Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Milton Pires
Toda história do movimento revolucionário, na sua guerra
assimétrica, é a história que "acusa" a "imoralidade do sistema
capitalista". O comunista aponta o empresário como
"perverso", diz que ele "odeia a classe trabalhadora" e que
é um "opressor".
Ainda que este tipo de discurso, clássico do século XIX, tenha atravessado o tempo com modificações, ainda que depois da década de 1960 ele tenha se tornado muitíssimo mais discreto (a ponto de transformar-se num discurso de crítica cultural na geração de 68), ele permanece vivo em qualquer apologia da esquerda latino-americana.
Ainda que este tipo de discurso, clássico do século XIX, tenha atravessado o tempo com modificações, ainda que depois da década de 1960 ele tenha se tornado muitíssimo mais discreto (a ponto de transformar-se num discurso de crítica cultural na geração de 68), ele permanece vivo em qualquer apologia da esquerda latino-americana.
Este tipo de pensamento esconde algo que não mudou na transição da velha para Nova Esquerda ocidental - o fato de que não existe, na verdade, moral alguma a ser defendida por um regime revolucionário. A moral, no modo de produção capitalista, faz parte da "superestrutura" do sistema.
"Somos o que produzimos", disse Karl Marx, e
isso é um dogma capaz de causar uma colisão frontal com uma outra espécie de
imperativo ético - "nós somos a história do nosso esforço, do nosso
sacrifício para produzir algo; jamais este algo material em si mesmo",
pois é a ação que nos faz humanos; não o resultado dela sobre a matéria. A
noção de mérito precisa, portanto, atravessar nossa passagem por esta vida
dando, ela sim, um sentido moral à mesma.
Relações econômicas no mundo ocidental e num país como o
Brasil tem por base critérios morais que, sejam eles quais forem, não podem ser
criticados como "justos" ou "injustos" por um Governo
Revolucionário. Quando um país tem sua nota de crédito rebaixada por uma
agência como a Standard & Poor's (S&P), não faz sentido algum que os
comentaristas políticos, os economistas ou presidentes de federações e
associações de empresários, esperem do Governo Petista uma reação de
preocupação à altura porque o simples conceito de "crédito" é um
conceito de natureza moral, é um juízo de valor que você faz a respeito da
palavra e do comportamento futuro de outra pessoa.
Em outros termos, técnico ou não técnico, filiado ou não à "ortodoxia revolucionária" (se é que se pode falar numa coisa dessas) Joaquim Levy não traduz o pensamento do Partido expresso na declaração do deputado José Nobre Guimarães, do PT do Ceará, que disse - "não é uma agenciazinha qualquer do fim do mundo que vai interferir na economia do Brasil".
Prezado leitor, entenda por favor o seguinte: não se trata
de "supervalorizar" o que foi dito por Guimarães, não se trata de
desmentir, de dizer que "isso é uma barbaridade", que ele "está
louco", que é "petralha" ou que (evidentemente) o
"Brasil vai pagar caríssimo por isso" ou "vocês vão ver a
BOVESPA e o preço do dólar". A ideia deste texto é tão somente mostrar que
tipo de importância, que tipo de preocupação ou status moral, o fato em si pode
gerar para o PT e eu creio ser possível afirmar sem medo algum: nenhuma!
Notas de agências de crédito e a consequência delas não
estão entre as preocupações de um governo revolucionário. "É Milton, mas
daí eles ficam sem crédito e acaba a grana. De quem eles vão tirar mais para
que possam se manter no Governo?" Resposta: "crédito" e
"moral" só podem ser "rebaixados" se você os tem ou se
acredita que eles sejam importantes para sua autoestima (seja ela como
indivíduo ou como governo) ou para o pagamento de suas contas. O que a S&P
fez foi rebaixar algo que simplesmente nunca existiu e, se o partido precisar
de mais dinheiro, vai simplesmente tirar de todos nós.
Milton Simon Pires é Médico.
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