Conforme antecipou o Implicante (ver post anterior), o vice-presidente
está deixando a articulação política do governo Dilma e se aproximando
da oposição. Quando alguém do PMDB abandona o barco é porque a coisa
está mesmo feia. Estou quase apostando no processo de impeachment de
Dilma:
O vice-presidente Michel Temer (PMDB) está disposto a deixar o cargo
de coordenador político do governo Dilma Rousseff para se aproximar
ainda mais dos partidos de oposição à presidente. O movimento seria uma
espécie de alvará para que ele possa intensificar o diálogo iniciado nos
últimas dias com líderes do PSDB e que tem no horizonte um apoio dos
tucanos a uma eventual gestão Temer no Planalto.
A senha para a movimentação de Temer foi a manifestação pública do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), na segunda-feira
passada, defendendo a renúncia de Dilma. Entre tucanos e peemedebistas,
as posições de FHC foram interpretadas como um freio nas articulações do
senador Aécio Neves (PSDB-MG), que trabalha pela realização de novas
eleições presidenciais.
Alas tucanas alinhadas a FHC e ao senador José Serra (SP) acreditam
que não há saída para a crise sem a participação de Temer. Ao longa
desta semana, emissários do vice conversaram disseram a tucanos que
Temer está disposto a fazer um governo de “transição” caso Dilma não
termine o mandato.
Outro compromisso a ser assumido pelo vice, nesse cenário sem Dilma,
seria o de não ser candidato à reeleição. Em termos práticos, Temer
recebe apoio do PSDB para tirar Dilma e, em contrapartida, abre caminho
para uma candidatura tucana em 2018. O vice, no entanto, não abre mão de
indicar um nome do PMDB para disputar sua eventual sucessão.
A negociação encontra resistências. Aécio tem fortes restrições à
possibilidade de Dilma renunciar por avaliar que os tucanos não podem
perder o protagonismo no movimento pelo impeachment da presidente e
porque sonha em usar seu bom momento nas pesquisas de intenção de voto
para presidente numa nova eleição – ele é o primeiro colocado nas mais
recentes sondagens.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que também resiste a
qualquer tipo de afastamento da presidente porque planeja ser candidato
somente em 2018, passou a avaliar de maneira positiva a possibilidade de
um governo Temer porque, nesse arranjo, Alckmin também se manteria no
jogo até lá.
Prazo. Temer
avalia, no entanto, que pode esperar um pouco para que seu desembarque
da articulação política não seja visto como mais um fator de
instabilidade política, logo após a denúncia contra o presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado pela Procuradoria-Geral da
República de corrupção e lavagem de dinheiro.
Temer conversou com Cunha nesta sexta-feira, 21, em São Paulo. O
presidente da Câmara garantiu que não renunciará, mas avisou que passará
a defender “com vigor” o rompimento do PMDB com o governo Dilma
Rousseff. Não foi surpresa: dias antes de ser denunciado, Cunha já tinha
dito a Temer e a líderes do governo que não cairia sozinho.
Aborrecido com “olhares enviesados” de petistas, após fazer um apelo
pela reunificação nacional, e pressionado pelo PMDB, partido que
comanda, Temer não definiu a data de saída da articulação política, mas
já disse a amigos que o trabalho tem “prazo de validade”.
Oficialmente, o argumento do vice é o de que havia se comprometido a
fazer a articulação do Planalto com o Congresso até a votação das
medidas do ajuste fiscal e o último projeto, que reonera a folha de
pagamento das empresas, foi votado na quarta. Braço direito de Temer, o
ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB), também pretende sair
da articulação política do governo e se dedicar exclusivamente à sua
pasta.
Padilha está insatisfeito por considerar que vem sendo sabotado pelo
PT, mas ficou furioso após ter sido desautorizado pelo ministro da
Fazenda, Joaquim Levy, nos últimos dias. A crise ocorreu porque Padilha
havia prometido a líderes de partidos aliados liberar R$ 500 milhões
para pagamento de emendas parlamentares, mas, na última hora, Levy
entrou em cena e proibiu o desembolso.
Na quarta-feira à noite, o ministro da Comunicação Social, Edinho
Silva, procurou Temer e Padilha, na tentativa de desfazer o mal-estar.
Até agora, ninguém no governo arrisca um palpite sobre o desfecho da
crise com o PMDB.
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