sexta-feira, 22 de maio de 2015

Ao rejeitar o embaixador Patriota, Senado fez um papel muito sujo


o embaixador Guilherme Patriota, irmão do ex-chanceler Antonio Patriota
Guilherme Patriota foi recusado por motivos fúteis


Carlos Newton
Não havia justificativa para que um embaixador de carreira, indicado pelo Planalto, fosse recusado no Senado. A explicação que se deu nos bastidores é ridícula. Presume-se que a intenção dos senadores teria sido de simplesmente mandar um recado de insatisfação à presidente Dilma Rousseff. Se realmente o objetivo era este, havia muitas outras maneiras de fazê-lo, sem desmoralizar o Itamaraty e sem atingir a honorabilidade do diplomata Guilherme Patriota.


Seu nome teria sido rejeitado não somente por ser irmão de Antonio Patriota, ex-chanceler de Dilma, mas sobretudo porque foi braço direito de Marco Aurélio Garcia na Assessoria para Assuntos Internacionais da Presidência entre 2010 e 2013. São motivos torpes, não há atos desabonadores.


Mas na sabatina da Comissão de Relações Exteriores, na última quinta-feira, Patriota ouviu críticas a Garcia e se sentiu obrigado a defendê-lo. “Tenho por ele [Garcia] o maior respeito e carinho. É um homem brilhante”, disse o diplomata, antes de ser aprovado por 7 votos a 6.


FACHIN, FACÍLIMO
No plenário, terça-feira, enquanto Patriota era rejeitado, o nome de Luiz Edson Fachin foi aceito com ampla maioria, apesar de existirem provas concretas de sua ligação com o PT e o governo, sem falar no assumido desrespeito à Constituição do Paraná, por trabalhar como advogado quando exercia a função de procurador do Estado. Havia vários motivos para rejeitar Fachin, era só escolher um deles.


Quanto a Guilherme Patriota, acabou sendo recusado por ser sincero e ter defendido um amigo, circunstância que demonstra se tratar de um homem de caráter.


UM CASO ANTERIOR
A imprensa, apressadamente, proclamou que esta foi a primeira vez que um embaixador foi rejeitado pelo Senado. Não é verdade. Em 1961, o presidente Jânio Quadros submeteu o nome do empresário pernambucano José Ermírio de Moraes para embaixador, mas o Senado recusou. Ermírio ficou furioso e resolveu ser senador. Candidatou-se pelo PTB, foi eleito e fez carreira também na política.


Quando estava no leito de morte, chamou os filhos José e Antônio e fez com que prometessem jamais entrar na política. Anos depois, Antonio Ermirio descumpriu a promessa, candidatou-se a governador de São Paulo, foi derrotado e desistiu de ser político.


DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS
O episódio de terça-feira, no plenário do Senado, exibe o baixo nível da política brasileira, em que o interesse nacional pode ser facilmente suplantado pela predominância do fisiologismo, do servilismo, do corporativismo e até do bairrismo. Ao rejeitar Patriota e aprovar Fachin, os senadores demonstraram que operam com dois pesos e duas medidas, como se dizia antigamente.


O mais curioso é que Renan Calheiros foi contra a indicação de Fachin e agora será julgado por ele, que será ministro-relator do processo a ser aberto no Supremo contra o presidente do Congresso Nacional. Se é que vai haver processo…

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