O título acima, creio, enfoca bem o impacto político produzido pelas fortíssimas críticas feitas pelo ex-presidente Lula à presidente Dilma Rousseff durante encontro com religiosos, quinta-feira passada, na sede do Instituto que leva o seu nome. As críticas estão registradas literalmente na extraordinária reportagem de Tatiana Farah e Juliana Granjeia, na edição de hoje, sábado de O Globo. A matéria é tão importante que o jornal a divulgou com exclusividade. Isso significa dizer que não a colocou em seu site as primeiras horas da madrugada, quando ocorre o fechamento das edições e eles começam a circular.
Me lembrei do título de Hélio Silva: “A História não espera o amanhecer”. Sim. Porque a reportagem de Tatiana Farah e Juliana Granjeia possivelmente vai representar um episódio muito intenso do quadro político brasileiro.
Luiz Inácio Lula da Silva disse aos religiosos, no encontro de São Paulo, que iria abrir seu coração e acrescentou que cabe a Dilma Rousseff a responsabilidade pela crise vivida pelos petistas, enfatizando: “Dilma e eu estamos no volume morto. o PT está abaixo do volume morto”.
A comparação foi inspirada na crise hídrica que atinge principalmente o estado de São Paulo, refletindo-se no nível das represas que abastecem a cidade e a região metropolitana. Por aí se percebe a dimensão da contrariedade que gerou a revolta do antecessor e grande eleitor da atual presidente.
LULA ABALA DILMA
As afirmações de Lula abalam Dilma Rousseff, projetando-a numa faixa de alto risco político, além de pressioná-la para que ela realize mudanças substanciais na sua equipe de governo e também na política econômica que colocou em prática traçada, como se sabe, pelo Joaquim Levy.
Lula enfatizou inclusive a ocorrência de um fracasso, dizendo “aquele gabinete presidencial é uma desgraça. Não entra ninguém para dar uma notícia boa. Essa coisa se perdeu”. O ex-presidente assinalou que tem conversado com Dilma e tem dito para que ela vá em frente, ponha o pé na estrada, e não tema as vaias. “Os ministros têm de falar; mas não falam. Parece um governo de mudos”. Lula disse também que tem chamado atenção do ministro Aloizio Mercadante dizendo que ele deveria fazer mais discursos públicos. Criticou o empenho de Dilma na aprovação do ajuste fiscal. Depois do ajuste, vem o quê? Perguntou a Dilma: “Companheira você se lembra qual foi a última notícia boa que demos ao Brasil? Ela não se lembrava”.
FATOS NEGATIVOS
O ex-presidente apontou uma série da fatos negativos no governo. Primeiro, a inflação; segundo, aumento na conta da água; terceiro, aumento na conta de luz, que para alguns consumidores triplicou; quarto, aumento da gasolina, do diesel e do dólar. Neste ponto subiu o tom. O FIES que era um sistema tranquilo virou uma desgraceira sem precedentes. E o anúncio de que ia mexer nas pensões e nas aposentadorias dos trabalhadores?
Lula destacou também as promessas da candidata na recente campanha eleitoral e que não foram cumpridas no governo. Transcreveu, inclusive as palavras da presidente de que não mexeria no direito dos trabalhadores nem que a vaca tossisse. Entretanto – ressaltou – mexeu. Afirmou também que não ia fazer ajuste porque isso é coisa de “tucano”. Apesar disso fez o ajuste. Por este motivo é que os próprios tucanos estão colocando na TV afirmações de que ela mentiu.
Os destaques alinhados por Luiz Inácio Lula da Silva, evidentemente, possuem direção certa. Uma espécie de ultimato visando a que o Palácio do Planalto altere os rumos da política econômica, em particular, e do governo de modo geral. Com isso, ao deslocar a presidente da República para uma escala de risco, ele no fundo está propondo, é claro, uma reforma substancial na atuação do Executivo. Pois não teria cabimento assumir uma postura de oposição frontal, uma vez que isso prejudicaria sensivelmente seu projeto de retornar ao poder através das urnas de 2018.
NOVO ESFORÇO
Assim ao colocar de forma tão forte suas discordâncias Lula está propondo um novo esforço do Planalto para um plano de concordância e convergência. Por isso o conteúdo de sua manifestação baseia-se num objetivo de mudança, sem a qual, sob seu ponto de vista, uma atuação positiva do governo atual a ele parece, tacitamente ser impossível.
As mudanças que ele destacou de forma genérica dividir-se-ão, é claro, em pontos a serem concretizados na prática. Entre eles, a alteração ministerial e a mudança do rumo econômico e social. Portanto, a equipe chefiada por Joaquim Levy sofreu seu grande abalo político desde que assumiu o comando da economia brasileira. A equipe econômica, dessa forma, transformou-se em alvo, não só da oposição, não apenas das ruas, mas a partir de agora também do principal pilar de sustentação de Dilma Rousseff junto a opinião pública, o que significa junto à sociedade.
A presença política de Lula é extremamente importante para que o governo possa respirar. Caso contrário poderá submergir num mar das próprias contradições configuradas nos discursos da candidata e nas ações da presidente.
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