segunda-feira, 25 de maio de 2015

Complexo do Chapadão, a nova fortaleza do tráfico no Rio... "pacificado" por Lula, Dilma, Cabral


Hudson Corrêa e Raphael Gomide - Epoca

O bairro na Zona Norte abriga criminosos que fugiram das áreas pacificadas no Rio de Janeiro. Hoje, partem de lá as ordens para ataques às favelas com UPPs





Policiais no Chapadão, no Rio de Janeiro (Foto: Márcia Foletto/Agência Globo)


Até cinco anos atrás, Costa Barros era um bairro pobre como outros tantos da Zona Norte do Rio de Janeiro. Os moradores das casas simples e das favelas da região levavam a vida difícil das periferias, espremendo-se em ônibus lotados para cruzar a cidade e chegar ao trabalho. Mas caminhavam altivos. Não trombavam com traficantes nem se viam encurralados por  tiroteios. Hoje, os quase 30 mil moradores do complexo andam pelas ruas de cabeça baixa, desviando o olhar de traficantes que carregam pistolas e fuzis, alguns trajando coletes à prova de balas. Nas esquinas, jovens armados vigiam a movimentação de estranhos. As ruas têm barricadas montadas com pneus e galhos. A qualquer ameaça de invasão ou operação policial, elas viram fogueiras. Tiroteios são frequentes e, quando alguém é ferido, é difícil saber de onde veio a bala. O Complexo do Chapadão – nome do conjunto de favelas do bairro – é o novo forte do narcotráfico no Rio.

O Chapadão começou a mudar depois da ocupação do Complexo do Alemão, em novembro de 2010. Acuados pelas forças de segurança no Alemão e em outras favelas, bandidos ligados a uma organização criminosa se refugiaram no Chapadão, mais distante e fora do radar da polícia na época. Foi lá que os bandidos se reorganizaram. É de lá que saem para atacar outros pontos da cidade, sejam áreas pacificadas ou sob o domínio de facções rivais. O Comando da Polícia Militar compara a área ao que era o Alemão até a ocupação: uma fortaleza controlada por traficantes com armas pesadas, onde a polícia não entra.
>> Tráfico adota pistola de rajada nas favelas cariocas

Do Chapadão vieram as ordens para os ataques que assustaram o Rio neste mês. Uma das vítimas foi o alpinista Ulisses da Costa Cancela, de 36 anos. Ele voltava para casa no sábado à noite, dia 9, quando entrou por engano na Vila do Sapê, favela em Duque de Caxias bem próxima ao Chapadão e para onde os traficantes já ampliaram seu domínio. Ao perceber o engano, tentou voltar. Mas os bandidos atacaram. O carro de Ulisses levou mais de 20 tiros. Atingido na cabeça, Ulisses morreu horas depois.

Na véspera, cerca de 50 homens armados invadiram um dos morros de Santa Teresa, bairro boêmio e turístico no centro do Rio. Investigações da polícia indicam que veio do Chapadão a ordem para o ataque ao Morro da Coroa, de onde se avista a prefeitura do Rio. Ali, desde fevereiro de 2011, funciona uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Nessa região, morreram mais 12 pessoas na disputa pelo tráfico. Cinco delas, segundo a polícia, tinham envolvimento com o crime. Entre os que não tinham está o rapper Diego Luniere, de 22 anos, voluntário em projetos sociais na favela.

Na manhã do dia 15, moradores encontraram no alto do Morro de São Carlos, numa área de mata, os corpos de dois mototaxistas que não teriam ligação com o tráfico. Acusando a polícia de matar inocentes, um grupo de manifestantes desceu a favela e ateou fogo em dois ônibus. Pelo menos 60 passageiros saíram às pressas, antes de o incêndio começar. Ninguém se feriu. A região conflagrada fica próxima à prefeitura, ao Hospital da Polícia Militar e a uma estação do metrô. As chamas atingiram a rede de energia elétrica e ameaçaram lojas comerciais. Alguns manifestantes atiraram pedras em carros da PM, que revidou com bombas de gás lacrimogêneo. A polícia investiga as mortes no morro e também se bandidos armados incitaram os ataques.

A Secretaria de Segurança Pública acredita que os traficantes Ricardo de Castro Lima, o Fu da Mineira, e Cláudio Fontarigo, o Claudinho, tramaram as ações em Santa Teresa. Eles começaram a traficar na região nos anos 1990. Condenados por homicídios, os dois passaram mais de oito anos na cadeia. Autorizados pela Justiça a sair do presídio federal de Porto Velho, em Rondônia, para visitar a família em agosto de 2013, não voltaram. Com o Alemão ocupado, a dupla se refugiou no Chapadão. Fu da Mineira acumula sentenças que somam 89 anos de prisão. Claudinho está condenado a 54 anos. Eles estão entre os bandidos mais perigosos do Rio. 

O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, já anunciou a implantação de UPPs no Chapadão, mas não disse quando. Oficiais da PM preveem dificuldades para tomar o território, recortado por dezenas de ruelas e becos. Entocados na região, os traficantes provocaram o aumento da violência na vizinha Baixada Fluminense. Em 2010, quando o Alemão ainda era a fortaleza do tráfico, os homicídios na Baixada representavam 30% do total no Estado do Rio. Em 2014, passaram para 40% do total. Nas áreas com UPPs, houve redução de 65,5% nos homicídios entre 2008 e 2014, segundo o Instituto de Segurança Pública.

Em fevereiro, uma equipe de ÉPOCA foi rendida por bandidos em uma rua do Chapadão. Encostado no poste de uma esquina, um soldado do tráfico vigiava a entrada do morro empunhando uma pistola. Ele ameaçou atirar. O repórter e o motorista saíram do carro com as mãos levantadas. Quatro bandidos chegaram ao local em dois veículos. “Se for polícia, vocês vão subir”, avisou um deles. Dois traficantes revistaram o veículo, enquanto outro apontava a arma. Depois de 20 minutos, o chefe da quadrilha pediu desculpas, como se a abordagem fosse natural: “É que a polícia vem aqui direto”, explicou. “Não roubamos nada de vocês. Nosso negócio é boca de fumo. Se derem falta de algo, podem voltar para reclamar”, disse um traficante ao liberar a equipe.

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