segunda-feira, 27 de julho de 2015
Artigo publicado hoje na Folha de São Paulo por Aécio Neves, presidente do PSDB, intitulada "Educadora?"
São muitos os problemas da educação brasileira. Falta de planejamento,
inadequação da grade curricular, pouca valorização dos professores,
investimento baixo em pesquisa e outros desafios se acumulam há anos,
sem solução.
Essa precariedade generalizada é fruto da mesma fonte: a incapacidade do
país de tratar a educação como política de Estado prioritária. Nada mais falacioso do que o slogan "Pátria Educadora", anunciado com
júbilo pela presidente Dilma como âncora de seu segundo mandato, e
solenemente ignorado em sua gestão. Programas como Fies, Pronatec e
Ciência sem Fronteiras sofreram uma degola radical. O Ministério da
Educação foi dos mais atingidos no arrocho fiscal em curso.
É nesse contexto de fragilidade que o país assiste, com assombro, ao
desmonte das universidades públicas brasileiras. Trata-se de uma das
piores crises vividas pelo setor em toda a sua história.
Neste ano, a verba repassada para as universidades federais foi reduzida
em 30%, provocando adiamento de obras, paralisação de cursos e atraso
no pagamento de bolsas.
Grandes universidades como a UFMG, UFRJ ou a UNB, entre outras,
enfrentam graves dificuldades. Milhares de alunos são prejudicados, mas
não apenas eles. O colapso do sistema universitário atinge também o
cidadão ao afetar o atendimento em hospitais universitários, os serviços
de atenção jurídica e uma série de programas voltados para a sociedade.
É também muito grave a situação de órgãos capazes de impactar a
modernização de nossa economia. Instituições de importância estratégica
como o CNPq e a Capes nunca estiveram tão abandonadas.
Denúncias revelam que a Capes cortou 75% da verba de custeio para apoio à
pós-graduação. É como desligar a tomada que nos dá acesso a setores de
ponta do conhecimento. Menos pesquisa, menos inovação, menor
competitividade.
A educação deficiente está na raiz de nossa baixa produtividade. Não há
como competir no mercado global a bordo dos nossos indicadores. O momento exige responsabilidade e compromisso. Não há milagre capaz de
reverter a presente situação. Bons resultados na Educação não surgem da
noite para o dia, dependem de políticas públicas consistentes e de longo
prazo.
Mas é possível, em curto prazo, fazer mais do que promover cortes orçamentários destinados a encobrir rombos fiscais provenientes de má gestão. Ao escolher um slogan que contraria na realidade, o governo dá mais uma demonstração da opção pelo marketing.
Ao golpear a universidade brasileira, a "Pátria Educadora" atinge o sonho de milhares de jovens que enxergam na formação superior uma fonte de qualificação e de ascensão social. Não é justo que façamos isso com aqueles que irão responder pelo futuro do país.
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