácio há 12 anos, mas não têm nada com isso. O documento também não
trata da mais recente façanha do partido - a inscrição de seu tesoureiro
como réu no processo da Lava Jato. Isso é o tipo de coisa que só
interessa à imprensa burguesa. E é justamente a imprensa o que preocupa
os companheiros em seu mundo dourado. O manifesto propõe um projeto de
lei para controlar a mídia (novidade!) - no exato momento em que a
presidente dá posse ao novo ministro da Secretaria de Comunicação
exaltando a... liberdade de expressão.
Dilma
falou que sabe quanto a imprensa livre é importante, porque ela é uma
pessoa que viveu sob uma ditadura. Atualmente, no Brasil, praticamente
só Dilma viveu sob uma ditadura. Todos aprendemos a acompanhar,
contritos, o sofrimento diuturno de Dilma Rousseff em sua resistência
implacável aos militares. Quando começamos a achar que a batalha está
concluída, o Palácio do Planalto solta mais um release sobre "Os anos de
chumbo", e lá vamos nós sofrer mais um pouco ao lado de nossa heroína.
Não há nada mais urgente hoje no Brasil do que apoiar Dilma contra o
regime militar. Ela há de nos libertar desse inimigo morto e enterrado
há 30 anos.
Enquanto a
presidente luta heroicamente pela liberdade de expressão, que só ela
sabe quanto é valiosa, seu partido costura docemente a mordaça. O PT já
tentou colocar rédeas na mídia até através de um pacote de direitos
humanos. Agora, o tal manifesto propõe uma nova regulamentação do
direito de resposta.
Os companheiros só vão sossegar quando a
comunicação de massa no país alcançar o padrão de uma assembleia do
partido. Chega de perseguição a guerreiros do povo brasileiro como João
Vaccari. A cada denúncia publicada sobre as peripécias do tesoureiro na
arrecadação de fundos para a revolução progressista, a mídia há de ter
que abrir espaço para a resposta do guerreiro. E ele terá o sagrado
direito de declarar, como seu antecessor Delúbio no mensalão, que há uma
conspiração da direita contra o governo popular.
O
manifesto divulgado pelo PT no dia 30 de março explica que o partido
está sendo "atacado por suas virtudes". Não esclarece se entre essas
virtudes está a formidável capacidade de captação de recursos junto às
empresas investigadas na Lava Jato. Ou a invejável capacidade de
escolher e cultivar os diretores certos para a Petrobras, sem os quais
uma legião de parasitas e picaretas morreria de fome. Talvez por
humildade exacerbada, o manifesto do PT não cita entre suas virtudes a
façanha de ter jogado a maior empresa brasileira na lona, rebaixando-a
ao grau de investimento especulativo. Tamanho virtuosismo realmente só
poderia gerar inveja e perseguição.
"A
campanha de agora é uma ofensiva de cerco e aniquilamento", diagnostica o
manifesto. "Para isso, vale tudo. Inclusive criminalizar o PT." Eis o
escândalo: estão criminalizando o PT. Será que não percebem que todos os
crimes pelos quais os petistas têm sido indiciados, julgados e
condenados são crimes decorrentes das suas virtudes? Será possível que
essa elite golpista não aprendeu a distinguir o crime mau do crime bom?
Na
reunião de cúpula, o assessor da Presidência, Marco Aurélio Garcia,
esclareceu: "Ganhamos a eleição com uma narrativa que a presidente
assumiu de forma corajosa". No dia seguinte, no Senado, o ministro da
Fazenda tentava salvar a pele do governo com uma narrativa oposta a essa
que a presidente assumiu corajosamente. Talvez seja por isso que as
multidões voltaram às ruas: entenderam enfim que estão sendo governadas
há 12 anos por uma narrativa.
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